sábado, 31 de julho de 2010

ANTÓNIO FEIO: UMA GARGALHADA PELA VIDA



ZARABADIM foi o primeiro programa que escrevi para RTP. 1985, julgo eu. O texto a meias com a Dulce, com quem na altura partilhava a vida, alguns sonhos e um filho que continuamos a compartilhar.

A música era do Carlos Alberto Moniz, os figurinos do Mário Alberto, os cenários creio que do Fernando Filipe. Actores: José Wallenstein, Ângela Pinto, Francisco Pestana, São José Lapa, Filipe Ferrer e... António Feio, o palhaço que iluminava o fundo do chapéu de um mágico, onde se paasava a acção, com o seu grande sorriso.



Mais tarde, o António e o Zé Pedro Gomes chamaram-me para escrever aquele que foi o texto da primeira "CONVERSA DA TRETA".

Trocámos o último abraço há poucas semanas. Com um sorriso. O António era assim: levava tudo à frente dele na ponta de um sorriso ou de uma gargalhada. E assumiu a doença desassombradamente num grito de amor à vida que nos fica como rara lição.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

PALAVRAS ANDARILHAS 2010



Só quem já esteve nas "Andarilhas" de Beja pode falar do encanto, da intensidade, da magia deste encontro único onde se reunem centenas de pessoas em torno da arte de contar histórias.

Aqui vem ter gente de todo o mundo, homens e mulheres que, apenas pelo encanto da sua voz e das palavras, levam-nos a sítios que nunca tínhamos conhecido.

Estavam em risco, as "Andarilhas" deste ano. Mas, se a economia pode ter crises, a imaginação, a fantasia, a criatividade, essas nunca têm. Por isso a Cristina Taquelim e a sua gente esgatanharam-se e conseguiram pôr de pé mais uma edição de "Palavras Andarilhas".

Darei mais notícias à medida que souber.

terça-feira, 27 de julho de 2010

SERENIDADE ÉS MINHA



A propóito do Alvito e do poeta Raúl de Carvalho, vale a pena lembrar um dos mais belkos (e longos) poemas do nosso século XX de que aqui transcrevo uma parte.


RAUL DE CARVALHO (1920-1984)


SERENIDADE ÉS MINHA


Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura
dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os monstros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita
os cabelos.

Vem, serenidade,
com o país veloz e virginal das ondas,
com o martírio leve dos amantes sem Deus,
com o cheiro sensual das pernas no cinema,
com o vinho e as uvas e o frémito das virgens,
com o macio ventre das mulheres violadas,
com os filhos que os pais amaldiçoam,
com as lanternas postas à beira dos abismos,
e os segredos e os ninhos e o feno
e as procissões sem padre, sem anjos e, contudo,
com Deus molhando os olhos
e as esperanças dos pobres.

(..................................................................)

Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.

E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.

E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome,
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros,
na chaminé do sangue.

Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
Um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retrácteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.

Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.

Vem, com teu frio de esquecimento,
com tua alucinante e alucinada mão,
e põe, no religioso ofício do poema,
a alegria, a fé, os milagres, a luz!

Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é demais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.

Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente,
Serenidade, és minha.

domingo, 25 de julho de 2010

NA TERRA DOS "BONS DIAS"



O Alvito é uma das terras do meu encanto.

O branco do casario, o castelo transformado em pousada, a planície, como um mar amarelo e verde a perder de vista.

Amo a quietude, a pedra do calor de Julho e Agosto, o cante que se solta das tabernas ao fim do dia.

Sinto-me irmão dos vestígios mouros e godos, do fortíssimo renascimento presente na Matriz e em dezenas de portais de pedra nas casinhas da Vila.

Esta é, também o sei, a terra de um belíssimo poeta que é bom relembrar sempre, Raul de Carvalho, nascido em 1920 e falecido em 84. O Adriano Correia de Oliveira cantava o seu poema



Aqui vieram procurar sossego e algum retiro grandes amigos meus. O Alípio de Freitas, o Xico Fanhais, o Camilo Mortágua. Gosto mutio de os visitar e pegar-me à conversa com eles para lhes ouvir as histórias da vida.

