(para o António Pinho Vargas)
Sou impuro.
Ponto.
Dado a mestiçagens.
Ponto.
Sou cambota de automóvel.
Pássaro.
Palmeira.
Durmo sonos de esmeralda
e de pimenta.
Tenho um heterónimo
lunar
pronto a implodir
nas cordilheiras do Sul.
Inclino o tempo
que me é dado
ao riso dos meninos
e ao lamento pungente
dos violinos perdidos
no centro
da escuridão.
Todo o silêncio me é música.
Toda a geometria é o meu lugar.
Todos os lugares
acordam no meu peito.
(“Elogio dos peixes das pedras e dos simples”, José Fanha)
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
UMA CANÇÃO DIFERENTE
Um dia o Pedro Osório telefonou-me. Era para fazermos uma canção. Queria levar a Lúcia, filha do Carlos Alberto Moniz e da Maria do Amparo ao Festival da Canção da RTP. Nem hesitei. Conhecia a Lucinha quase de bébé. Nem hesitei.
Queríamos fazer uma canção diferente do que era costume nos anos 90. Com outra estaleca. Não foi fácil fazer a letra porque trabalhar com o Pedro Osório é um previlégio mas o seu rigor e a sua exigência vão até ao mais pequeno pormenor.
A canção chamou-se "O MEU CORAÇÃO NÃO TEM COR". Era uma festa. Não fast-food musical mas música profundamente popular.
Inesperadamente ganhou o Festival da RTP cá em Portugal e foi ao Eurofestival em Oslo onde a Lúcia encantou toda a gente com a sua extrema simpatia e o som do cavaquinho com que andava por toda a parte.
Tornou-se numa das favoritas e teve a melhor classificação de todas as canções portuguesas que até hoje concorreram ao Festival da Eurovisão. Nunca foi gravada em disco. Vá-se lá saber porquê. Mas fica aqui. Para que a ouça quem quiser.
Queríamos fazer uma canção diferente do que era costume nos anos 90. Com outra estaleca. Não foi fácil fazer a letra porque trabalhar com o Pedro Osório é um previlégio mas o seu rigor e a sua exigência vão até ao mais pequeno pormenor.
A canção chamou-se "O MEU CORAÇÃO NÃO TEM COR". Era uma festa. Não fast-food musical mas música profundamente popular.
Inesperadamente ganhou o Festival da RTP cá em Portugal e foi ao Eurofestival em Oslo onde a Lúcia encantou toda a gente com a sua extrema simpatia e o som do cavaquinho com que andava por toda a parte.
Tornou-se numa das favoritas e teve a melhor classificação de todas as canções portuguesas que até hoje concorreram ao Festival da Eurovisão. Nunca foi gravada em disco. Vá-se lá saber porquê. Mas fica aqui. Para que a ouça quem quiser.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS
Bartolomeu é um amigo de Minas Gerais, escritor com vasta e maravilhosa obra virada para a infância e a juventude.
Anda por escolas e bibliotecas a contar histórias, a espalhar ternura e a semear versos. Até já passou pelas "Palavras Andarilhas" em Beja. É dos nossos.
Vale a pena visitá-lo e conhecer-lhe a arte. Segue uma amostra a seguir. Para mais pode espreitar-se a morada: http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeuqueiros/
TINHA SÓ DUAS PERNAS
"Meu pai dirigia um caminhão muito grande e bonito. Viajava para longe, levando manteiga para as cidades que só produziam pão. Bom Destino tinha pão e manteiga. Passava dias distantes e voltava trazendo uma carroceria de notícias.
Eu ficava impressionado como era grande o mundo do meu pai.Ele colocava um travesseiro sobre seus joelhos, me assentava em cima e me entregava o volante para eu dirigir. Naquele tempo eu não sabia nem frear meus pensamentos. Tinha só duas pernas; imagina dirigir um caminhão com dez rodas.
Depois, como seria possível eu aprender a dirigir, se minha alegria eram as paisagens! No caminhão havia um espelho de lado. Eu apreciava ver meu pai olhando para a frente e correndo os olhos sobre o que estava atrás. Nesses momentos ele possuía muitos olhares.".
"O olho de vidro do meu avô", Bartolomeu Campos de Queirós
Eu ficava impressionado como era grande o mundo do meu pai.Ele colocava um travesseiro sobre seus joelhos, me assentava em cima e me entregava o volante para eu dirigir. Naquele tempo eu não sabia nem frear meus pensamentos. Tinha só duas pernas; imagina dirigir um caminhão com dez rodas.
Depois, como seria possível eu aprender a dirigir, se minha alegria eram as paisagens! No caminhão havia um espelho de lado. Eu apreciava ver meu pai olhando para a frente e correndo os olhos sobre o que estava atrás. Nesses momentos ele possuía muitos olhares.".
"O olho de vidro do meu avô", Bartolomeu Campos de Queirós
domingo, 25 de novembro de 2007
MIGUEL TORGA NA VENDA DO PINHEIRO
Na Escola EB 23 da Venda do Pinheiro está a decorrer a comemoração dos 100 anos do nascimento de Miguel Torga, organizada com o entusiasmo e a dedicação da Jacqueline Duarte, coordenadora da Biblioteca.
Participação especial da Fernanda Frazão a contar de uma forma muito especial um conto dos "Bichos".
