segunda-feira, 30 de junho de 2008

POETAS FORA DE MODA

A poesia tem sido uma companheira imprescindível nos bons e nos maus momentos da vida.

Poetas há que me iluminaram, que me encheram de música, que me inquietaram, que me fizeram revoltar e arder, que me irritaram, que…!

Nunca me foram indiferentes. Nenhum me foi indiferente. Nem o mais humilde. Nem o mais desajeitado. Nem o mais presunçoso. Porque todos têm uma ferida e essa é a matéria de que se faz o poema. Alguns conseguem transformar em luz a sua dor e fazem uma ponte entre si e o outro.

Outros fazem negócio e vestem-se de banalidade ou lágrima de fancaria, ou desespero prêt-à-porter, ou pompa literária de grande efeito e pouca consistência.

Na poesia também existem modas com todos os equívocos que as modas provocam. Há poetas que andam hoje na moda e qualquer dia são esquecidos. E outros cujo nome desaparece da ribalta mas que, com o passar do tempo, volta a aparecer aqui e ali quando procuramos as colunas sólidas que sustentam a casa do poesia.

Começo hoje uma pequena viagem por poetas que não estão na moda, poetas que é bom lembrar, poetas em que podemos beber alguma da melhor água da poesia portuguesa.

LUÍS VEIGA LEITÃO (1912-1987)




Luís Veiga Leitão


Foi escriturário da 7.ª Brigada Cadastral da Federação dos Vinicultores da Região do Douro, mas foi demitido por ser contra o regime salazarista. Foi delegado de informação médica de vários laboratórios farmacêuticos.

Para além de poesia, escreveu crónicas de viagens e de costumes. Foi também artista plástico, dedicando-se ao desenho.

Existe uma placa na casa onde nasceu em Moimenta da Beira.

Tem a sua obra publicada na Editora "Campo das Letras".

A UMA BICICLETA DESENHADA NA CELA

Nesta parede que me veste
da cabeça aos pés, inteira,
bem hajas, companheira,
as viagens que me deste.

Aqui,
onde o dia é mal nascido,
jamais me cansou
o rumo que deixou
o lápis proibido...

Bem haja a mão que te criou!

Olhos montados no teu selim
pedalei, atravessei
e viajei
para além de mim.

Luís Veiga Leitão

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A LIRA O POVO




Eu e o Zé Jorge Letria continuamos neste trabalho de dar a ler através de antologias temáticas algunsa caminhos que atravessa a poesia portuguesa.

Agora juntámos 500 quadras populares.

Uma quadra é uma pérola de palavras feita. Pode pensar-se que é fácil, mas exige uma muito hábil carpintaria da palavra.

Com um poder de síntese que permite em quatro versos tudo, ou quase tudo, dizer sobre o modo como um povo lida com a adversidade, com a alegria, com o ciúme, com o sagrado, com a vida e com a morte, constituindo, assim, no seu todo, uma poderosa crónica do nosso viver em comunidade ao longo dos séculos.

QUADRAS POPULARES

Se quiseres ver o meu peito
Desaperta o meu colete.
Lá verás meu coração
Na ponta de um alfinete.

Minha mãe p’ra eu casar
Prometeu-me três ovelhas,
Uma manca a outra cega,
Outra mouca, sem orelhas.

Mostrai-me os vossos pezinhos
Ó meu Menino Jesus;
De joelhos vou beijá-los
Antes que os preguem na Cruz.

Laranja, laranja azeda,
Oh laranjinha, limão,
O pai quer, a mãe consente,
E a filha não diz que não.

Não te encostes à parreira,
Que a parreira deita pó;
Encosta-te á minha cama,
Sou solteira e durmo só.

Não vi ribeira sem água,
Nem praça sem pelourinho,
Nem donzela sem amores,
Nem padre sem beber vinho.

Passei a raia de Espanha
A cavalo num mosquito;
Disseram-me as espanholas:
- Que cavalo tão bonito!

Duas horas tem o dia,
Duas horas nada mais,
É uma quando tu chegas,
A outra quando te vais.

terça-feira, 24 de junho de 2008

DE NOVO PRÉVERT



E cá vem de novo este poeta que não me cansa e cujas palavras me correm no sangue há muitos anos.

