domingo, 30 de janeiro de 2011

QUE GENTE É ESTA?

Comentário retirado do ViriatoTeles.net, sexta-feira, dia 28. Sem comentários porque está tudo dito.

"Leio espantado a notícia do Correio da Manhã de hoje: «O director do Conservatório de Música de Coimbra foi espancado sem razão aparente por um grupo de jovens, perto da estação de Coimbra B. Manuel Rocha, 48 anos, ficou ferido com gravidade, fracturando uma perna, e foi com o amigo até às Urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde está internado.
A cena de pancadaria ocorreu na segunda-feira, às 20h45, quando o músico esperava um amigo na estação ferroviária. Um jovem abordou-o, junto ao seu carro, e pediu--lhe lume para acender um cigarro. Manuel Rocha disse que não tinha, por não fumar, e após troca de palavras começou a ser agredido. A violência aumentou de intensidade quando amigos do agressor, entre eles uma mulher, se juntaram contra Manuel.»




Manuel Rocha, esse mesmo, desde há mais de 30 anos um dos pilares da Brigada Victor Jara, e um dos mais talentosos violinistas deste país. Foi a ele que calhou o miserável episódio, presenciado passivamente por vários transeuntes e utentes da estação ferroviária interurbana de Coimbra, como é relatado pelo próprio e na primeira pessoa:
«Estou vivo e não quero ter medo de ir a Coimbra-B. Queridos amigos! Boletim clínico: fractura do perónio e lesão na articulação da perna direita; escoriações muito ligeiras; sem mais lesões físicas ou morais; sono profundo e descansado.»
E prossegue:
«Descrição da ocorrência: abordagem por marginal à entrada da estação de Coimbra-B; impedimento, pelo dito, de fecho da porta do automóvel; reacção enérgica, minha, à prepotência do marginal; agressão primeira sob a forma de pontapé; reacção enérgica, minha, saindo do carro para desimpedir a via pública (revelando excesso de visionamento de séries norte-americanas nas quais o “bom” ganha sempre); confronto físico de exagerada proximidade; intervenção do resto do bando colocando-me em inferioridade numérica e física seguida de manobra de elemento feminino (demonstrativo de elevado profissionalismo) de inutilização do membro acima referido; pausa para retirar os feridos do campo de batalha (eu).»

Do sucedido, Manuel Rocha sublinha «a atitude demissionária e de assobiar para o ar de quem presenciou a ocorrência», que «não pode ser justificada pelo medo, ou não faria sentido evocar esse pilar da civilização ocidental que é o amor ao próximo.»

O Manel é um homem de bom feitio e melhor humor, o que se saúda. Mas este caso, o seu caso, é sobretudo revelador do estado a que chegou não apenas o país, mas sobretudo o povo que vive nele. Os que na segunda-feira passaram ao largo da agressão ao músico são da mesma massa dos que, na véspera, voltaram a escolher o cinzentismo e a mesquinhez em formato presidencial. Não, não é contra Cavaco que estou. Ele é apenas um mísero professor, coitado, ainda para mais agora forçado a exercer a presidência pro-bono. Não, o que me irrita é mesmo esse «Portugal rançoso, supersticioso e ignorante, que tarda em deixar a indolência preguiçosa» de que fala o Baptista-Bastos. É essa, afinal, a mais triste evidência do episódio de Coimbra-B. A mão que elegeu Cavaco não foi a mesma que agrediu Manuel Rocha. Mas foi, com certeza, a que não se ergueu para o defender."

sábado, 29 de janeiro de 2011

EB23 JOÃO AFONSO DE AVEIRO



Há escolas especiais. Esta é uma delas. Visitá-la, conversar com os seus alunos, sentir que as minhas palavras, os meus textos, as minhas histórias podem acrescentar alguma coisa ao processo educativo deixa-me muito, muito feliz.

Aqui cresce-se graças a alguns professores cuja capacidade de entrega e de sonho está muito para além daquilo que as avaliações ou os avaliadores são capazes de entender.



Entre esses professores está o meu muito querido amigo e ex-aluno de História de Arte e actual professor de EVT, Tiago Carvalho. Já por aqui falei dele. E falarei mais porque além de magnífico professor e excelente web designer (responsável por este blog e pelos 7leitores.blogspot.com é ainda um poeta muito especial, da vida e das palavras.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

QUASE A VOAR




Queridos amigos,

A canção "QUASE A VOAR" com música de Nuno Feist, letra minha e cantada pelo Henrique Feist precisa até 5ª feira dos vossos votos e dos votos dos vossos amigos e familiares, vizinhos, colegas, etc, etc para chegar à final do Festival RTP da Canção 2011.