Participação especial da Fernanda Frazão a contar de uma forma muito especial um conto dos "Bichos".
sábado, 24 de novembro de 2007
PARABÉNS
Ontem, a BIBLIOTECA DE ALCOBAÇA fez anos. Que pena não ter podido lá ir. É um espaço caloroso, cheio de luz, aberto à fantasia das palavras e à imaginação dos cenários.
Parabéns Madalena. Parabéns Claudia.
Como algumas outras espalhadas pelo país, esta Biblioteca faz muito com poucos meios e um grande entusiasmo.
Se tivessem mais meios, mais apoio, se este país descobrisse que sem um grande salto nos hábitos de leitura em Portugal não há desenvolvimento económico, nem requalificação profissional, nem cidadania sólida... Isso é que era uma grande prenda de anos para todos nós.
Parabéns Madalena. Parabéns Claudia.
Como algumas outras espalhadas pelo país, esta Biblioteca faz muito com poucos meios e um grande entusiasmo.
Se tivessem mais meios, mais apoio, se este país descobrisse que sem um grande salto nos hábitos de leitura em Portugal não há desenvolvimento económico, nem requalificação profissional, nem cidadania sólida... Isso é que era uma grande prenda de anos para todos nós.
PABLO NERUDA
I
Porque é que os imensos aviões
não passeiam com os seus filhos?
Qual é o pássaro amarelo
que enche o ninho de limões?
Porque é que não ensinam
a tirar mel do sol aos helicópteros?
Onde é que a lua cheia
deixou~o seu saco nocturno de farinha?
V
Que guardas na tua bossa?
perguntou o camelo à tartaruga.
E a tartaruga perguntou:
E tu, que conversas tens com as laranjas?
Terá mais folhas uma pereira
que em Busca do Tempo Perdido?
Porque se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
VIII
Que coisa irrita os vulcões
que cospem fogo, frio e fúria?
Porque é que Cristóvão Colombo
não pôde descobrir a Espanha?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não se choram
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis
que correm até à tristeza?
Pablo Neruda, “Livro das perguntas” (1974),
Tradução José Fanha
Porque é que os imensos aviões
não passeiam com os seus filhos?
Qual é o pássaro amarelo
que enche o ninho de limões?
Porque é que não ensinam
a tirar mel do sol aos helicópteros?
Onde é que a lua cheia
deixou~o seu saco nocturno de farinha?
V
Que guardas na tua bossa?
perguntou o camelo à tartaruga.
E a tartaruga perguntou:
E tu, que conversas tens com as laranjas?
Terá mais folhas uma pereira
que em Busca do Tempo Perdido?
Porque se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
VIII
Que coisa irrita os vulcões
que cospem fogo, frio e fúria?
Porque é que Cristóvão Colombo
não pôde descobrir a Espanha?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não se choram
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis
que correm até à tristeza?
Pablo Neruda, “Livro das perguntas” (1974),
Tradução José Fanha
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
MEMÓRIAS - 1977
Da gaveta onde guardo as memórias boas repesquei este disco. Um single. Veja-se só quem participou na sua gravação e produção. Quase todos grandes e queridos amigos hoje em dia.
FACE A
EU SOU PORTUGUÊS AQUI
Voz: José Fanha - Guitarra: Pedro Caldeira Cabral
FACE B
TERRA MÃE
Letra: Dulce Fanha - Música: Joaquim Gil Nave
Vozes: Adelaide Ferreira, Argentina Rocha, Fernando Tordo, Luísa Basto, Paulo Carvalho
Acústicas e arranjo: Júlio Pereira
Flauta: Rão Kyao
Acordeão: Helder Reis
Baixo: Paulo Godinho
Bateria: Vítor Mamede
Fotos: Rui Pacheco
Arranjo gráfico: Manuel Botelho
FACE A
EU SOU PORTUGUÊS AQUI
Voz: José Fanha - Guitarra: Pedro Caldeira Cabral
FACE B
TERRA MÃE
Letra: Dulce Fanha - Música: Joaquim Gil Nave
Vozes: Adelaide Ferreira, Argentina Rocha, Fernando Tordo, Luísa Basto, Paulo Carvalho
Acústicas e arranjo: Júlio Pereira
Flauta: Rão Kyao
Acordeão: Helder Reis
Baixo: Paulo Godinho
Bateria: Vítor Mamede
Fotos: Rui Pacheco
Arranjo gráfico: Manuel Botelho
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
ESCOLA EB 1 DA PÓVOA DA GALEGA
Vou lá de vez em quando visitar a minha amiga Ana França, visitar o espaço mágico que ela criou na Biblioteca da Escola.
Há escolas em que a magia acontece quando as pessoas despenteiam o dia-a-dia e desatam a trabalhar na margem de cá da alegria.
Sempre que lá passo levo poemas e histórias. Desta vez foram as "CANTIGAS & CANTIGOS" e "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU". (Os pássaros bisnaus não descansam!)
Há escolas em que a magia acontece quando as pessoas despenteiam o dia-a-dia e desatam a trabalhar na margem de cá da alegria.
Sempre que lá passo levo poemas e histórias. Desta vez foram as "CANTIGAS & CANTIGOS" e "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU". (Os pássaros bisnaus não descansam!)
terça-feira, 20 de novembro de 2007
ESCOLA EB 1 JI DO ALTO DO MOINHO, SEIXAL
Há escolas onde entramos e o trabalho feito pelos professores com os meninos é de tal qualidade que nos faz pensar que crescer pode ser uma coisa luminosa se nos deixarem voar em vez de nos criarem justificações, avaliações, reuniões e outras atrapalhações que matam a beleza do ensino no ovo.
