Foi na "Visita da Cornélia", Agosto de 77, que declamei pela primeira este poema que tem sido uma ponte calorosa com tanta, tanta gente.
EU SOU PORTUGUÊS AQUI
Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.
Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.
Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.
Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar de um marinheiro.
Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso
trago as mãos sujas do sangue
que empapa a terra que piso.
Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
no gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.
Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.
Nasci
aqui
ao pé do mar
de uma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.
Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.
domingo, 21 de outubro de 2007
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
A VISITA DA CORNÉLIA
Em 1977, está agora a fazer 30 anos, eu tinha 26 anos e participei num concurso de televisão muito, muito popular. Chamava-se “A Visita da Cornélia”.
O concurso tinha sido inventado pelo Zé Fialho Gouveia e pelo Raul Solnado. E era tão popular que até tinha uma revista todas as semanas, a “Vacavisão”.
Cada concorrente tinha um par. O meu par era a minha amiga Alice Brito.
Cada par tinha de cumprir 10 provas. Algumas eram provas criativas como dança, teatro, quadra, texto sob um tema, canção. Essas provas eram pontuadas por um júri que era formado pelo Raul Calado, a Maria João Seixas, o Luís de Sttau Monteiro, a Maria Leonor e o Paulo Renato.
Havia outras provas que não eram criativas e não tinham de ser pontuadas pelo júri: como deitar bonecos a baixo com bolas de pano, responder a perguntas sobre um romance que era obrigatório ler com antecedência, descobrir diferenças entre dois desenhos aparentemente iguais, etc.
O concorrente mais bem pontuado ia para um podium e ali ficava semana após semana até que outros concorressem tivessem maior pontuação e os tirassem de lá. Fiquei 13 semanas no podium. Por isso toda a gente na rua me conhecia e vinha falar comigo. Eu era uma vedeta. Mas ser vedeta tem vantagens e desvantagens. Um dia destes conto o resto.
O concurso tinha sido inventado pelo Zé Fialho Gouveia e pelo Raul Solnado. E era tão popular que até tinha uma revista todas as semanas, a “Vacavisão”.
Cada concorrente tinha um par. O meu par era a minha amiga Alice Brito.
Cada par tinha de cumprir 10 provas. Algumas eram provas criativas como dança, teatro, quadra, texto sob um tema, canção. Essas provas eram pontuadas por um júri que era formado pelo Raul Calado, a Maria João Seixas, o Luís de Sttau Monteiro, a Maria Leonor e o Paulo Renato.
Havia outras provas que não eram criativas e não tinham de ser pontuadas pelo júri: como deitar bonecos a baixo com bolas de pano, responder a perguntas sobre um romance que era obrigatório ler com antecedência, descobrir diferenças entre dois desenhos aparentemente iguais, etc.
O concorrente mais bem pontuado ia para um podium e ali ficava semana após semana até que outros concorressem tivessem maior pontuação e os tirassem de lá. Fiquei 13 semanas no podium. Por isso toda a gente na rua me conhecia e vinha falar comigo. Eu era uma vedeta. Mas ser vedeta tem vantagens e desvantagens. Um dia destes conto o resto.
PROENÇA-A-NOVA
Portugal é um país de grandes contrastes. Se ao abrir uma porta ainda podemos encontrar gente a viver no séc. XIX, na porta do lado podemos já respirar o ar dos séculos que estão para vir.
É o que acontece em Proença-a-Nova com o Centro de Ciência Viva da Floresta. Um edfício encantador com museu interactivo de ciência da floresta, uma equipa apaixonada pelo trabalho que faz, uma Câmara orgulhosa de poder oferecer à sua população, e não só, um equipamento tão como este.
É o que acontece em Proença-a-Nova com o Centro de Ciência Viva da Floresta. Um edfício encantador com museu interactivo de ciência da floresta, uma equipa apaixonada pelo trabalho que faz, uma Câmara orgulhosa de poder oferecer à sua população, e não só, um equipamento tão como este.
