terça-feira, 3 de junho de 2008

ULISSES

Ulisses

Não teria Ulisses
conhecido
os versos de Machado
e no entanto
também ele
não sabia
outro caminho
que o seu próprio caminhar.

Era grego
marinheiro
e é fácil encontrá-lo
á hora da sesta
à sombra das oliveiras.

Dizem os mais
competentes
batoteiros
que um dia o sentiram
de passagem
numa taberna de Cádis.
Outros em Tunes.
Numa janela em Palermo.
Num recanto de Lisboa.

De tudo só dou por certo
que um rasto da sua sombra
fica a pairar
sobre as pedras
onde se acendem os sonhos
de todos
os caminheiros.

José Fanha, in "Elogio dos peixes, das pedras e dos simples"

3 comentários:

LeniB disse...

Tanto se tem escrito sobre Ulisses e nunca nada é de mais, como o prova e comprova este poema...
bjs

Maria disse...

A força das tuas palavras...

Beijos

Júlio Pêgo disse...

O poder da palavra, da poesia é forte e intemporal. Por isso, sempre actuais e intensos os poemas do José Fanha.
Júlio