Nem todas as escolas são assim tão capazes de contornar a burocracia cínica com que as querem estrangular. Nem todos os professores são assim tão disponíveis para o milagre que pode e devia ser sempre ensinar. Mas a Escola do Alto do Moinho no Seixal é comoventemente assim.
E foi comovido que fiquei ao entrar nesta Escola, ao falar com os meninos, ao partilhar com eles histórias, poemas e palavras, e ao ver o trabalho feito à volta de dois livros meus, "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU" e "O DIA EM QUE A MATA ARDEU", onde se contam as maldades feitas por uma horrível família de pássaros Bisnaus.
Resolvi trazer para aqui as colagens de dois destes meninos que é uma forma pequenina de lhes agradecer a eles e aos professores o muito que me ofereceram a mim.
Nem todas as escolas são assim tão capazes de contornar a burocracia cínica com que as querem estrangular. Nem todos os professores são assim tão disponíveis para o milagre que pode e devia ser sempre ensinar. Mas a Escola do Alto do Moinho no Seixal é comoventemente assim.
E foi comovido que fiquei ao entrar nesta Escola, ao falar com os meninos, ao partilhar com eles histórias, poemas e palavras, e ao ver o trabalho feito à volta de dois livros meus, "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU" e "O DIA EM QUE A MATA ARDEU", onde se contam as maldades feitas por uma horrível família de pássaros Bisnaus.
Resolvi trazer para aqui as colagens de dois destes meninos que é uma forma pequenina de lhes agradecer a eles e aos professores o muito que me ofereceram a mim.
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
domingo, 18 de novembro de 2007
A SENHORA CONCEIÇÃO
A SENHORA CONCEIÇÃO
A senhora Conceição
é um pássaro remoto
um dinossauro espantado
incapaz de usar sapatos por medida.
A senhora Conceição
tem muita dificuldade
em ir a pé ao correio.
Tem duas galinhas
uma videira pequena
agriões
batatas
e uma dor nas costas já faz
para cima de dez anos.
A senhora Conceição
teve marido
e três filhos
todos vivos benza-os Deus.
A senhora Conceição
persiste de roupa preta
em volta dos coentros e dos cravos
e faz de cada couve-galega uma bandeira
na sua Sierra Maestra de 4 por 5 metros
a cheirar a rosmaninho.
A senhora Conceição
talvez não entenda nada do que eu digo
mas é para ela que eu digo
e penso
para que o seu sorriso bom
frutifique á margem da usura.
José Fanha, "Elogio dos peixes das pedras e dos simples"
A senhora Conceição
é um pássaro remoto
um dinossauro espantado
incapaz de usar sapatos por medida.
A senhora Conceição
tem muita dificuldade
em ir a pé ao correio.
Tem duas galinhas
uma videira pequena
agriões
batatas
e uma dor nas costas já faz
para cima de dez anos.
A senhora Conceição
teve marido
e três filhos
todos vivos benza-os Deus.
A senhora Conceição
persiste de roupa preta
em volta dos coentros e dos cravos
e faz de cada couve-galega uma bandeira
na sua Sierra Maestra de 4 por 5 metros
a cheirar a rosmaninho.
A senhora Conceição
talvez não entenda nada do que eu digo
mas é para ela que eu digo
e penso
para que o seu sorriso bom
frutifique á margem da usura.
José Fanha, "Elogio dos peixes das pedras e dos simples"
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
LEITURAS
“As histórias completamente verídicas só interessam à polícia”
Jorge Semprún, “Vinte anos e um dia, Ed. Asa
“Conta-me uma história de amor, uma história oriental, uma bela história de amor, de ciúme, de sangue e de morte! Conta-me uma história, senão mato-te!”
Tahar Ben Jelloun, “Amores feiticeiros”, Ed. Cavalo de Ferro
“Como existia um mistério eu voltaria a ser homem, e não um homem qualquer, mas um ser atraído para o inexplicável pelo fio maravilhoso da poesia.”
Jesús Zárate, “A prisão”, Ed. Oicina do Livro
Jorge Semprún, “Vinte anos e um dia, Ed. Asa
“Conta-me uma história de amor, uma história oriental, uma bela história de amor, de ciúme, de sangue e de morte! Conta-me uma história, senão mato-te!”
Tahar Ben Jelloun, “Amores feiticeiros”, Ed. Cavalo de Ferro
“Como existia um mistério eu voltaria a ser homem, e não um homem qualquer, mas um ser atraído para o inexplicável pelo fio maravilhoso da poesia.”
Jesús Zárate, “A prisão”, Ed. Oicina do Livro
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
O PERIGO DA POESIA
“Um poema não serve para ganhar dinheiro mas serve para reorganizar o mundo”
Cornelius Castoriadis
Cornelius Castoriadis
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
CONTRA A MINHA VONTADE
Contratado contra a minha vontade para a fábrica das ideias
recusei-me a assinar o ponto
Mobilizado mesmo assim para o exército das ideias
desertei
Nunca compreendi grande coisa
Não há grandes coisas
nem pequenas coisas
Há outras coisas
Outras coisas
são o que eu gosto o que me agrada
e o que eu faço
Jacques Prévert
(Tradução José Fanha)
recusei-me a assinar o ponto
Mobilizado mesmo assim para o exército das ideias
desertei
Nunca compreendi grande coisa
Não há grandes coisas
nem pequenas coisas
Há outras coisas
Outras coisas
são o que eu gosto o que me agrada
e o que eu faço
Jacques Prévert
(Tradução José Fanha)
UM PEIXE UMA HISTÓRIA
Às vezes ponho-me a misturar coisas e coisinhas e a colá-las assim como se deitasse a linha ao mar das imagens à procura de um peixe ou de uma história.