No meio, um auditório mesmo bom para contar histórias que foi o que eu lá fui fazer. A meninos e a pais. As histórias casam bem com a natureza, com os seus habitantes, com as suas forças vitais, com aqueles que querem aprender a respeitá-las
Foi bom.
Trouxe de lá alguns dos belos marcadores de livros ali editados com o perfil das folhas das principais árvores existentes em Portugal. Estão aqui em baixo. São um mimo.
EÇA AGORA
Depois de "OS NOVOS MISTÉRIOS DE SINTRA" e de "O CÓDIGO d'AVINTES, os sete voltam a atacar. Desta vez...
Tudo começa no Alegrete, palacete meio arruinado em que vive Afonso da Maia, avô de Carlos da Maia, jovem médico que se vai apaixonar por Maria Hermengarda, fugindo dos ataques sensuais da Condessa de Varinho e deixando de lado a espampanante Lara Marlene, filha do riquíssimo Silvestre do Ó Saraiva, construtor civil que fez a sua larga fortuna por métodos muito pouco recomendáveis.À volta de Carlos movimentam-se João da Régua, o novíssimo rico damário malcede, Honório Borralho, o eterno futuro-ministro, Palma Cavalito, director da "Trombeta do Demónio", e muitas outras personagens mais ou menos descendentes dos seus antecedentes nos famosos “Maias” que se movimentam efervescentemente numa crónica de costumes ao gosto deste tempo prodigioso do replay e do fast food.No meio da confusão é o próprio Eça de Queiroz que, por via do seu fantasma, vem tentar pôr alguma ordem entre personagens e autores.
Tudo começa no Alegrete, palacete meio arruinado em que vive Afonso da Maia, avô de Carlos da Maia, jovem médico que se vai apaixonar por Maria Hermengarda, fugindo dos ataques sensuais da Condessa de Varinho e deixando de lado a espampanante Lara Marlene, filha do riquíssimo Silvestre do Ó Saraiva, construtor civil que fez a sua larga fortuna por métodos muito pouco recomendáveis.À volta de Carlos movimentam-se João da Régua, o novíssimo rico damário malcede, Honório Borralho, o eterno futuro-ministro, Palma Cavalito, director da "Trombeta do Demónio", e muitas outras personagens mais ou menos descendentes dos seus antecedentes nos famosos “Maias” que se movimentam efervescentemente numa crónica de costumes ao gosto deste tempo prodigioso do replay e do fast food.No meio da confusão é o próprio Eça de Queiroz que, por via do seu fantasma, vem tentar pôr alguma ordem entre personagens e autores.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
SWEENY TODD
Estreou-se ontem e é um espectáculo excepcional.
Participei fazendo a versão para português.
Foi dos trabalhos mais difíceis que já fiz mas valeu a pena porque é sempre bom trabalhar com o João Lourenço e a Vera San Payo Lemos e com eles tenho a certeza de que o rigor e a exigência proporcionam grandes espectáculos de Teatro.
Participei fazendo a versão para português.
Foi dos trabalhos mais difíceis que já fiz mas valeu a pena porque é sempre bom trabalhar com o João Lourenço e a Vera San Payo Lemos e com eles tenho a certeza de que o rigor e a exigência proporcionam grandes espectáculos de Teatro.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
ZULAIDA E O POETA
Livro acabadinho de sair. E bonito graças às ilustrações da Inês Maçano
Duas histórias de amor e uma de Natal.
- A Histórias dan Rainha das sombras que um dia viu desaparecer a sua própria sombra.
- A história de Zulaida que foi salva da clausura pelo amor de um poeta e pela força do seu canto.
- A história de Benjamim o passarinheiro, que acreditava em coisas impossíveis.
Também eu acredito em coisas impossíveis. Já tinha idade para ter juízo, dirão. Mas as palavras não me deixam descolar-me deste lado de cá da vida onde vivem as histórias.
