sábado, 30 de abril de 2011

BOM DIA

Este tempo, este mundo, esta economia tão cega, esta pedagogia ofegante tão cheia de objectivos rombos e azedos, esta informação tão desinformante, fazem-nos esquecer muitas vezes o mais simples que é, se calhar, o mais complicado.

Precisamos de falar mais uns com os outros. Com todos os meios que temos à nossa disposição. E um lápis... Um lápis... Ainda um dia vai ser de novo uma alta tecnologia.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

EU TAMBÉM NÃO USAVA

O meu amigo Joaquim Cardeira da Silva enviou-te 3 anúncios notáveis e comoventes onde com poucos meios e muita criatividade se produzem grandes mensagens com extraordinária capacidade de impacto.


terça-feira, 26 de abril de 2011

EB1 de PENACOVA



Ler mais é fundamental para uma cidadania mais consistente. E para muito mais.

Uma geração que que se habitua a ler talvez venha a ser uma geração capaz de pensar melhor.

É uma esperança contra a incompetência que reina entre quem dirige e gere este país.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

VAI PENSAMENTO

O meu amigo Fernando Sousa enviou-me este vídeo explicando:

"Aconteceu no mês passado e foi um momento inesquecível.

Riccardo Muti acabara de reger o célebre coro dos escravos, Va pensiero, do terceiro acto de Nabucco, e o público do Teatro da Ópera de Roma, aplaudia incessantemente e bradava bis! (Cabe lembrar que, para além de sua intrínseca beleza, que é inexcedível, o VA PENSIERO foi também uma espécie de hino informal dos patriotas do Risorgimento e daí o enorme apelo emocional que preservou entre os italianos.)

Que faz, então, Ricardo Mutti? Volta-se para a plateia e, depois de recordar o significado patriótico do Va pensiero, pede ao público presente que o cante agora, com a orquestra e o coro do teatro, como manifestação de protesto patriótico contra a ameaça de morte contida nos planeados cortes do orçamento da Cultura."

Parece-me um bom exemplo para este nosso 25 de Abril num tempo tão deslavado e tão longe do grande pensamento. Um tempo em que muitos portugueses vão desgraçadamente ter de pagar as dívidas de alguns poucos.


sábado, 23 de abril de 2011

MAIOR QUE O PENSAMENTO

Da minha amiga Lila Lacerda recebi há dias a seguinte mensagem:

Pedi a alguns dos entrevistados para o documentário em três partes "Maior que o Pensamento", sobre o poeta, compositor e cantor José Afonso, por mim dirigido e que será exibido na RTP1 nos próximos dias 24, 25 e 26 deste mês logo após o Telejornal (cerca das 21h00), que resumissem a figura do artista numa única palavra. O resultado foi este segmento, que não fará parte do programa:


quinta-feira, 21 de abril de 2011

JAZZ E POESIA

Temos andado por aí, a espalhar Jazz e poesia em Bibliotecas, auditórios municipais e até em hoispitais.

A palavra a voar na música de dois fantásticos intérpretes. Costuma ser bom. Muito bom. Para nós e para quem nos ouve.

terça-feira, 19 de abril de 2011

TÃO PERTO TÃO LONGE



Foi no dia 1 de Abril, na Bibloteca Municipal David Mourão-Ferreira num bairro lisboeta que dois passos do Parque das Nações.

Um bairro que tem uma piscina que estava cheia às 10h00 da manhã com gente da terceira idade e foi com espanto que dei, ao balcão, a atender os frequentadores e a tentar explicar-me o caminho para a Biblioteca, com uma das filhas do meu compadre Nhó-Nhó da Curraleira, já desaparecido há uns anos e quem fui companheiro de sonhos e utopias nos idos do 25 de Abril. Mas isso é história que fica para outro dia.

Um senhor logo se ofereceu para me ensinar o caminho, cheio de orgulho de me mostrar a "sua" Biblioteca.

E lá cheguei finalmente, à bela Biblioteca David Mourão-Ferreira para colaborar com gente que adora fazer o seu trabalho de promoção da leitura, da directora ao próprio segurança. E reparo mais uma vez como é sempre enorme o sorriso de quem trabalha com os livros e a leitura.