Ofício inquieto de quem só sabe fazer outras coisas.
Ofício inquieto de quem só sabe fazer outras coisas.
domingo, 11 de novembro de 2007
O ENSINO SEGUNDO GEORGE STEINER
“(Para se ser professor) É preciso ser-se um dador, ser-se um pouco louco, é preciso estar-se nu e não ter vergonha da nudez.”
George Steiner, “Quatro entrevistas com George Steiner”,
“A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também um saber do cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros.”
George Steiner, “O silêncio dos livros”
“O mau ensino, a rotina pedagógica , esse tipo de instrução que, conscientemente ou não, é cínico nos seus objectivos puramente utilitários, é ruinosa. Arranca a esperança pela raiz.”
George Steiner, “As lições dos Mestres”
George Steiner, “Quatro entrevistas com George Steiner”,
“A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também um saber do cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros.”
George Steiner, “O silêncio dos livros”
“O mau ensino, a rotina pedagógica , esse tipo de instrução que, conscientemente ou não, é cínico nos seus objectivos puramente utilitários, é ruinosa. Arranca a esperança pela raiz.”
George Steiner, “As lições dos Mestres”
“NÃO DEIXEM QUE OS ESTUDOS ESTRAGUEM A VOSSA EDUCAÇÃO”
“NÃO DEIXEM QUE OS ESTUDOS ESTRAGUEM A VOSSA EDUCAÇÃO”
esta frase foi dita por Pete Seeger, autor e cantor Folk e activista político americano, dirigindo-se aos estudantes numa visita à Faculdade de Letras de Lisboa em Dezembro de 1981.
Pete Seeger (n. 1919) é uma personagem lendária com muitos pontos em comum com o nosso Zeca Afonso. Foi preso nos anos 50 durante o macartismo, mas continuou a percorrer a América com as suas baladas e canções de protesto. Com Woody Guthrie constitui uma das principais influências da música e da poesia de Bob Dylan.
Em 1981 esteve em Lisboa. Tive a felicidade de o conhecer e falar com ele e com o Zeca no final de um concerto memorável no Pavilhão Carlos Lopes.
Recentemente estive a dizer poesia aos estudantes de português da Universidade de Rutgers, New Jersey. Portugueses, peruanos, mexicanos e americanos. Devolvi-lhes esta frase de Pete Seeger que me parece muito mais séria do que possa parecer à primeira vista.
esta frase foi dita por Pete Seeger, autor e cantor Folk e activista político americano, dirigindo-se aos estudantes numa visita à Faculdade de Letras de Lisboa em Dezembro de 1981.
Pete Seeger (n. 1919) é uma personagem lendária com muitos pontos em comum com o nosso Zeca Afonso. Foi preso nos anos 50 durante o macartismo, mas continuou a percorrer a América com as suas baladas e canções de protesto. Com Woody Guthrie constitui uma das principais influências da música e da poesia de Bob Dylan.
Em 1981 esteve em Lisboa. Tive a felicidade de o conhecer e falar com ele e com o Zeca no final de um concerto memorável no Pavilhão Carlos Lopes.
Recentemente estive a dizer poesia aos estudantes de português da Universidade de Rutgers, New Jersey. Portugueses, peruanos, mexicanos e americanos. Devolvi-lhes esta frase de Pete Seeger que me parece muito mais séria do que possa parecer à primeira vista.
MIA COUTO
"O mundo sabe
que, para ser belo
necessita ser escrito."
O POETA E A CIGARRA (Em "idades cidades divndades")
que, para ser belo
necessita ser escrito."
O POETA E A CIGARRA (Em "idades cidades divndades")
PEDRA A PEDRA
É uma pedra
cada frase amável
cada pensamento que me envia
o meu irmão sonhando.
Uma pedra cada verso cada gota de lua ou brilho
de ametista cada lágrima correndo
pelos troncos de uma selva
desventrada.
É uma pedra
a água que cai do céu
e a outra que desce das cordilheiras e beija
borboletas impossíveis.
É uma pedra
duas pedras pequeninas
o riso das minhas filhas.
E o abraço vertical de cada amigo.
E o beijo da mulher amada.
E juntando pedra a pedra
verso a verso
pensamento a pensamento
asa de pomba a peito de jaguar
vai acontecendo a casa do poema
do amor
da mesa posta
a casa onde cada pedra tem
uma longa história
para contar.
José Fanha
cada frase amável
cada pensamento que me envia
o meu irmão sonhando.
Uma pedra cada verso cada gota de lua ou brilho
de ametista cada lágrima correndo
pelos troncos de uma selva
desventrada.
É uma pedra
a água que cai do céu
e a outra que desce das cordilheiras e beija
borboletas impossíveis.
É uma pedra
duas pedras pequeninas
o riso das minhas filhas.
E o abraço vertical de cada amigo.
E o beijo da mulher amada.