Duas histórias de amor e uma de Natal.
- A Histórias dan Rainha das sombras que um dia viu desaparecer a sua própria sombra.
- A história de Zulaida que foi salva da clausura pelo amor de um poeta e pela força do seu canto.
- A história de Benjamim o passarinheiro, que acreditava em coisas impossíveis.
Também eu acredito em coisas impossíveis. Já tinha idade para ter juízo, dirão. Mas as palavras não me deixam descolar-me deste lado de cá da vida onde vivem as histórias.
domingo, 7 de outubro de 2007
CARTAS AO MEU FILHO (1)
Meu querido filho,
Estou há tempos para te escrever mas a vida, sabes como é, inventa mil tropeços e os dias vão passando e, de repente, vou para te sentar ao colo e dar-te a sopa quente quando me apercebo de que tu até já tens barba e és um homem.
Digamos que estou numa daquelas idades em que se tem a presunção de saber meia dúzia de coisas bem sabidas. No entanto, aqui entre nós, quantas vezes já vi surgir uma rajada de vento que nos derruba as certezas e, no lugar delas, deixa um monte de dúvidas e perguntas.
É neste fazer e desfazer que a vida tem tanto de terrível como de maravilhoso, tal e qual o grande mar que lá numa funda oficina de algas e espuma vai construindo os seus fantásticos universos de calcário.
Já devo estar a armar-me em poeta. Pelo menos é o que eu penso que tu pensas. E, além disso, eu vinha para te falar de outra coisa.
Vinha para te falar do momento forte e largo em que nasceste.
Era domingo. Eu sabia que estava para acontecer um tremor de terra na minha vida. Mas não lhe adivinhava a força nem o quanto ele ia rasgar-me e acrescentar-me.
Eu tinha 20 e tal anos e era eterno. Melhor dizendo, eu sabia que todos nós envelhecemos e morremos. Mas nessa altura era eterno. Já tinha sentido o bafo da morte nos meus braços onde a minha linda avó deitara a cabeça, cansada de respirar. Mas apesar de tudo era longe dos meus ossos jovens que a morte passara. A velhice ficava a uma distância muito grande e eu era definitivamente eterno.
Era domingo, portanto, quando tu chegaste. Eras um corpinho vermelho em cima de panos verdes, o maior acordo e desacordo que já vi em toda a minha vida.
Eras um grito de mundo a rebentar, um grito chegado do mais fundo do sangue e da Terra, o grito vermelho e verde da tremenda violência que é começar a respirar.
E eu chorei e chorei, como só um homem pode chorar quando lhe nasce um filho. E nem tinha mãos que te agarrassem. E nem palavras porque não as há quando tudo é um vulcão que desata a explodir pela primeira vez e o universo começa a inchar e a correr em todas as direcções.
Fiquei pequenino, vaca e burro de Presépio a olhar para ti. Recolhi-te na côncava do coração e lá ficaste para sempre, enquanto as estações corriam e correm mudando o lugar dos dentes e fazendo nascer uma e outra e outra vez a flor irrepetível.
Agora, de repente, já tens barba e um incêndio de ideias a romper nos olhos e queres ser um homem inteiro, um artista, uma ave, um cidadão de pé nos braços da dignidade, e amas uma menina, uma mulher como tu, e eu digo Boa Viagem e parece que foi ontem o dia em que chegaste e eu perdi para sempre a eternidade.
Estou há tempos para te escrever mas a vida, sabes como é, inventa mil tropeços e os dias vão passando e, de repente, vou para te sentar ao colo e dar-te a sopa quente quando me apercebo de que tu até já tens barba e és um homem.
Digamos que estou numa daquelas idades em que se tem a presunção de saber meia dúzia de coisas bem sabidas. No entanto, aqui entre nós, quantas vezes já vi surgir uma rajada de vento que nos derruba as certezas e, no lugar delas, deixa um monte de dúvidas e perguntas.
