quarta-feira, 2 de julho de 2008

RAUL DE CARVALHO (1920-1984)




Natural do Alvito, Alentejo, Raúl de Carvalho foi colaborador das revistas Távola Redonda e Árvore e Cadernos de Poesia, que, na década de 50, conglomeravam de forma irregular, mas activa, poetas de várias sensibilidades.

Irreverente,iconoclasta, marginal, ignorado, habitante da solidão mas carregado de humanidade, solidário com os mais pobres e desfavorecidos, Raúl de Carvalho é um poeta que vale a pena ler e reler com muita atenção.

A sua obra completa está publicada na Caminho e deveremos sempre destacar um poema longo e excepcionalmente belo intitulado "Serenidade és minha" que assim começa:



"Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os monstros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita os cabelos.
..."

1 comentário:

dona tela disse...

Sou mesmo uma alma sensível.

Muitos cumprimentos.