Os meninos eram do Agrupamento de Escolas da Piscina dos Olivais, do Espaço Crescer e da Pastoral Cigana. Gente pequena mas enorme, gente que anda a crescer com histórias e com livros, ali tão perto, e se calhar tão longe, do Parque das Nações.

domingo, 17 de abril de 2011

O NOSSO AMIGO CHARLOT



Fez ontem 122 anos que nasceu Charlie Chaplin. Sobre a sua vida qualquer um pode pesquisar na Net, nomeadamente as acusações de comunismo que lhe fizeram nos EUA do Macarthismo e que o levou a exilar-se em Inglaterra.

Gostava apenas de relembrar essa figura única, comovento, genial, que ele criou: o Charlot.

Um pobretanas, esfomeado, desastrado e espertalhote, que à custa de mil e uma peripécias consegue livrar-se de polícias e pôr em causa o capitalismo que no auge dos seus filmes estava justamente na famosa crise de 1929.

Esquecemo-nos do Charlot. Desapareceu da televisão e do cinema. Muitos dos nossos meninos nunca viram um filme do Charlot, não riram nem choraram com ele, não aprenderam com ele a tropeçar nos primeiros degraus da amável, terrível e complexa condição da Humanidade




Talvez a condição pós-moderna tenha dificuldade em lidar com tamanha grandeza, tão clara mensagem e tamanha simplicidade.

Talvez os políticos e os economistas que têm andado a dar cabo deste mundo se dêm mal com as fintas do Charlot.

Penso que devemos voltar a fazer junto dos nossos meninos uma pedagogia baseada nesta claridade que hoje nos pode voltar a iluminar muito.



Cá para mim o Charlot foi o meu primeiro herói. E continua a ser. Talvez o maior herói de sempre. Aquele que não precisa de armas, nem fatos, nem poderes especiais, mas apenas da sua delicosa inteligência, do seu humor, da sua capacidade de nos emocionar, da sua fantástica condição de ser humano que se recusa a deixar-se vencer pelos poderosos e se mantém sempre e sempre como um homem digno e solidário.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

13 MILHÕES DE SALÁRIOS MÍNINOS

No dia 28 de Março, à mesma hora um grupo de jovens, de Norte a Sul do país colou este cartaz nas montras do BPN e fotografou-o para que não houvesse dúvidas.~

Dizem-mde que a informação, jornais e televisões, deixara, ignoraram a notícia. Não o posso garantir porque deixei de frequentar na nossa informação. Mas parece-me lógico que só transmitam discursos dos partidos no poder e reflexões oblíquas sobre os sacrifícios que teremos de fazer para pagar as necessidades dos Bancos que o FMI vai satisfazer.

É importante que esta notícia passe de boca em boca e de blogue em blogue.

Como dizia o poeta Daniel Filipe: há sempre alguém que diz não.~

A notícia completa vem no http://eopovopa.wordpress.com/

Transcrevo uma parte:

GUARDA


Quando falamos do buraco nas contas públicas deixado pelo BPN referimo-nos a cerca de 6500 milhões de euros, ou seja, a mais de 13 milhões de salários mínimos, mais de um salário mínimo por cada habitante deste país.

A Caixa Geral de Depósitos enterrou directamente no BPN cerca de 4600 milhões de euros, a somar aos 2000 milhões de euros em imparidades (activos tóxicos), o que perfaz cerca de 4% do PIB. Explicitando: este valor assemelha-se ao encaixe total que o Estado português prevê fazer com o plano de privatizações. Dito de outra forma, assemelha-se ao valor previsto pelo plano de austeridade de 2010, em que para o cumprir foram necessários os PEC, mas também o fundo de pensões da PT, no valor de 1600 milhões de euros. Este é o valor da factura que todo nós estamos a pagar.

PORTO



Quase três anos após a falência do BPN, podemos dizer que aquilo que estamos a pagar é a fraude,a promiscuidade entre a política e a finança, a cumplicidade e a troca de favores, os offshores, a evasão fiscal. Enfim, estamos a pagar o preço de um crime que não cometemos.

O caso BPN configura o processo de desagregação do Estado democrático, onde se salvam os accionistas e as entidades reguladoras, onde se escolhe salvar os activos nacionalizando os prejuízos à conta dos impostos que pagamos. O caso BPN diz-nos que em Portugal a fraude compensa e, quando esta vence, a democracia perde. Portugal está transformado num país onde há Estado máximo para alguns e Estado mínimo para quase todas as outras pessoas.

