O CULPADO
Declaro-me culpado de não ter
feito, com estas mãos que me deram,
uma vassoura.
Porque é que não fiz uma vassoura?
Porque é que me deram mãos?
Para que é que me serviram
se só vi o rumor do cereal,
se só tive ouvidos para o vento
e não apanhei a cerda
da vassoura,
ainda verde na terra,
e não pus a secar os talos tenros
e não os pude unir
num rosto dourado
e não juntei um cabo de madeira
à saia amarela
até dar uma vassoura aos caminhos?
Assim foi:
não sei como
a vida foi-se
sem que eu aprendesse, sem ver,
sem recolher e unir
os elementos.
Não nego nesta hora
que tive tempo,
tempo,
mas não tive mãos,
e assim, como podia
aspirar com razão à grandeza
se não fui capaz
de fazer
uma vassoura,
uma só,
uma?
PABLO NERUDA
Traduçao de José Fanha
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