terça-feira, 22 de julho de 2008

QUOTIDIANO

Sou eu. Sabes quem sou?
Não, não digas nada.
Sei apenas que estou
Acabrunhada.
E se inclino o rosto,
Se pareço uma pirâmide truncada
com sobrecasaca de frio,
é porque não gosto
de puxar o fio
à meada.

(Escadas escuras
subidas dia a dia.
Pernas cansadas
e solas gastas.
Harmonias acabadas
num gesto torvo.
Tremenda nostalgia
de iluminações vastas
e de calçado novo).

Pernas cansadas? Sim.
Magras? Talvez.
Aqui, onde me vês,
já fui assim
… roliça,
como bocejo na hora da preguiça…

Aqui, onde me vês,
não é a mim que me vês.
É a magricela
que sobe aquela
escada de sonhos desiguais
que me constrangem.

- E ainda para mais
os meus sapatos rangem.

Fernanda Botelho

3 comentários:

Paula Crespo disse...

Excelente poema este de Fernanda Botelho! Boa escolha...
Bjs

JOSÉ FANHA disse...

Cara amiga,
este comentário e alguns outros fazem-me sentir que esta viagem pelos poetas fora de moda é útil a alguám.

Obrigado e apareça mais.

JFanha

Jane disse...

É tão bom ir lendo poesia, assim, viajando no seu blog. É como abrir um livro numa página qualquer e deixar que as palavras nos envolvam num sentido que cada um lhes dá. É preciso não parar !!
Este é mais um poema muito bonito.