COIMBRA




Quando nos dizem que o tempo é de sacríficios , sabemos que a sua distribuição não é justa nem democrática. Quem escolhe salvar Bancos para salvar amigos legitima a corrupção. Para o fazer, corta onde é mais necessário: nos serviços públicos e nas prestações sociais.

Não nos falem de austeridade, falem-nos de justiça.

SETÚBAL

domingo, 10 de abril de 2011

LIVROS NA AREIA


Devo confessar que é um pouco desregrada a escrita deste blogue por onde algumas pessoas fazem a gentileza de passar de vez em quando.

Nunca fui muito organizado. Ou, se me permitirem, sempre segui padrões de organização um pouco etéreos e vagabundos.

Assim, há momentos vividos que, por gratidão, amizade, encanto, deveria aqui deixar assinalados.

Por razões oblíquas a referência a esses momentos fica no tinteiro. Ou melhor, na pen, ou no disco exterior, ou sei lá onde.

É o caso desta inauguração de uma magnífica Biblioteca Escolar na EB1 de Areias, Vila do Conde.

Pela omissão peço muita desculpa à minha amiga e Professora Ana Luísa Beirão que tanto fez para pôr de pé uma festa linda com que me mimoseou e que constituiu mais um momento no imenso trabalho que professores, bibliotecários, animadores socio-culturais, formadores, contadores de histórias fazem para alterar o panoirama da leitura em Portugal.

Por tudo, bem hajam.

sábado, 9 de abril de 2011

DÓNDE ESTÁ LA GENTE?

O meu amigo Manuel Freire enviou-me ete artigo do escritor espanhol Perez-Revert.

Estes comentários são tão parecidos com alguns que podemos fazer em relação à nossa situação. Mera coincidência? Ou efeitos da globalização?


sábado 26 de febrero de 2011

"ARTÍCULO DE ARTURO PEREZ REVERTE"

Arturo Pérez Reverte


SIN PALABRAS. SOMOS UN PAIS QUE TENEMOS LO QUE MERECEMOS


Hay un problema laboral del colectivo de controladores aéreos que afecta al 1,2% de la población española (600.000 personas) y casi todos saltáis como energúmenos pidiendo hasta el linchamiento de ese colectivo cuando el día anterior hacen otra reforma del sistema laboral más restrictiva, quitan los 420 euros de ayuda a 688.000 parados que están en la ruina y anuncian cambios drásticos a peor en la ley de pensiones que afectan al 80% de la población y nadie se indigna ni dice nada. ¿Sois idiotas?

Estáis pidiendo a gritos al Gobierno que se apliquen medidas que quitan el derecho a la baja laboral, a los permisos retribuidos y a las horas sindicales, sacar militares a la calle ¿sois idiotas?

Estáis leyendo que mintieron en los vuelos de la CIA, en el caso Couso, que González era la X del GAL, que gente del PP cobraba de la trama Gürtel, que hay políticos que cobran más de 230.000 euros al año, pero que nos cuestan más de 3 millones de euros, que la corrupción en la política no es excepción, sino norma, que ellos mismos se adjudican el derecho a cobrar la jubilación máxima con pocos años en las Cortes y a nosotros nos piden 40 de cotización, banqueros que consiguen del gobierno medidas duras contra los trabajadores y que tenían que estar en la cárcel por delitos demostrados de fraude fiscal y no decís nada, os quitan dinero para dárselo a esa gente que cobra cientos de miles de euros año, especula con nuestro dinero, defrauda a Hacienda y seguís callados ¿sois idiotas?

Tenéis una monarquía que se ha enriquecido en los últimos años, que apoya a los poderosos, a EEUU, a Marruecos y a todo lo que huela a poder o dinero, hereditaria como en la Edad Media ¿sois idiotas?

En Inglaterra o Francia o Italia o en Grecia o en otros países los trabajadores y los jóvenes se manifiestan hasta violentamente para defenderse de esas manipulaciones mientras en España no se mueve casi nadie ¿sois idiotas?

Consentís la censura en los medios de comunicación, la ley de partidos, la manipulación judicial, la tortura, la militarización de trabajadores sólo porque de momento no os afecta a vosotros ¿sois idiotas?