E juntando pedra a pedra
verso a verso
pensamento a pensamento
asa de pomba a peito de jaguar
vai acontecendo a casa do poema
do amor
da mesa posta
a casa onde cada pedra tem
uma longa história
para contar.
José Fanha
sábado, 10 de novembro de 2007
O ARTUR DISSE
O Artur disse mais ou menos assim:
“Não suporto a arte conceptual. Quero que o artista me mostre imagens e me conte histórias, mesmo que eu não as entenda.”
Eu disse:
“Cá por mim, à filosofia prefiro a literatura. Vai muito mais fundo.”
E ficámos os dois de acordo.
“Não suporto a arte conceptual. Quero que o artista me mostre imagens e me conte histórias, mesmo que eu não as entenda.”
Eu disse:
“Cá por mim, à filosofia prefiro a literatura. Vai muito mais fundo.”
E ficámos os dois de acordo.
NOVA BIBLIOTECA NA ESCOLA SECUNDÁRIA LEAL DA CÂMARA
Quinta feira à noite foi a inauguração da nova Biblioteca na Escola Secundária Leal da Câmra, em Rio de Mouro, Concelho de Sintra com mais de cem pessoas entre alunos, pais, professores e convidados.Escusado será dizer que ver nascer uma biblioteca é mais uma pequena grande esperança de que cresça o prazer pela leitura e também a profundidade e espessura desse acto tão fantástico e ao mesmo tempo tão perigoso que é ler.
A festa foi muito especial. Começou com uma pequena e doce representação dos alunos da Escola dirigidos pelo Rui Mário do Grupo de Teatro Tapafuros.
Um egiptólogo, o Doutor José das Candeias Sales, falou da mãe de todas as bibliotecas que foi a Biblioteca de Alexandria. Uma bela lição a que se seguiu poesia e mais poesia que contou com a participação da minha querida amiga e excepcional declamadora que é a Elsa Noronha, comigo e com alunos, pais e professores que quiseram também dizer poesia, celebrar os seus poetas, lembrar as suas velhas paixões ou as suas descobertas recentes.
Eu, por mim, descobri com grande emoção um vasto grupo de jovens e professores que abraçaram há cerca de 6 meses a partilha da paixão pela poesia e que quiserem viver pela voz as palavras de Fernando Pessoa, Sophia, Jorge de Sena, Ruy Belo, Frederico Garcia Lorca e vários outros. Tudo isto também graças ao entusiasmo, alegria e dedicação da Professora Liliana Silva, responsável pela biblioteca.
De toda a noite o que mais me tocou e me ficou a aquecer a memória foi ver um jovem de de 17 anos a falar emocionado da recente descoberta da poesia de Lorca. Contou-nos como foi difícil lá chegar. Lorca não é fácil mas depois de conseguir abrir a porta... As coisas boas, digo eu, não têm de ser fáceis. A aprendizagem não tem de ser fácil. Mas depois de abrir a porta...
Eu já sabia, mas reforcei a certeza de que há gente por aí pronta a crescer, a transcender-se e a transformar o mundo e o nosso pequeno Portugal numa coisa muito mais habitável.
A festa foi muito especial. Começou com uma pequena e doce representação dos alunos da Escola dirigidos pelo Rui Mário do Grupo de Teatro Tapafuros.
Um egiptólogo, o Doutor José das Candeias Sales, falou da mãe de todas as bibliotecas que foi a Biblioteca de Alexandria. Uma bela lição a que se seguiu poesia e mais poesia que contou com a participação da minha querida amiga e excepcional declamadora que é a Elsa Noronha, comigo e com alunos, pais e professores que quiseram também dizer poesia, celebrar os seus poetas, lembrar as suas velhas paixões ou as suas descobertas recentes.
Eu, por mim, descobri com grande emoção um vasto grupo de jovens e professores que abraçaram há cerca de 6 meses a partilha da paixão pela poesia e que quiserem viver pela voz as palavras de Fernando Pessoa, Sophia, Jorge de Sena, Ruy Belo, Frederico Garcia Lorca e vários outros. Tudo isto também graças ao entusiasmo, alegria e dedicação da Professora Liliana Silva, responsável pela biblioteca.
De toda a noite o que mais me tocou e me ficou a aquecer a memória foi ver um jovem de de 17 anos a falar emocionado da recente descoberta da poesia de Lorca. Contou-nos como foi difícil lá chegar. Lorca não é fácil mas depois de conseguir abrir a porta... As coisas boas, digo eu, não têm de ser fáceis. A aprendizagem não tem de ser fácil. Mas depois de abrir a porta...
Eu já sabia, mas reforcei a certeza de que há gente por aí pronta a crescer, a transcender-se e a transformar o mundo e o nosso pequeno Portugal numa coisa muito mais habitável.
A POESIA DOS SONS COM RÃO KYAO
Sob o tema de A POESIA DOS SONS têm acontecido algumas conversas entre um poeta e alguns músicos amigos. em várias bibliotecas do Concelho de Mafra. Na Malveira, em Setembro, a conversa foi com Luís Pedro Fonseca, em Mafra, Outubro, foi com o Fernando Tordo, em Novembro será com o Rão Kyao na Ericeira como abaixo vem anunciado. Os lugares já estão quase todos reservados, por isso...
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
CARTAS AO MEU FILHO (2)
Meu querido filho,
Um dia, quando eu te fiz a pergunta sacramental, o que é que queres ser quando fores grande?, tu respondeste-me muito tranquilamente que querias ser pintor.