Mas é gente inquieta. Às vezes estão, outras não. O Xico anda por aí a cantar, O Alípio foi ao Paraguai e à Bolívia para ver ao vivo as voltas que as novas democracias estão a dar por lá. O camilo anda sempre metido em projectos e sonhos. O AP Braga, cantor de baladas nos anos 60, aparece por aí ao fim de semana.



Uma das coisas que adoro no Alvito (e julgo que é hábito de todas as pequenas terras alentejanas) é o hábito das pessoas, por mais que passem umas pelas outras, dizerem quantas vezes for preciso: bom dia, boa tarde, boa noite.

Ao primeiro bom dia fico alapardado, espantado, confrontado com a solidão urbana, que ainda trago aos ombros, de não ver os seres humanos à minha volta e não lhes falar.

Mas rapidamente me integro na respiração da terra e reencontro o prazer de dizer bom dia, boa tarde, boa noite.

Bom dia, Alvito.

Bom dia a todos, vizinhos do planeta terra.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

COISAS DE POETA



Há algumas semanas dei comigo a fazer horas. A ter horas para fazer. Ou melhor, a ter horas para não fazer nada. E mergulhei no espaço maravilhoso e raro da minha infância que é o Jardim da Estrela.

Andei por ali, meio vagabundo, a deixar que o verde me entrasse pelos olhos, a gozar o esplendor das ávores e arbustos, das flores, da relva e das sombras, da brisa e dos risos das crianças. E foi muito bom porque é sempre bom mergulhar nos jardins da cidade e porque é tão raro fazê-lo nesta vida ofegante que levo e muitos de nós levamos.

Era o princípio de uma tarde sábadado daquelas que fazem de Lisboa uma cidade mágica. Há muito que não gozava de um momento de tão tranquila entrega.

A dado momento parei encantado frente a um arbusto grande carregado de umas flores de que ainda não consegui saber o nome. São brancas e grandes, com um palmo de comprimento e a forma de sinos alongados.

Parecia uma chuva de flores... Pensei que lhes podia chamar "campainhas do céu".

Parado à frente daquelas flores começavam as palavras a bailar-me na cabeça à procura de formar esse comboiinho por vezes inquieto e revolto, por vezes doce e amável, a que se chama poema.

De tão distraído, nem reparei numa menina de 8/9 anos que arrancava uma daquelas belíssimas flores. Reparei depois na jovem avó que me sorria pouco à vontadde como quem pedisse desculpa do rapinanço da neta.

Eu sorri à menina de dentro do meu devaneio e disse-lhe que levava na mão uma campainha do céu. A menina atirou a flor pelo ar e comentou desinteressada: "Isto é mas é um espanador!"

Fui andando a pensar que a poesia não é tão fácil de abraçar cmo eu gostava. E a lembrar-me daquela magnífica frase do Maio de 68: "Cuidado: Os ouvidos têm paredes!"

terça-feira, 20 de julho de 2010

MÁRIO QUINTANA



Mário Quintana, poeta brasileiro, nascido em Alegrete, 1906, e falecido em Porto Alegre, 1994, foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro, deixou uma vasta obra de textos, pensamentos e poesia, pelo conjunto da qual recebeu em 1980 o prêmio Machado de Assis da academia Brasileira de Letras.


O AUTO-RETRATO

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A CRIAÇÃO



"E EIS QUE,

TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA,

OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DA CRIAÇÃO."


Mário Quintana

sábado, 17 de julho de 2010

A BONDADE, A INTELIGÊNCIA, O CONHECIMENTO

Um amigo meu teve a notícia feliz do nascimento do segundo neto. E foi assim que lhe deu as boas vindas dirigindo-se a ele e ao irmão:

"Queremos todos que sejam felizes, conheçam a vidaas dificuldades da mesma, e que saibam que studar custa , mas que é fantástico saber, é fantástico conhecer.

Queremos todos que saibam que a vida, esta vida, é a relação e a combinação do eu e do tu e que ninguém é capaz de tudo mesmo que a fama e o dinheiro julguem conquistar este mundo e o outro.

Queremos todos que os nossos netos saibam ser humildes nas vitórias e solidários nas derrotas e que saibam que aqueles que julgam ser o centro do mundo não têm nem a consciência do transitório, nem a percepção do efémero.

Queremos todos que entendam que têm de contar com as circunstâncias e a sorte e que a liberdade individual consiste, em regra, na limitação do poder do destino.