Sabéis quién es toda la gentuza de las revistas del corazón, futbolistas supermillonarios pero jamás escucháis a nadie como Saramago o Chomsky u otros mil intelectuales veraces y comprometidos con vuestros problemas ¿sois idiotas?

Si mucha gente responde sí, aún nos queda un poco de esperanza de conseguir acabar con la manipulación de los políticos y poderosos.
Si la mayoría contesta no, entonces estamos jodidos.

EL GOBIERNO: Ha bajado el sueldo a los funcionarios, suprimido el cheque-bebé, congelado las pensiones y reducido la ayuda al desempleo, (EL PARO), para afrontar la crisis que han generado los bancos los políticos y los especuladores bursátiles.

Nos gustaría transmitirle al Gobierno lo siguiente:

Dediquen su empeño en rebajar LA VERGÜENZA DEL FRAUDE FISCAL,que en España se sitúa alrededor del 23% del P.I.B. (10 puntos por encima de la media europea) y por el que se pierden miles de millones de €uros, fraude que repercute en mayores impuestos para los ciudadanos honestos.

TENGAN LA VERGÜENZA de hacer un plan para que la Banca devuelva al erario público los miles de millones de euros que Vds. les han dado para aumentar los beneficios de sus accionistas y directivos; en vez de facilitar el crédito a las familias y a las empresas, erradicarlas comisiones por los servicios bancarios y que dejen de cobrar a los españoles más humildes €30.01, cada vez que su menguada cuenta se queda sin saldo. Cosa que ocurre cada 1º de mes cuando les cargan las facturas de colegios, comunidades, telefonía, Etc. y aun no les han abonado la nómina.

PONGAN COTO a los desmanes de las empresas de telefonía y de ADSL que ofrecen los servicios más caros de Europa y de peor calidad.

ELIMINEN la duplicidad de muchas Administraciones Públicas, suprimiendo organismos innecesarios, reasignado a los funcionarios de carrera y acabando con los cargos, asesores de confianza y otros puestos nombrados a dedo que, pese a ser innecesarios en su mayor parte, son los que cobran los sueldazos en las Administraciones Públicas y su teórica función puede ser desempeñada de forma más cualificada por muchos funcionarios públicos titulados y que lamentablemente están infrautilizados.

HAGAN que los políticos corruptos de sus partidos devuelvan el dinero equivalente a los perjuicios que han causado al erario público con su mala gestión o/y sus fechorías, y endurezcan el Código Penal con procedimientos judiciales más rápidos y con castigos ejemplares para ellos.

INDECENTE, es que el salario mínimo de un trabajador sea de 624 €/mes y el de un diputado de 3.996, pudiendo llegar, con dietas y otras prebendas, a 6.500 €/mes. Y bastantes más por diferentes motivos que se le pueden agregar.

INDECENTE, es que un profesor, un maestro, un catedrático de universidad o un cirujano de la sanidad pública, ganen menos que el concejal de festejos de un ayuntamiento de tercera.

INDECENTE, es que los políticos se suban sus retribuciones en el porcentaje que les apetezca (siempre por unanimidad, por supuesto, y al inicio de la legislatura).

INDECENTE, es que un ciudadano tenga que cotizar 35 años para percibir una jubilación y a los diputados les baste sólo con siete, y que los miembros del gobierno, para cobrar la pensión máxima, sólo necesiten jurar el cargo.

INDECENTE, es que los diputados sean los únicos trabajadores (¿?) de este país que están exentos de tributar un tercio de su sueldo del IRPF.

INDECENTE,es colocar en la administración a miles de asesores = (léase amigotes con sueldos que ya desearían los técnicos más cualificados)

INDECENTE, es el ingente dinero destinado a sostener a los partidos y sindicatos pesebreros, aprobados por los mismos políticos que viven de ellos.

INDECENTE, es que a un político no se le exija superar una mínima prueba de capacidad para ejercer su cargo (ni cultural ni intelectual).

INDECENTE,es el coste que representa para los ciudadanos sus comidas, coches oficiales, chóferes, viajes (siempre en gran clase) y tarjetas de crédito por doquier.

Indecente No es que no se congelen el sueldo sus señorías, sino que no se lo bajen.

INDECENTE, es que sus señorías tengan seis meses de vacaciones al año.

