domingo, 4 de maio de 2008

MEMÓRIAS DE ALGUMA IMPRENSA

A propósito dos desmandos da imprensa, de uma certa imprensa, e do efeito por vezes devastador com que os opinantes profissionais fazem da palavra impressa uma forma de poder imoral e discricionário.

Os anos têm a vantagem de trazer alguns pequenos destroços à praia da memória. Cá vão eles, sem comentários:

O PIOR DISCO DO ANO

Em 1976, o álbum “Com as minhas tamanquinhas” de José Afonso (que incluía, por exemplo, “Os índios da meia-praia”) foi considerado por um grupo de críticos da imprensa como o pior disco do ano.

AS MELHORES VOZES DA MUSICA PORTUGUESA

Na primeira metade dos anos 80, um crítico muito na moda então, afirmava do alto da sua sabedoria que as 3 melhores vozes de sempre da música portuguesa eram Amália Rodrigues, José Afonso e António Variações.


“POR ESTE RIO ACIMA”

O hoje considerado unanimemente excepcional “Por este rio acima” de Fausto, quando veio a público recolheu por parte de alguns dos nossos mais distintos críticos musicais um ramalhete de críticas negras que o arrasaram de alto a baixo. Era giro voltar a lê-las.


COITADO DO ZECA TÃO ABUSADO PELA ESQUERDA…

Por meio dos anos 90 surgiu um curioso artigo na nossa imprensa a fazer o elogio rasgado do Zeca como músico e compositor. Só lamentava o articulista que ele se tivesse deixado usar pela esquerda, o que só ensombrecia a a qualidade da sua obra...

OS AUTORES

Lembro-me dos nomes dos autores destas pérolas, mas não estou aqui para fazer ajustes de contas pessoais.

Podia trazer também, dos anos que levo de criador e leitor de jornais, uma longa lista de críticas de teatro imbecis e ignorantes, enterros públicos de filmes e programas de televisão respeitáveis, estendais de total incoerência na análise de livros de poesia e romances.

Não se pense que sou contra a crítica. Não! O pensamento e o exercício da inteligência trazem-me sempre um júbilo especial. A critica é uma atitude nobre quando vem do amor e da paixão pelo cinema, pelo teatro, pela música… Pela vida.

Mas a opinite, que é o que inunda as mais das vezes os nossos jornais, é prima da censura. A opinite usa o lápis azul do silêncio, da opinião avulsa e bacoca, da promoção da “faca sem lâmina a que lhe falta o cabo” como dizia Alexandre O’Neill.

Era engraçado trazer mais algumas destas escriturices a lume. Muitas pérolas podiam ser recordadas. Basta pedir ao Fausto, ao Carlos Mendes, ao Tordo, ao Carlos Alberto Moniz, ao João Lourenço, ao Zé Jorge Letria e a tantos outros, para abrirem o baú dos seus recortes de jornais. Dava para rir. Um riso amargo, é claro. Mas talvez servisse de lição para muitos.

2 comentários:

samuel disse...

"Ça va de soi", como diria aquele senhor de há uns posts atrás...

Júlio Pêgo disse...

Pouco atento, confesso, fico surpreendido por ter havido críticas destrutivas que podem ou podiam arruinar a imaginação dos criativos. Dos autores citados, devemos ter o maior respeito pelo legado cultural que nos deram.Ainda bem que resistiram!
Júlio