JACQUES PRÉVERT foi autor de letras de canções, de guiões de cinema, de peças de teatro, de colagem. Em tudo o que fez há sempre um bocadinho de nostalgia, uma brisa de ternura, um grãozinho de loucura. A poesia nele, está em toda a parte, em todo o gesto.

Ficaram famosas entre outras obras a canção LES FEUILLES MORTES (Autumn Leaves) com música de Joseph Kosma e que se tornou num standard do Jazz.

Nos guiões que fez para filmes realizados por Marcel Carné ficaram famosos vários entre os quais LE QUAI DES BRUMES e LES ENFANTS DU PARADIS (título que para portuiguês teve uma tradução completamente idiota - As crianças do paraíso - quando a tradução deveria ser OS MIÚDOS DO GALINHEIRO, já que Paradis é o lugar mais alto e mais barato dos teatros, lugar que em português é conhecido por Galinheiro)

PARA TI MEU AMOR

Fui ao mercado dos pássaros
E comprei pássaros
Para ti
Meu amor
Fui à loja das flores
E comprei flores
Para ti
Meu amor
Fui ao ferro-velho
E comprei correntes
Pesadas correntes
Para ti
Meu amor
Depois fui ao mercado dos escravos
E procurei-te
Mas não te encontrei
Meu amor

JACQUES PRÉVERT

(Tradução José Fanha)

POETA TAMBÉM DE IMAGENS



JACQUES PRÉVERT, Colagem

JACQUES PRÉVERT



Outro dos poetas da minha vida.

Pelos 16 anos apaixonei-me pela sua poesia clara, luminosa, irreverente, terna e louca.

Ainda hoje o visito de quando em vez para matar saudades e redescobrir o imenso prazer desse grande ofício da palavra que Prévert exercia.

BAIRRO LIVRE

BAIRRO LIVRE


Pus o barrete na gaiola
e saí com o pássaro na cabeça.
Então
Já não se faz a continência
perguntou o comandante.
Não
Já não se faz a continência
respondeu o pássaro.
Ah! Bom
desculpe julguei que se fazia a continência
disse o comandante.
Está desculpado toda a gente se pode enganar
disse o pássaro.

Jacques Prévert

(Tradução: José fanha)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O MEU AMIGO JÚLIO PEGO

Outro poeta. Poeta das formas, da pintura, da escultura, do ferro. Sobretudo, outro grande amigo.

Conhecemo-nos por volta de 69 no meio das lutas estudantis, RIAS, grupos de teatro universitário, sessões culturais, sei lá que mais.

O Júlio andava com a malta de Medicina que se juntara ao grupo de Teatro de Direito, encenado pelo argentino Adolfo Gutkin (que expulso do país pela PIDE e que para cá veio viver depois do 25 de Abril).

Eu era de Arquitectura e andava no Gupo de Teatro do Técnico.

O Júlio tinha uma casa em S. Domingos de Benfica. Porta aberta, casa livre, disponível a todas as artes e a todos os convívios, a todos os sonhos.

Sempre foi um espíriro inquieto, o Júlio. Ligou-se a inúmeros projectos culturais e cívicos. Escreveu poesia. Tornou-se médico psiquiatra. Andou pelo tango. E um dia, resolveu pintar, primeiro,e, depois, fazer escultura em ferro.

Da produção intensa pode ver-se aqui um bocadinho e mostra que um homem, como diz o Fernando Assis Pacheco, "tem de viver com um pé na Primavera".

Ao longo destes 39 anos acompanhámo-nos sempre. Mais perto ou mais longe. Agora, nesta idade madura, cada vez mais perto.

É bom ter amigos destes com quem as memórias não pesam para trás. Pelo contrário. Puxam sempre para a frente. Para o lado dos sonhos e das utopias que é o país onde sempre quisemos viver.

PINTURA NA ORDEM DOS MÉDICOS



JÚLIO PEGO

Exposição na ORDEM DOS MÉDICOS, Março de 2008

ESCULTURA EM TOMAR



JÚLIO PEGO

Exposição de esculturas no CONVENTO de CRISTO TOMAR em Setembro de 2007

sábado, 21 de junho de 2008

O MEU AMIGO TIAGO

Há pessoas que escrevem poesia e há pessoas que vivem a poesia.

O meu muito querido amigo TIAGO CARVALHO é dos que a escreve, ás vezes, mas, sobretudo, dos que a vivem.

A nossa amizade vem de há uns vinte e qualquer coisa anos quando ele foi meu aluno de História de Arte e outras disciplinas da área das Artes na Esc. Secundária José Afonso de Loures.