Eu tremi. E é irónico um poeta a tremer, a temer, quando o filho lhe diz que também, à sua maneira, quer ser poeta. Eu tremi, meu filho. E sei porque é que tremi.
Percebi desde logo que tinhas escolhido o caminho mais belo e, se calhar, por isso mesmo, o mais difícil. Aquele que está mais afastado do mundo mecanicista em que vivemos. Aquele que te vai fazer voar até alturas impensáveis e mergulhar no mais fundo de ti e dos homens teus irmãos.
Vais trabalhar com as mais complexas matérias que habitam desde sempre o coração dos homens: os símbolos. Tu sabes, já sabes hoje, que os símbolos são as palavras e as formas que desde sempre nos permitiram dialogar com as nossas angústias e os nossos medos mais fundos. São as chaves que te permitirão entrar em terríveis e complexos labirintos cuja saída só tu poderás encontrar.
Mesmo assim, sabendo tudo isto, escolheste o caminho mais difícil, aquele que te vai trazer muito mais dúvidas que certezas, muito mais infinito que descontos para a reforma.
Vais trabalhar sem repartição nem horário. Levarás o teu ofício colado à pele para todo o lado. Não poderás fugir a essa febre. Tudo, a lágrima e a dor, a revolta e o júbilo, o pão e o vinho, a tua juventude e o teu envelhecimento, um corpo de mulher e um riso de criança, tudo te vai servir de matéria prima. Estás condenado a uma fantástica doença.
Tem sido um pouco assim a minha vida e, pelos vistos, à tua própria maneira, assim será a tua. Os teus passos vão levar-te a andar sempre e sempre à volta dessa fome de tudo ao mesmo tempo a que se chama Arte. Arte das palavras, das formas e das cores, da música, da dança. Arte. Tão incompreendida nesta sociedade que tudo quer reduzir ao pacote de margarina, ás pobres vedetas da televisão ou às modas que ainda mal o são e já deixaram de ser.
Não há dúvida de que escolheste o caminho mais difícil. Aquele que ninguém trilhou. Porque é o teu, só teu, e como dizia o poeta espanhol António Machado: “Caminhante, não há caminho/ faz-se o caminho ao andar.”
Vais esbarrar com muitas dificuldades e mais incompreensões. Vais sofrer na pele o ferrete de assistir ao êxito ribombante das vedetas descartáveis, dos opinosos iníquos, dos comerciantes de influências, dos fabricantes de “facas sem lâmina a que lhes falta o cabo”, como dizia o Alexandre O’Neill. Tudo isso vai acontecer enquanto tu atravessas as noites lutando contigo em busca de uma cor azul, de um perfil exacto, de uma grande harmonia ou de um imenso desacato.
Julgo que já não podes voltar atrás. Escolheste o caminho mais difícil. E, por isso, meu filho, estou cheio de orgulho em ti.
Um dia, quando eu te fiz a pergunta sacramental, o que é que queres ser quando fores grande?, tu respondeste-me muito tranquilamente que querias ser pintor.
Eu tremi. E é irónico um poeta a tremer, a temer, quando o filho lhe diz que também, à sua maneira, quer ser poeta. Eu tremi, meu filho. E sei porque é que tremi.
Percebi desde logo que tinhas escolhido o caminho mais belo e, se calhar, por isso mesmo, o mais difícil. Aquele que está mais afastado do mundo mecanicista em que vivemos. Aquele que te vai fazer voar até alturas impensáveis e mergulhar no mais fundo de ti e dos homens teus irmãos.
Vais trabalhar com as mais complexas matérias que habitam desde sempre o coração dos homens: os símbolos. Tu sabes, já sabes hoje, que os símbolos são as palavras e as formas que desde sempre nos permitiram dialogar com as nossas angústias e os nossos medos mais fundos. São as chaves que te permitirão entrar em terríveis e complexos labirintos cuja saída só tu poderás encontrar.
Mesmo assim, sabendo tudo isto, escolheste o caminho mais difícil, aquele que te vai trazer muito mais dúvidas que certezas, muito mais infinito que descontos para a reforma.
Vais trabalhar sem repartição nem horário. Levarás o teu ofício colado à pele para todo o lado. Não poderás fugir a essa febre. Tudo, a lágrima e a dor, a revolta e o júbilo, o pão e o vinho, a tua juventude e o teu envelhecimento, um corpo de mulher e um riso de criança, tudo te vai servir de matéria prima. Estás condenado a uma fantástica doença.
Tem sido um pouco assim a minha vida e, pelos vistos, à tua própria maneira, assim será a tua. Os teus passos vão levar-te a andar sempre e sempre à volta dessa fome de tudo ao mesmo tempo a que se chama Arte. Arte das palavras, das formas e das cores, da música, da dança. Arte. Tão incompreendida nesta sociedade que tudo quer reduzir ao pacote de margarina, ás pobres vedetas da televisão ou às modas que ainda mal o são e já deixaram de ser.
Não há dúvida de que escolheste o caminho mais difícil. Aquele que ninguém trilhou. Porque é o teu, só teu, e como dizia o poeta espanhol António Machado: “Caminhante, não há caminho/ faz-se o caminho ao andar.”