Para votar é fácil:

- Site "FESTIVAL RTP 2011"

- Clica-se em "VOTAÇÃO"

- Clica-se na canção "QUASE A VOAR"

- Seguem-se as instruções colocando o respectivo email.

- Recebe-se no email um pedido de confirmação. É preciso confirmá-lo para que o voto seja efectivo.

- Cada email permite votar 3 vezes na mesma canção repetindo 3 vezes a operação descrita.

Obrigado!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

FESTIVAL RTP 2011 - QUASE A VOAR

Trabalhei com o Henrique Feist na versão portuguesa do "Sweeney Todd" encenada magnificamente pelo João Lourenço, primeiro no Teatro Nacional D. Maria e uns anos depois no Teatro Aberto.

O Henrique fazia muitíssimo bem o Toby, ajudante do barbeiro Pirelli. Ficámos amigos. E eu fiquei admirador da voz e do profissionalismo do Henrique.



Há poucas semanas o Henrique pediu-me para fazer a letra de uma canção com música do irmão, o NUNO FEIST, para concorrer ao Festival RTP da Canção 2011.

A cançãoe acaba de ser seleccionada para a 2ª fase em que as canções estarão na net para serem votadas pelo público. As 12 mais votadas serão apresentadas pela RTP.

A canção chama-se "QUASE A VOAR". Por isso, meus amigos, conto com a vossa simpatia e o vosso voto. Por email. Amanhã direi como.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

LIVRARIA "POESIA INCOMPLETA"

Nunca visitei a "POESIA INCOMPLETA". Falha grave minha. Ando pouco por Lisboa mas a falha é mesmo grave. Já me tinham avisado que era imprescindível. E agora, os amigos andam a pedir para lá irmos e não a deixarmos morrer. Recebi a mensagem abaixo. Vou já lá a correr.



"Actualmente existe, em Lisboa, uma livraria absolutamente única no país: uma livraria integralmente dedicada à poesia.

Sucede, contudo,que, apesar de fantástica, ela encontra-se com alguma dificuldade emsobreviver. O que não se compreende: tem à sua frente um jovem livreiro que, além de extremamente eficiente, como verão, possui um total conhecimento do que está a vender: conhece os autores, as edições, tudo.

A livraria de que vos falo chama-se Poesia Incompleta, fica na Rua Cecilio de Sousa nº 11 (Príncipe Real) e vai com certeza ser uma revelação para quem a visitar. Abrange todas as épocas e o que não tem, o Mário, o dito livreiro, arranja, normalmente - e com uma brevidade que, no mínimo, surpreende.

Peço-vos - a vós que sois leitores, presumo - que façais uma visitinhaa este sitio, que não pode de maneira nenhuma fechar e que, pela sua qualidade, vai-se tornar, mais tarde ou mais cedo, como aliás disse Vasco Graça Moura, num local de culto.

Isto, claro, se não fechar, coisa que, passando a palavra e recomendando a amigos este tãos ingular espaço, podemos evitar."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

AMESTERDÃO 1970



Já muito perto dos 60 anos, às vezes dá-me para umas viagens ao passado. Nada de saudosismo. Mas o passado, os passados são para lembrar.

Encontrei por aí esta foto. Amesterdão, 1970, 19 anos, a bordo de um barco pelos canais. Estou ao lado de uma portuguesa, um português e um holandês.

Foi a primeira vez que saí sozinho para o mundo. Sozinho não. Fui com o meu amigo Manuel Botelho. Estudava arquitectura e tinha trabalhado o ano inteiro no Ministério das Obras Públicas como desenhador. Deu para a viagem de um mês.

Portugal era triste, sujo, pequenino, mesquinho, bolorento, dominado por bufos. Vivíamos de frente para uma guerra que parecia não ter fim. E a gente da minha idade barafustava, protestava, conspirava e sentia-se às vezes muito triste.

Lá fora havia tanta coisa, as revoltas estudantis, os hippies, o rock, o Make Love not War, o Guevara, o Vietname e o protesto contra a guerra (com muitas parecenças com a nossa Guerra Colonial) e mais e mais e mais.