Pertencia á melhor turma que já tive na minha vida. Um grupo de alunos fantásticos. Aprendemos muito uns com os outros. Digo-o com todo o orgulho porque professor que não saiba aprender também não sabe ensinar.

Andávamos apaixonados pela pintura do Miró, pela música do Tom Waits, pela poesia de Neruda, entre muitos outros.

Nesse grupo de alunos, o Tiago distinguia-se pela sua fome de aprender, pela forma deslumbrada como ia entrando pelo mundo das artes dentro, por ser muito grande e desençonçado, e por não gostar de ler.

Formou-se em Design e hoje é professor do 2º Ciclo em Aveiro, tem vários blogs, tornou-se num leitor fervoroso e escreve de uma forma tão límpida e clara que chega a comover.

É casado e tem uma filha especial como é especial o amor que lhe dedica. Continua apaixonado pela arte, pelas pessoas, pela vida.

Reencontrámo-nos há pouco tempo e a amizade voltou a ferver. Ontem enviou-me um texto que quero muito partilhar com os que fazem o favor de me visitar neste sítio.

Um blog é também isto: falar dos amigos e, sobretudo, daqueles que mais do que escrever vivem ou procuram viver em estado de poesia.

FELICIDADE DAS HIENAS

Para as hienas foi um ano de grande felicidade.
Encontraram um elefante morto na entrada da cidade.
Encontraram um elefante em decomposição à entrada da cidade.
Comeram que se fartaram, a carne estava um pouco podre, mas comeram que se fartaram à entrada da cidade.
Foi um momento raro de felicidade na vida vazia das hienas.
Foi um grande momento para recordar sempre que entrarem na cidade.
Dizem uma para as outras "lembram-se naquele ano, tanta carne à entrada da cidade".
Agora terão que esperar pelo próximo ano lectivo, talvez outro elefante morra à entrada da cidade.
E eu estou por um fio, estou à entrada da cidade.
Eu estou a ficar um pouco louco, ainda bem, porque senão serei comido mesmo aqui na entrada desta cidade.

Tiago Carvalho

http://minimagens.blogspot.com/2008/06/entrada-da-cidade.html

quarta-feira, 18 de junho de 2008

CANTIGAS DA DÚVIDA E DO PERGUNTAR




O meu primeiro livro de poemas. 1970. Editado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa.

Em boa parte foi apreendido pela PIDE.

ESTE ERA O NOSSO POEMA

(Este foi um dos primeiríssimos poemas que disse em público, corria o ano de 69, em que entrei para a Faculdade - Escola Superior de Belas Artes de Lisboa -, apanhei a chamada Crise Académica e me integrei rapidamente na luta dos estudantes que foi crescendo e teve um papel destacado na criação de condições para que se desse o 25 de Abril.)

Leia-se em tom progressivamente bonzinho, monótono e, finalmente, provocatório.



ESTE É O NOSSO POEMA



Este é o poema do tédio
e da apatia

Este é o poema repetido
dia-a-dia
e já esquecido

Este é o poema do sono
da indiferença
do vazio
Este é o poema sem dor
sem fome
e sem frio

Este é o poema dos relógios
sem ponteiros
este é o poema que nunca chegou
a sair do tinteiro

Este é o poema repetido
nos mesmos sítios
nos mesmos sons
Este é o poema do destino
de quem o segue
dos «homens bons»

Este é o poema lento
quase parado
Este é o poema cinzento
mas agasalhado

Este é o poema com gravata e peúgas
da mesma cor

Este é o poema de entrar e sair
«bom dia» «boa tarde»
Este é o poema do desamor

Este é o poema dos truques
consentidos
pequenas batotas
Este é o poema da morte a conta-gotas

Este é o poema da vida inteira
frente à televisão
Este é o poema da pasmaceira
Este é o poema sem discussão

Este poema é um esquema
Este poema é uma máquina
Este poema é uma festa
Este poema porta-se bem
não contesta nada

Este é o poema que percorre livremente
o caminho permitido
Este é o poema que canta
o amor instituído
Este é o poema do discreto beija-mão
Este é um bonito poema,
batam palmas
porque este poema
não diz que não

Este é o nosso poema
Este é o poema
Este é o nosso poema

ESTE POEMA NÃO ESTÁ PROIBIDO




jOSÉ FANHA

(in, "Cantigas da Dúvida e do Perguntar", 1970, reeditado em "Eu sou Português aqui", 1998, Ulmeiro)

DIAGRAMA



Séc XVI

Diagrama colorido. A figura triangular contém sentenças tiradas das sagradas Escrituras. No interior um planisfério com o sistema Ptolomaico.