Vais esbarrar com muitas dificuldades e mais incompreensões. Vais sofrer na pele o ferrete de assistir ao êxito ribombante das vedetas descartáveis, dos opinosos iníquos, dos comerciantes de influências, dos fabricantes de “facas sem lâmina a que lhes falta o cabo”, como dizia o Alexandre O’Neill. Tudo isso vai acontecer enquanto tu atravessas as noites lutando contigo em busca de uma cor azul, de um perfil exacto, de uma grande harmonia ou de um imenso desacato.
Julgo que já não podes voltar atrás. Escolheste o caminho mais difícil. E, por isso, meu filho, estou cheio de orgulho em ti.
domingo, 4 de novembro de 2007
ALEX PONTO COM - AVENTURAS VIRTUAIS
Mais um livro. É o 5º publicado nos últimos 3 meses! Para jovens a partir dos 10 anos. As ilustrações são do João-meu filho-Fanha. É o segundo volume de umas aventuras que me divertem muito. No primeiro, o Alex caiu dentro do computador. Neste segundo:
"O simpático Joe Silicone está de volta. Resolveu visitar Alex e os seus amigos.
Foi ele quem os acompanhou na primeira aventura desta série, quando todos caíram no mundo virtual e foram jogar ao vivo um perigosíssimo jogo comandado pela maléfica Maspúcia.
O problema é que Joe Silicone é um ser virtual com vários problemas de adaptação ao mundo real.
Pode mudar de tamanho e tornar-se enorme ou muito pequeno, sai pelas janelas, alimenta-se de gigabytes, causa inúmeros desarranjos e desatinos.
O pior, no entanto, é que quando passou do mundo virtual ao mundo real deixando um caminho aberto por onde chega Maspúcia com o seu exército de Esqueletos Bailarinos, aranhas gigantes e toda uma série de seres sem sentimentos e prontos a destruir tudo em seu redor.
Joe Silicone, Alex e o seu grupo de amigos vão ter de enfrentar um desafio assustador e quase desesperado onde, mesmo assim, ainda há espaço para o nascimento do afecto e do amor."
"O simpático Joe Silicone está de volta. Resolveu visitar Alex e os seus amigos.
Foi ele quem os acompanhou na primeira aventura desta série, quando todos caíram no mundo virtual e foram jogar ao vivo um perigosíssimo jogo comandado pela maléfica Maspúcia.
O problema é que Joe Silicone é um ser virtual com vários problemas de adaptação ao mundo real.
Pode mudar de tamanho e tornar-se enorme ou muito pequeno, sai pelas janelas, alimenta-se de gigabytes, causa inúmeros desarranjos e desatinos.
O pior, no entanto, é que quando passou do mundo virtual ao mundo real deixando um caminho aberto por onde chega Maspúcia com o seu exército de Esqueletos Bailarinos, aranhas gigantes e toda uma série de seres sem sentimentos e prontos a destruir tudo em seu redor.
Joe Silicone, Alex e o seu grupo de amigos vão ter de enfrentar um desafio assustador e quase desesperado onde, mesmo assim, ainda há espaço para o nascimento do afecto e do amor."
sábado, 3 de novembro de 2007
POUCOS MAS BONS
Recordo frequentemente a amizade e companheirismo que me uniram e unem ao Carlos Paredes, quer do convívio entre palcos, algumas viagens e espectáculos quer de um tempo em que jantávamos juntos com alguma frequência ali para as bandas de Benfica.
Em baixo uma fotografia na Casa do Alentejo em Lisboa com um outro querido amigo que foi o actor Rogério Paulo.
Hoje relembro do Carlos Paredes esta pequena história que nunca esquecerei.Íamos fazer uma sessão de música e poesia em Vendas Novas, segundo creio. Era domingo, almoçámos umas migas pelo caminho e, quando chegámos, só tínhamos um funcionário da Câmara Municipal para nos abrir o velho Cine-Teatro. Era improvável aparecer público para nos ver, disse-nos ele, porque o sector da Câmara que devia noticiar e divulgar o acontecimento se tinha esquecido de o fazer. Apareceram mesmo assim cerca de 10 pessoas. Não chegavam para encher a primeira fila de uma imensa plateia que teria umas centenas de lugares horrivelmente vazios.
Dizer poesia para uma imensa sala vazia é um arrepio. Eu estava gelado e sugeri ao Paredes que desistíssemos daquela sessão e combinássemos com a Câmara Municipal fazê-la noutra data."Então e estes, amigo Fanha?", perguntou-me o Paredes, apontando para os pouquíssimos presentes. "Estão cá para nos ver, não estão? São poucos mas bons! Vamos a eles!"E o Paredes tocou com o entusiasmo e o empenho com que tocaria numa daquelas grandes salas de concertos da Europa onde também levava a sua maravilhosa arte.
Depois desta grande lição que o Paredes me deu nunca mais pensei em desistir de um compromisso para dizer poesia, nem que tenha apenas um espectador.
Em baixo uma fotografia na Casa do Alentejo em Lisboa com um outro querido amigo que foi o actor Rogério Paulo.
Hoje relembro do Carlos Paredes esta pequena história que nunca esquecerei.Íamos fazer uma sessão de música e poesia em Vendas Novas, segundo creio. Era domingo, almoçámos umas migas pelo caminho e, quando chegámos, só tínhamos um funcionário da Câmara Municipal para nos abrir o velho Cine-Teatro. Era improvável aparecer público para nos ver, disse-nos ele, porque o sector da Câmara que devia noticiar e divulgar o acontecimento se tinha esquecido de o fazer. Apareceram mesmo assim cerca de 10 pessoas. Não chegavam para encher a primeira fila de uma imensa plateia que teria umas centenas de lugares horrivelmente vazios.
