Não se teve impunemente 17 anos em Maio de 1968. Eu e muitas companheiras e companheiros tínhamos a cabeça a ferver e o coração a rebentar. E o Maio de 68 foi um espanto.
Faz 40 anos agora. E ainda não consigo arrumar-me. Acordo inquieto. Não consigo deixar de ser igual aos que precisam da minha igualdade.
Fiz da poesia a minha forma de ser rebelde.
Continuo a creditar que É PRECISO SER REALISTA E EXIGIR O IMPOSSÍVEL.
Os que se lembram desse tempo sabem como no nosso peito se misturavam uma imenso desejo de partilha e solidariedade e ainda muitas canções, imagens e poemas. Vinham de França, de Inglaterra, da América, de Cuba, da Bolívia, de todo o mundo onde houvesse alguém a sofrer ou a sonhar.
Portugal era cinzento, ,militaresco, triste, medíocre, repressivo, pequenino, miserável.
Por dentro de nós, no entanto, os corpos explodiam de ansiedade e tudo era possível.
Lá longe, muito para lá de Vilar Formoso, havia o Vietname, o Che Guevara, o Make Love not War, o Brassens, o Ferré, o Brel, a Colette Magny, os Beatles e os Stones, o Living Theatre, o Paco Ibañez, o Patxi Andion, o Pi de la Serra,o Vítor Jara,o Chico Buarque, Alan Guinsberg, o Bob Dylan, o Pete Seeger, o desejo de saber mais e mais, a inquietude a rebentar por todos os cantos, a desobediência, a certeza de que as ditaduras iriam cair e que a felicidade estava ali quase á mão de semear.
Não sei se sabia então aonde queria chegar. Sei que não era a este mundo ultra-liberal corrupto e descartável que cheguei, que chegámos.
Comemorar estes 40 anos é também reavivar a sede, a inquietação, a rebeldia, com a forma que elas possam ter nos dias que correm.
Vou trazer para aqui as minhas memórias desses meus 17 anos no nosso mês de Maio de 68.
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5 comentários:
Que bom! E eu vou ser leitora atenta das tuas memórias....
Até já
Fanha,
Obrigada pela partilha, acima de tudo é uma pessoa generosa.
Vou estar sempre presente...
Beijos,
Em Maio de 68 tinha 20 anos não andava na Universidade porque o caminho que fiz teve outras escolhas mas, lembro-me bem da euforia vivida em segredo, e lembro sobretudo da revolta e impotência que sentiamos em relação ao que iamos tomando conhecimento do que acontecia aos estudantes.
Que bom que, há uns dias, vim aqui ter... (ia escrevendo - vim aqui parar - mas aqui continua-se!) Aqui segue-se com a força que essas recordações, precisamente, sabem conferir a caminhos que ainda falta percorrer!
Venham elas...
Cá estarei a beber-lhes a força e a tentar levá-las por aqui, pelos percursos que são estes meus e hão-de acompanhar tantos outros: Venham elas!
Por mim, grata fico, desde já!
Em 68 não andava na universidade,mas o medo em casa era sentido,no esconder de livros até o Pai teve de fugir,pois ele era o perseguido.
Beijos
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