Da colecção pessoal de Elias Ashmole (séc. XVII), cientista, alquimista e coleccionador de antiguidades e livros antigos.

Ver BIBLIODISSEY.

A AMENDOEIRA

A AMENDOEIRA


Desce a nostalgia sobre os olhos da tarde
semeando véus de neblina
searas indistintas
sílabas cinzentas.

Só a amendoeira resiste
e diz:
a mim tu não me apagas
noite.

Não me seduzes com o canto
dos teus pássaros nocturnos.

Não me contaminas com as tuas sombras
e fantasmas.

Tenho o coração fechado a sete brancos.


José Fanha

(in "Tempo Azul")

domingo, 15 de junho de 2008

MÃE E FILHO



Pablo Picasso

FIM DE TARDE

FIM DE TARDE

Não agites o silêncio
não toques a limalha
da matéria luminosa
não ofendas essa longa
etérea rosa
que tacteia
o linho da toalha
ao fim do dia.

Exausta de alegria
a criança vem
derramando mil pedrinhas
borboletas
pétalas marinhas
sobre as pálpebras da mãe.

Não desvendes o mistério
desse redondo hemisfério
não inventes outro céu.

No novelo aconchegado
do centro do seu império
a criança adormeceu.


José Fanha

(in, "Breve tratado das coisas da arte e do amor")

sábado, 14 de junho de 2008

PABLO NERUDA




Há uma limpeza muito clara em quase toda a sua poesia. Há uma atenção enorme às pequenas coisas do mundo. Há uma humanidade simples e palpitante em cada verso seu.

É um dos grandes poetas da minha vida. Volto sempre a ele como se voltasse a uma casa imprescindível.

UMA VASSOURA

O CULPADO

Declaro-me culpado de não ter
feito, com estas mãos que me deram,
uma vassoura.

Porque é que não fiz uma vassoura?

Porque é que me deram mãos?

Para que é que me serviram
se só vi o rumor do cereal,
se só tive ouvidos para o vento
e não apanhei a cerda
da vassoura,
ainda verde na terra,
e não pus a secar os talos tenros
e não os pude unir
num rosto dourado
e não juntei um cabo de madeira
à saia amarela
até dar uma vassoura aos caminhos?

Assim foi:
não sei como
a vida foi-se
sem que eu aprendesse, sem ver,
sem recolher e unir
os elementos.

Não nego nesta hora
que tive tempo,
tempo,
mas não tive mãos,
e assim, como podia
aspirar com razão à grandeza
se não fui capaz
de fazer
uma vassoura,
uma só,
uma?


PABLO NERUDA

Traduçao de José Fanha

quinta-feira, 12 de junho de 2008

1969



Conheci o Zeca por estes dias há 39 anos num espectáculo nocturno na Escola Superior de Agronomia de Lisboa.

Com ele estavam o Adriano, o Xico Fanhais, talvez o Barata Moura, o Zé Jorge Letria, o Denis Cintra e muitos mais de que já não me lembro.

O AP Braga, também cantor, conhecia os meus poemas e, quase à força, atirou-me para o palco. A partir daí passei a andar de poema às costas por Seca e Meca. Parece que ainda não parei.

O exemplo do Zeca e as suas canções nunca me deixam.

PARA CONTAR AOS MAIS NOVOS QUEM ERA O ZECA

O ZECA AFONSO


Foi um grande cantor, um grande músico e, acima de tudo, um grande ser humano que viveu a maior parte da vida durante a ditadura fascista de Salazar e, devido às suas ideias livres, democráticas e populares, foi muitas vezes preso, proibido de ser professor, que era a sua profissão, e proibido de cantar, que era a sua paixão.

Apesar de tudo, o Zeca não se deixava ir abaixo. Misturava as suas palavras e as suas melodias com as palavras e as melodias do povo, para compor cantigas de uma grande originalidade. E era com essas cantigas que andava pelo país fora a juntar pessoas e a dizer-lhes que era possível ser feliz e era possível acabar com a ditadura e viver numa terra livre, alegre, sem prisões e sem guerra.