INDECENTE, es que ministros, secretarios de estado y altos cargos de la política, cuando cesan, son los únicos ciudadanos de este país que pueden legalmente percibir dos salarios del ERARIO PÚBLICO.

Y que sea cuál sea el color del gobierno, toooooooodos los políticos se benefician de este moderno "derecho de pernada" mientras no se cambien las leyes que lo regula.
¿Y quiénes las cambiarán? ¿Ellos mismos? Já.

Juntemos firmas para que haya un proyecto de ley con "cara y ojos" para acabar con estos privilegios, y con otros.

Haz que esto llegue al Congreso a través de tus amigos.

ÉSTA SÍ DEBERÍA SER UNA DE ESAS CADENAS QUE NO SE DEBE ROMPER, PORQUE SÓLO NOSOTROS PODEMOS PONERLE REMEDIO A ESTO, Y ÉSTA, SI QUE TRAERÁ AÑOS DE MALA SUERTE SI NO PONEMOS REMEDIO, está en juego nuestro futuro y el de nuestros hijos.


¿DONDE ESTÁ LA GENTE? QUE LEVANTAN MASAS PARA EL FÚTBOL Y NO PARA DEFENDER NUESTROS DERECHOS.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

COM PAPAS E BOLOS

Todos os domingos, a Revista Pública dá ao papel na sua última página um inquérito com umas perguntas engraçadotas daquelas que tanto faz ser assim com ao contrário. As respostas às vezes são interessantes, outras vezes tão descartáveis como as próprias perguntas.

Este último domingo o inquirido foi um jovem de 27 anos, de nome Michael Seurat, Presidente da Juventude Popular e Deputado.

Sei que, que com algumas e honrosas excepções, os nossos deputados não primam pela cultura, pela finura de espírito,ou pelos vastos conhecimentos (nem, com frequência, pela boa educação).

Mas que diabos! Mesmo que na prática possam estar mais virados a tratar de interesses próprios ou do partido a que pertençam, a verdade é que é suposto serem representantes da Nação. E como tal, digo eu, é suposto tentarem não dizer muitos disparates e, se possível até, manterem uma atitude minimamente pedagógica em relação a quem os elegeu, ou seja, a própria Nação.

Vai daí, transcrevo:

"Pergunta- Qual o seu pintor favorito da escola flamenga?

Resposta do sr. Deputado - Como dizia o grande José Severino: "Eu é mais para bolos". Música, literatura ou cinema também, mas sobretudo bolos."

Fiquei fascinado pela finura da resposta e pela profundidade a requerer uma imensa onda de fluxo esofágico. Talvez tenha querido ser engraçado,é possível, mas cá para mim, mesmo que assim seja, a graça traduz certamente um desprezo altivo por essas coisas da cultura.



Lembrei-me logo daquela canção "ESTES SÃO OS FILHOS DA NAÇÃO..." dos Quinta do Bill.

E lembrei-me também daquela outra do Zeca Afonso:

"COM PAPAS E BOLOS
SE ENGANA O BURLÃO
OS QUE DE LÁ SÃO
E OS QUE PARA LÁ VÃO"

Continuamos na cauda da Europa tanto em iliteracia literária como iliteracia artística.

Está à vista que este país evolui pouco. A começar por cima (se é que se pode chamar cima a isto...).

E quanto ao resto, "NO COMMENTS" como dizia um antigo treinador inglês do Benfica.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ESCOLA SECUNDÁRIA BISPO ALVES MARTINS DE VISEU



Contar histórias e partilhar poesia é o ofício que vou praticando um pouco pelo país fora.

Tenho trabalhado com meninos do pé-escolar, do 1º, 2º, 3º Ciclos e também com os do Secundário e com adultos de todas as idades.

Devo dizer que tenho um fraquinho pelos jovens do Secundário. É fantástico abrir-lhes portas ou vê-los abri-las para caminhos que não conheciam, os caminhos que a grande poesia portuguesa lhes pode abrir.

Com os jovens do Secundário posso falar e trazer a poesia que anda à volta dos temas que vão de uma ponta à outra das grandes questões da vida.

Normalmente são diálogos muito emocionantes. Para eles e para mim.