A chegada a Amesterdão foi um deslumbre. Respirava-se liberdade, festa, delírio. E havia o mercado das flores. A Casa de Anne Frank. A juventude ocupava a cidade vestida das formas para nós mais deliciosas. Havia música nas ruas, nos parques, havia gente de Itália, da Dinamarca, da América, de toda a parte. E era fácil falar. E cantar. E fazer amigos. E...

Não se tem duas vezes 19 anos. Mas é nessa idade que estabelecemos as nossas pátrias.

Amesterdão, a Cidade-de-Todos-os-Espantos-de-Amesterdão ficou a ser uma das minhas pátrias para sempre.

É claro que tenho outras pátrias. Umas mais pequenas, outras maiores. Um dia falarei delas.

domingo, 9 de janeiro de 2011

NÓS SOMOS TEIMOSOS



ABRIL vai ficando mais longe. Crescemos muito mas também houve muito que ficou por cumprir.

A democracia que vivemos não é bem aquela que alguns de nós sonhámos.

Instrumentos antigos com histórias gloriosas como, por exemplo, os sindicatos parecem ter perdido a sua função.

Os partidos transformaram-se em agências de empregos, centros de jogo de interesses particulares e pouco mais.

Os interesses nacionais têm-se apagado. O neo-liberalismo instaurou um estado de coisas muito feio.

Mas é claro que não vamos desistir.

O mundo tem evoluído com uma mecha do caraças... Parece que as grandes lutas transformaram-se numa multiplicidade de pequenas lutas. Pelo ambiente, pela qualidade de vida e do ensino, pela saúde, pela cultura, pelo respeito e pela dignidade da vida humana, pela verdade, pela informação... Coisas pequenas mas que todas juntas...

Vás tu descansado, Vítor. Nós somos teimosos.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

UMA ESPÉCIE DE VISITA AO PARAÍSO



Há homens que se tornam em pontos de referência fundamentais na nossa vida. Pelo seu exemplo, pelo seu talento, pela sua consistência, pela dimensão da sua alma.

São raros na nossa vida. E por isso preciosos. Dos meus, e de memória, poderia falar do Zeca Afonso, do Alípio de Freitas, do Claudio Torres, do Siza Vieira, do João Abel Manta e, seguramente do José Mattoso.

São âncoras, pilares, nuvens que nos indicam os caminhos a seguir.

Aproveitei os dias agitados das chamadas Festas para pôr em dia algumas pequenas leituras, entrevistas, artigos de jornal, coisas amontoadas ao canto da mesa de trabalho e a transbordarem para o chão.

Li duas entrevistas com o José Mattoso. E ficaram-me frases e pensamentos que merecem partilha e reflexão.

Cá vão algumas da entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro e publicada em O Público, 24.10.2010.

"A minha concepção de Deus - não sei se é pretensão de mais dizê-lo - foi-se aperfeiçoando. Foi perdendo os aspectos antropomórficos, os aspectos lógicos. Os Vedas falam na meditação da escuridão que cobre a escuridão. A escuridão é o mistério de Deus, coberta por outra escuridão, e por outra , e por outra. Temos de encontrar o que está por detrás, que nunca é exprimível. Há aproximações metafóricas, metafdísicas, conceptuais."

"O Homem é o homem e a mulher. O amor faz parte daquilo que completa o Homem. Se não existir é uma mutilçação. É uma falha irreparável."

"O 1º de Maio (de 1974) foi uma espécie de visita ao paraíso."

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O GRANDE FEITICEIRO ADORMECEU




O grande feiticeiro, meu irmão, adormeceu hoje. Foi lá para o céu tirar um descanso desta vida maluca.

Que se cuidem os anjos, e mais ainda as anjas, porque reboliço vem ali.


MALANGATANA VALENTE NGWENYA


MULHER

Nas águas frescas do rio
vamos ter peixes imensos
que darão o sinal do ´
fim do mundo talvez
porque vão dar cabo da mulher
a mulher que embeleza os campos
a mulher que é o fruto do homem.

Oh peixe voador, acaba com a rusga
porque a mulher é o ouro do homem
quando ela canta e até parece
a viola do fadista bem afinada
quando ela morre cortarei
o cabelo dela para livrar-me do pecado

O cabelo da mulher será o cobertor
do meu caixão, quando outro Artista
me chamar lá no Céu para me pintar
o seio da mulher será minha almofada
o olho da mulher me abrirá o caminho do Céu
a barriga da mulher vai-me nascer lá em cima
quando subir aos Céus