Queremos também que percebam, que percebam sempre, que inteligência e bondade se confundem. Sempre se confundiram e sempre se confundirão Qualquer que seja o percurso da vida profissional que se exerça.

Queremos, enfim, que interiorizem, que nunca se esqueçam que, ao contrário do que se escreveu, há difertença, há verdadeira diferença entre a Gioconda e uma garrafa de Coca-Cola. mesmo que só esta última seja patrocinadora de um Mundial de futebol!"

O meu amigo, e camarada de Colégio Militar, chama-se Fernando Seara e o texto veio publicado no jornal A Bola no último domingo, dia 11 de Julho de 2010.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

AS FADAS VERDES




Outro livro da Matilde Um livro que corre pelo maravlhoso, não o maravilhoso fantástico, mas o maravilhoso concreto da natureza e da vida. Porque aqui as Fadas têm a ver com a natureza e, especialmente, da floresta. As Fadas são o Silêncio, o Rosmaninho, a Pinha, a Romã, a Garça, o Amor, a Borboleta, a Manhã, etc, etc, etc.

A Matilde deixou-nos a felicidade de olhar em redor e viver com alegria coisas simples que às vezes andam tão afastadas das nossas preocupações. E deixou-nos essa felicidade com palavras cheias de música e delicadeza.

FELICIDADE

O lagarto estendido ao sol
Disse: O Sol seja louvado!
E o Sol brilhou mais ainda:
Lagarto!Muito obrigado!

A rã no charco da noite
Disse: Que lindo ]e o luar!
E a Lua brilhou mais ainda
Rã! Que lindo o teu coaxar!

E o sapo verde, a saltar
No chão sozinho saltou
E à Terra disse baixinho:
Terra! Que feliz eu não sou!

terça-feira, 13 de julho de 2010

O LIVRO DA TILA




Este livro foi um marco importante na poesia para crianças.

Com quase nada, uma brisa, uma ideia pequenina, mais duas ou três palavras transparentes, a Matilde conseguia fazer passar pelos poemas a deliciosa respiração da sua escrita tão delicada e doce.

HISTÓRIA DO SENHOR DO MAR

Deixa contar...
Era uma vez
O Senhor Mar
com muita onda...
Com muita onda...

E depois?
E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...

A menina adormeceu
Nos braços da sua mãe.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A NOSSA MATILDINHA



Era assim que nós, os outros escritores para a infância, tratávamos com um carinho sem fim a "nossa" Matilde Rosa Araújo.

Era a nossa decana, dizia com frequência o António Torrado. E ela, um dia, com o seu humor delicadíssimo, respondeu ao António: "De cana, não, filho! De bengala, de bengala..."

A Matilde, que em cada livro tinha sempre uma dedicatória especial para a minha flha Matilde, punha a criança à frente de tudo. E é bom lembrar isso neste tempo em que a criança se tornou, por vezes, num empecilho, outras vezes num produto do super-mercado da fama.

Li por aí que era a fada-madrinha da literatura para a infância. E era. Uma inspiração muito forte para todos nós, pais, professores ou escritores.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

AMADORA EDUCA



No final do ano lectivo várias Câmaras celebram a Educação. Na Amadora chama-se AMADORA EDUCA e representa um grande esforço. Fazem-nos pensar estas festas que educar e ensinar pode ser sempre uma festa. Poder pode... Nem sempre é. Mas isso são rosários de utras contas. Porque festa é festa e os lamentos ficam para outra altura.



A Câmara escolheu um livro meu, "O DIA EM QUE A BARRIGA REBENTOU" para oferecer aos seus meninos. Por isso, f também uma festa ir até lá contar-lhes de viva voz uma história que mete uns passarões chamados Bisnaus que comem muito e mal.

CANTAR O TEMPO DA REPÚBLICA



O meu amigo João Balula Cid e o comum amigo Carlos Guilherme resolveram pegar nas canções que se cantavam nos palcos dos teatros, na revista, na rua, durante os anos da República.

A juntar, na parte interior aparece um desenho delicioso do Cid, Augusto, primo do Cid, João.

O resultado é uma graça.

O João e o Guilherme andam por aí a fazer espectáculos a mostrar estas canções ao vivo. O próximo é nos Paços do Conselho de Condeixa, no próximo dia 5, pelas 18h00.

vale a pena ir assistir.