É neste fazer e desfazer que a vida tem tanto de terrível como de maravilhoso, tal e qual o grande mar que lá numa funda oficina de algas e espuma vai construindo os seus fantásticos universos de calcário.
Já devo estar a armar-me em poeta. Pelo menos é o que eu penso que tu pensas. E, além disso, eu vinha para te falar de outra coisa.
Vinha para te falar do momento forte e largo em que nasceste.
Era domingo. Eu sabia que estava para acontecer um tremor de terra na minha vida. Mas não lhe adivinhava a força nem o quanto ele ia rasgar-me e acrescentar-me.
Eu tinha 20 e tal anos e era eterno. Melhor dizendo, eu sabia que todos nós envelhecemos e morremos. Mas nessa altura era eterno. Já tinha sentido o bafo da morte nos meus braços onde a minha linda avó deitara a cabeça, cansada de respirar. Mas apesar de tudo era longe dos meus ossos jovens que a morte passara. A velhice ficava a uma distância muito grande e eu era definitivamente eterno.
Era domingo, portanto, quando tu chegaste. Eras um corpinho vermelho em cima de panos verdes, o maior acordo e desacordo que já vi em toda a minha vida.
Eras um grito de mundo a rebentar, um grito chegado do mais fundo do sangue e da Terra, o grito vermelho e verde da tremenda violência que é começar a respirar.
E eu chorei e chorei, como só um homem pode chorar quando lhe nasce um filho. E nem tinha mãos que te agarrassem. E nem palavras porque não as há quando tudo é um vulcão que desata a explodir pela primeira vez e o universo começa a inchar e a correr em todas as direcções.
Fiquei pequenino, vaca e burro de Presépio a olhar para ti. Recolhi-te na côncava do coração e lá ficaste para sempre, enquanto as estações corriam e correm mudando o lugar dos dentes e fazendo nascer uma e outra e outra vez a flor irrepetível.
Agora, de repente, já tens barba e um incêndio de ideias a romper nos olhos e queres ser um homem inteiro, um artista, uma ave, um cidadão de pé nos braços da dignidade, e amas uma menina, uma mulher como tu, e eu digo Boa Viagem e parece que foi ontem o dia em que chegaste e eu perdi para sempre a eternidade.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
29 ANOS DE DIFERENÇA E SEMPRE A POESIA
Mão amiga enviou-me estas duas imagens. E foi a mesma mão que as tirou às duas com 29 anos de diferença. Ambas no Porto. No meio, dores e tristezas, alegrias, pequenos naufrágios, grandes sonhos, os amigos, os afectos, a vida. E a poesia. Sempre.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
CANTIGAS & CANTIGOS
CANTIGA FELINA
Eu sou uma gata gatona gatinha
pequena ladina
feroz e feliz e felina.
Eu sou uma gata que come fanecas e figos
Feijão e favona e favinha
e….
comigo ninguém faz farinha!
Eu sou uma gata gatona gatinha
facira furtiva
fadista fiel e festiva.
Eu sou uma gata que foge da fúria do fogo
fanhosa felpuda fininha
e…
comigo ninguém faz farinha!
Eu sou uma gata gatona gatinha
uma bela figura
que fala que funga e que fura.
Eu sou uma gata que veste um fatinho forrado
com fita fivela e fitinha.
comigo ninguém faz farinha!
Eu sou uma gata gatona gatinha
pequena ladina
feroz e feliz e felina.
Eu sou uma gata que come fanecas e figos
Feijão e favona e favinha
e….
comigo ninguém faz farinha!
Eu sou uma gata gatona gatinha
facira furtiva
fadista fiel e festiva.
Eu sou uma gata que foge da fúria do fogo
fanhosa felpuda fininha
e…
comigo ninguém faz farinha!
Eu sou uma gata gatona gatinha
uma bela figura
que fala que funga e que fura.
Eu sou uma gata que veste um fatinho forrado
com fita fivela e fitinha.
comigo ninguém faz farinha!
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