Dizer poesia para uma imensa sala vazia é um arrepio. Eu estava gelado e sugeri ao Paredes que desistíssemos daquela sessão e combinássemos com a Câmara Municipal fazê-la noutra data."Então e estes, amigo Fanha?", perguntou-me o Paredes, apontando para os pouquíssimos presentes. "Estão cá para nos ver, não estão? São poucos mas bons! Vamos a eles!"E o Paredes tocou com o entusiasmo e o empenho com que tocaria numa daquelas grandes salas de concertos da Europa onde também levava a sua maravilhosa arte.
Depois desta grande lição que o Paredes me deu nunca mais pensei em desistir de um compromisso para dizer poesia, nem que tenha apenas um espectador.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
RAÚL SOLNADO
Há pessoas com quem nos cruzamos ao longo da vida. Pessoas que nos marcam muito mesmo que o nosso convívio não seja sempre muito intenso.Comigo tem sido o caso do Raúl Solnado.
A fotografia abaixo é das filmagens de "Querido avô", uma série da RTP (1997) que eu escrevi e em que o Raúl era o magnífico personagem principal, um avô cheio de ternura, de poesia e de alguma saudável irresponsabilidade que arrastava e deixa-se arrastar pelo neto para aventuras muito pouco converncionais. Era um avô exactamente como eu, como nós todos gostaríamos de ter tido.
A série não teve grande impacto na altura. Não recordo mas talvez tenha passado nalgum horário menos nobre. Ou terá tido pouca divulgação. Coisas comuns nas televisões quando se trata de produtos mais delicados e menos vazios.
É pena. Era uma delícia. Divertimo-nos muito a fazer o "Querido avô". E creio que quem teve oportunidade de ver também se deve ter divertido bastante.Contava ainda com a participação do Ricardo Carriço, da Rita Salema e do Duarte que fazia o neto traquinas. Uma bela equipa em que participava ainda a Ângela Pinto.
Mas hoje quero, sobretudo, lembrar o Raúl Solnado. Porque trabalhar com o Raúl é uma festa. Ser amigo do Raúl é um luxo.
A fotografia abaixo é das filmagens de "Querido avô", uma série da RTP (1997) que eu escrevi e em que o Raúl era o magnífico personagem principal, um avô cheio de ternura, de poesia e de alguma saudável irresponsabilidade que arrastava e deixa-se arrastar pelo neto para aventuras muito pouco converncionais. Era um avô exactamente como eu, como nós todos gostaríamos de ter tido.
A série não teve grande impacto na altura. Não recordo mas talvez tenha passado nalgum horário menos nobre. Ou terá tido pouca divulgação. Coisas comuns nas televisões quando se trata de produtos mais delicados e menos vazios.
É pena. Era uma delícia. Divertimo-nos muito a fazer o "Querido avô". E creio que quem teve oportunidade de ver também se deve ter divertido bastante.Contava ainda com a participação do Ricardo Carriço, da Rita Salema e do Duarte que fazia o neto traquinas. Uma bela equipa em que participava ainda a Ângela Pinto.
Mas hoje quero, sobretudo, lembrar o Raúl Solnado. Porque trabalhar com o Raúl é uma festa. Ser amigo do Raúl é um luxo.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
O DIA EM QUE A MATA ARDEU
Começa assim:
"No sítio em que eu moro, um pouco mais à frente, quando acabam as ruas e as casas, começa uma mata que gosto muito de visitar. Ali, tudo é bonito e verde, e eu até costumo dizer que é a minha mata.Minha, minha, não é. Isto é só uma maneira de dizer... Como toda a gente sabe, a Natureza não tem dono."
Depois vai chegar a família dos pássaros Bisnaus...
"Veio o pai Bisnau que tinha cara de mau e cuspia para o chão.A mãe Bisnau, D. Bisnuca que era embirrenta, gosmenta e muitíssimo zaruca.A filha Bisnica, estica-larica, que pintava o bico de verniz e passava o dia a tirar macacos do nariz.E o filho Bisneco que comia até rebentar e ficava como uma bola a rebolçar."
Fizeram tantas que até conseguiram pegar fogo à mata. À "minha" mata!
E é desse desatre que este livrinho trata. Edição da Gailivro. Ilustrações da minha amiga Maria João Gromicho. Uma delícia.
"No sítio em que eu moro, um pouco mais à frente, quando acabam as ruas e as casas, começa uma mata que gosto muito de visitar. Ali, tudo é bonito e verde, e eu até costumo dizer que é a minha mata.Minha, minha, não é. Isto é só uma maneira de dizer... Como toda a gente sabe, a Natureza não tem dono."
Depois vai chegar a família dos pássaros Bisnaus...
"Veio o pai Bisnau que tinha cara de mau e cuspia para o chão.A mãe Bisnau, D. Bisnuca que era embirrenta, gosmenta e muitíssimo zaruca.A filha Bisnica, estica-larica, que pintava o bico de verniz e passava o dia a tirar macacos do nariz.E o filho Bisneco que comia até rebentar e ficava como uma bola a rebolçar."
Fizeram tantas que até conseguiram pegar fogo à mata. À "minha" mata!
E é desse desatre que este livrinho trata. Edição da Gailivro. Ilustrações da minha amiga Maria João Gromicho. Uma delícia.
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