Tinha 18 anos quando conheci o Zeca. Eu escrevia e dizia poemas e juntei-me a ele e a outros que faziam da poesia e da canção uma forma de resistir à ditadura, à repressão e à infâmia que é uma palavra que quer dizer falta de honra, que era o que faltava a todos os que seguiam a ditadura do Salazar.

Como se não bastasse, o Zeca era mais que tudo isto. Era um homem bom, de espinha direita, sempre desejoso de saber e de aprender com todos. Queria saber notícias de outras paragens, dos homens que sofriam em África, na América do Sul, no Brasil e noutros países, mesmo nos mais longínquos. Lia e estudava permanentemente para saber mais e poder ensinar melhor, porque ele gostava muito de ensinar mesmo depois que a ditadura o tivesse proibido de ser professor.

Fazia amigos em toda a parte e à sua volta juntava-se sempre muita gente, músicos, poetas, artistas. Onde o Zeca estava havia sempre uma porta aberta, uma mesa posta e um canto para quem quisesse descansar.

Era assim o Zeca e ainda hoje as suas canções fazem parte da minha vida e da vida dos muitos homens, jovens e meninos que encontram na sua poesia e na sua música um alento para tentar tornar o mundo num lugar mais justo e mais feliz para todos.

José Fanha

terça-feira, 10 de junho de 2008

MAGIA DAS PALAVRAS




A imagem e o texto que se segue, do meu amigo Bartolomeu Campos de Queirós, foram "roubados" ao interessante blog brasileiro:

http://leonorcordeiro.blogspot.com

Vale a pena visitar. Para quem gosta da magia das palavras.

LIVRE TERRA IRMÃO

"Querido Mateus


Palavras que amamos tanto, há muitos anos, dormem em dicionário. Hoje tirei do sono três palavras para dar de presente a você: Livre, Terra e Irmão.
Quando escritas, lê-se poesia; se faladas, são melodia; somadas, fazem novo dia.

Com saudades, despede a
Ana "


Correspondência


Bartolomeu Campos Queirós
Editora Miguilim

domingo, 8 de junho de 2008

1900 - TÃO LONGE, TÃO PERTO



Continua a haver gente que precisa de poesia, tanto como de pão para a boca. Todos nós precisamos. Alguns não sabem. Mas também precisam.

sábado, 7 de junho de 2008

O QUE É A POESIA QUE NÃO SALVA?

“O que é a poesia que não salva

Nações ou pessoas?

Um conluio com mentiras oficiais,

Uma canção de bêbados cujas gargantas serão cortadas num momento,

Leitura para raparigas de liceu.”


Czeslaw Milosz, poeta polaco, prémio Nobel em 1980, “Dedicatória” (tradução Jorge Gomes Miranda, ed. Cavalo de Ferro

quarta-feira, 4 de junho de 2008

ESCOLAS E BIBLIOTECAS

Mais algumas recordações de momentos muito especiais ligados a esta actividade calorosa que é a de andar com histórias e poesia às costas por escolas e bibliotecas.

ALBUFEIRA



No Auditório Municipal de Albufeira com o meu querido amigo Luís Abreu,maravilhoso apaixonado pela poesia, pelo ensino e pelos seres humanos.

ÉVORA




EB1 da Av. Heróis do Ultramar

ÉVORA




EB1 da Av. Heróis do Ultramar, uma escola muito especial e uma sala muitíssimo especial, em tudo, pela emoção dos meninos e pela qualidade humana e pedagógica da Professora Rita Carrapato. Uma amizade comovida que me vai ficar no coração para o resto da minha vida.

terça-feira, 3 de junho de 2008

ULISSES

Ulisses

Não teria Ulisses
conhecido
os versos de Machado
e no entanto
também ele
não sabia
outro caminho
que o seu próprio caminhar.

Era grego
marinheiro
e é fácil encontrá-lo
á hora da sesta
à sombra das oliveiras.

Dizem os mais
competentes
batoteiros
que um dia o sentiram
de passagem
numa taberna de Cádis.
Outros em Tunes.
Numa janela em Palermo.
Num recanto de Lisboa.

De tudo só dou por certo
que um rasto da sua sombra
fica a pairar
sobre as pedras
onde se acendem os sonhos
de todos
os caminheiros.

José Fanha, in "Elogio dos peixes, das pedras e dos simples"