Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.
Era Abril.
Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto de mães cansadas.
Era Abril que descia
aos tropeções
as ladeiras da cidade.
Abril
tingindo de perfume
os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.
Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.
Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um dia
um mar de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
O nosso lar passou a ser a rua
nesse mês sem sono.
Era Abrile
eu soltei o sumo
das palavras
e vi
dicionários a voar
nesse mês
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.
Era Abril
que veio
que ardeu
e que partiu.
Abril
que deixou sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.
José Fanha, em "Tempo Azul"
sábado, 5 de abril de 2008
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