Foi o que aconteceu nesta escola em Viseu que tem como patrono uma figura invulgar da História Portuguesa do séc. XIX. Um dia destes falarei aqui um pouco deste notável Bispo Alves Martins.

domingo, 3 de abril de 2011

ÂNGELO DE SOUSA



Foi um dos mais destacados artistas plásticos dos anos 60 e 70 e 80. Caminhou pelas experiências de vanguarda, pelo abstraccionismo, pela mais radical contemporaneidade.

Pertenceu ao famoso grupo dos "4 VINTES", com o Zé Rodrigues, o Jorge Pinheiro e o Armando Alves. Rasgaram convenções. Construíram a modernidade num país cinzento.

Cruzei-me com ele no Teatro Aberto na peça "TU E EU". Ele fez os cenários, eu a adaptação, a encenação era do João Lourenço e os actores o João Perry e o Miguel Guilherme. Guardo do Ângelo de Sousa o sentido de humor sempre pronto a disparar, a permanente inquietação e o talento invulgar.

Vai sair daqui a dias um livro meu que se chama "MARINHEIRO DE OUTRAS LUAS". Poemas paralelos à obra de muitos dos pintores da lusa modernidade. Entre eles, este, sobre uma tela, ou a partir de uma tela do Ângelo de Sousa.





TOTALMENTE COR-DE-LARANJA

(Sobre uma pintura de Ângelo Sousa)

Acordei cor-de-laranja
numa manhã de Dezembro.
Nem uma pequena estrela prateada
brilhava no meu peito.

Acordei totalmente cor-de-laranja
com a alma cúbica por dentro.

Sem sombras inquietas
nem fantasmas,
sem apetites lilases
nem disfunções a exigir
tratamento especial.

Acordei cor-de-laranja
num dia de sol frio
no início de Dezembro
pela manhã.

Não sei como explicar de outra maneira.

Era um dia igual aos outros.
No entanto
foi precisamente nesse dia
que me aconteceu
acordar cor-de-laranja.

Não cor-de-rosa ou malva
ou chartreuse
grasgroen
turkisblau
ocre foncée.

Não qualquer uma dessas cores
de que se veste o tédio
a angústia
a melancolia
a solidão.

Não.

Posso dizer
com toda a precisão
cirúrgica que
num dia do início de Dezembro
pela manhã
acordei cor-de-laranja.

Obviamente cor-de-laranja.

Rigorosamente cor-de-laranja.

Assumidamente cor-de-laranja.

E nada mais posso acrescentar
acerca desse pequeno
mas tão decisivo
acontecimento da minha vida.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

JOÃO RUELLA



Foi-se embora o João!

Era arquitecto, tinha um bigode maior que o meu. Penteava-se com um descuido que eu lhe invejava. Era um grande senhor como já vai havendo muito poucos. Amável, culto, elegantemente desarrumado, com um sorriso que deixava uma ponta de sol no peito dos amigos com quem se cruzava.

O João pertencia a uma família notável. Os Ruella Ramos, proprietários de um jornal que atravessou com notável dignidade cerca de 70 anos do séc. XX.

O irmão, António Ruella Ramos, director durante anos do velho "DIÁRIO DE LISBOA", deixou-nos também há cerca de um ano. Fica a certeza de que quem quiser conhecer no seu dia-a-dia o século que passou tem de mergulhar nas páginas do velho "DL".



Em 1972, miúdo de 21 anos, desaguei na famosa "MOSCA", suplemento humorístico do DL onde eu assinava com o pseudónimo de Urbano Cidades. Aí conheci o Zé Cardoso Pires (o grande, talvez o maior romancista do séc. XX), o Luís Sttau Monteiro (grandíssimo escritor e autor das famosas redacções da Guidinha). Viríamos a tornar-nos amigos intensos. Cruzámo-nos na velha "VISITA DA CORNÉLIA" com o Assis Pacheco, mais uma vez, de quem recebia pelo Natal a poesia publicada em fascículos destinados apenas aos amigos e que só depois viria a ser conhecida na sua notável dimensão.

E no meio de gente notável conheci então, também, o João Ruella Ramos.

Cruzámo-nos ao acaso da vida. Muitas vezes em S. Pedro de Sintra. Unia-nos o curso de arquitectura, o bigode, a melena às três pancadas, o abraço e o gosto de conversar.

Agora resta apenas o abraço que um dia havemos de voltar a dar. Até lá, caro amigo, cuidado com as distracções. Não te enganes no caminho. Boa viagem.