quarta-feira, 23 de abril de 2008

JOSÉ GOMES FERREIRA




MAIO - ABRIL

XXXIII
(Vou terminar com o símbolo, já tão gasto, da criança: justamente aquele que joga o berlinde no canteiro diante da minha janela. Canta, canta, Poeta, a alegria falhada da tua Revolução verdadeira)



No recanto do jardim
neste dia nevoento forrado de olhos cegos,
o menino pôs-se a escavar a terra
e, de repente, parou ao sentir a mão a arder
com manchas de sol puro
enterrado pela morte dos deuses
que lá deixaram
a esperança doce
da pele dos dedos.

Ah!, deixa, deixa ardê-la bem,
a mão,
o pulso,
o braço
archote da Labareda Inocente
com que um dia criarás
um mundo diferente
com outro peso branco nas sombras, até dos assassinos.

Um mundo de fábricas de justiça delicadas
onde, em vez de folhas,
cresçam nas árvores
vento de cabelos femininos.

E em cada pedra, em cada fruto, em cada lago, em cada pétala,
em cada vulcão,
ouviremos todos bater
no centro do planeta
o teu coração com ritmo de pólen
- menino das mãos a arder.

1 comentário:

Maria disse...

Vim ler-te, vai-se tornando um hábito.
E é bom...
Obrigada por este poema do Zé Gomes, poeta militante!