sábado, 31 de maio de 2008

DESOBEDIÊNCIA COMO CIDADANIA

Volto ao livro de Laborinho Lúcio quando ele sublinha a posição de José Manuel Pureza ao bater-se pela "valorização da desobediência", e afirmando ser esse o "mandamento fundamental da educação para a cidadania democrática: educar para a desobediência crítica" (in, "Por um contrato Socio-Educativo Pela Cidadania, Qualidade e Avaliação da Educação, CNE, 2002)

Educar para a liberdade, digo eu agora, é também educar para o direito, ou seja, para a o direito à diferença e para o diálogo entre diferenças.

Isto implica que uma escola não possa ser um armazém de crianças e jovens a quem se ministram freneticamente uma vasta lista de saberes mas um espaço de crescimento mútuo e partilha. É aí que entra a arte e a criação como infraestrutura fundamental ao processo verdaeiramente educativo.

Para mais, vale a pena ler o livro todo. E reler. E pensar. E discuti-lo.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

EDUCAÇÃO, ARTE E CIDADANIA

COMPETÊNCIA E COMPETÊNCIAS

Há quase 30 anos que me tornei amigo de Álvaro Laborinho Lúcio. Vários foram os laços que teceram esta amizade e um deles foi certamente a convicção profunda e comum de que sem arte não há Homem e de que o futuro só poderá nascer através da arte e da cidadania, ou seja, do reconhecimento da diversidade, da complexidade e da alteridade.

A inteligência e o olhar arguto deste homem tranquilo e intenso são um desafio permanente ás nossas convicções.

Estive ontem a ouvi-lo no lançamento deste livrinho pequeno e notável. "EDUCAÇÃO ARTE E CIDADANIA". Como de costume fiquei encantado e senti-me profundamente levado a questionar-me sobre um ror de motivos relacionados com o ensino e a forma como o vemos hoje em dia.

Laborinho Lúcio falou de coisas simples. A liberdade, os direitos de cada um, os direitos dos outros. Coisas que muitas vezes só olhamos de um dos lados.

No final da sessão, traçou dois grandes caminhos para o ensino, o ensino para a competência, para o saber fazer, por um lado, e por outro, o ensino para a alteridade, a cidadania, o saber ser, onde, sem ingnorar o saber fazer, a arte e as humanidades terão um papel determinante e onde é fundamental aprender a pensar e a escolher.

Laborinho deixou-nos com uma provocação final apontando para o caso de maior competência conhecido nos últimos anos: a destruição das torres gémeas. O objectivo foi plenamente atingido. Mas será que os que o executaram tinham desenvolvido as outras competências, o pensar e o escolher? E que tinham desenvolvido uma relação construtiva com o conceito de alteridade?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

E PORQUE AINDA É MAIO...

AL-GUANTANAMO

Mão amiga fez-me chegar este texto que creio circular por aí há algum tempo. Fica bem nos 40 anos do Maio de 68.





“MOVIMENTO FECHA PORTUGAL”


Boletim informativo


AL - GUANTANAMO

O ALGARVE PODE VOLTAR A MUDAR DE NOME


AL - GUANTANAMO é o nome com que o Algarve poderá ser baptizado no caso de ser aprovado o novo plano de ocupação turística do Sul de Portugal.

Um estudo recente encomendado à empresa Narnett Clesius de Michigan trouxe-nos um conceito absolutamente revolucionário que poderá ajudar a uma ocupação extensiva do nosso parque hoteleiro. Trata-se de receber entre nós agentes subversivos árabes, coreanos e de outros países para períodos mais ou menos prolongados de terapias intensivas anti-stress.

Em breve veremos aparecerem o Guantanamo Village, o Guantanamo Inn, os Terraços de Guantanamo, etc, etc.

Além de implicar uma rentabilização plena das infraestruturas turísticas algarvias mesmo nas épocas baixas, este projecto permitirá ainda pôr um ponto final sobre a questão do transporte de prisioneiros de guerra através do espaço aéreo português. O governo deixará de se engasgar com tais notícias e de dar respostas pouco convincentes.

Os aviões militares norte-americanos deixarão de atravessar o nosso espaço aéreo porque os pacientes candidatos às ditas terapias passarão a estar cá em permanência. Não sobrevoam, já cá estarão.

Terapeutas e massagistas estarão já a ser recrutados entre antigos profissionais das polícias chilena, brasileira, argentina e uruguaia.

Caso se confirme este grande projecto, por meras razões de segurança, será necessário deslocar toda a população algarvia para o Sul de Espanha, o que constituiria um passo em frente naquilo que o "Movimento Fecha Portugal" tem vindo a reclamar há bastante tempo: o fecho integral do país.

Já se fecharam centros de saúde, escolas primárias, postos de trabalho, etc, etc. É preciso ter a coragem de levar esta política até às suas últimas consequências e exigir o fecho do país.

Grita connosco: “FECHA PORTUGAL”!*





*
“MARIA MIQUELINA”, produção de textos, notícias falsas e verdadeiras, discursos para todas as ocasiões, argumentos para comédias, palpites para a localização de aeroportos, organização de eventos patrióticos, casamentos e baptizados, dietas de emagrecimento, boatos, pareceres jurídicos contraditórios, piadas ranhosas sobre primeiros-ministros não especificados, processos disciplinares avulso, receitas culinárias, marcação de cama nos nossos melhores motéis, organização de orgias com meninas esculturais brasileiras para políticos de todas as cores, comentários futebolísticos sérios, palpites seguros sobre candidatos a secretários gerais, etc, etc, etc.

NÃO FUI EU QUE DISSE!

“O Público” de 25.05.08



“… Manuela Ferreira Leite representa o que há de mais genuíno e profundo no partido: a tradição autoritária que vem de Salazar e Marcelo e que Sá Carneiro e depois Cavaco manifestamente receberam.”

VASCO PULIDO VALENTE

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O MILAGRE DOS PROFESSORES

“O Público” de 25.05.08


“Se queremos reformas na área da saúde ou educação, não podemos separar-nos completamente dos protagonistas que estão no terreno porque são eles que vão dar corpo ao que se pretende fazer.
Temos um conjunto de professores que fazem todos os dias o milagre de fazer funcionar muito bem as escolas públicas e privadas. Para que esses professores mantenham a sua capacidade e empenho no que fazem têm de ter estabilidade.”

PROFESSOR MARÇAL GRILO (ex-Ministro da Educação)

domingo, 25 de maio de 2008

BIBLIODISSEY




O meu amigo Artur envia-me quase todos os dias imagens de um blog que publica imagens lindíssimas, a BIBLIODISSEY.

Aqui vão uns peixes chagados de lá.

As imagens, gravuras pintadas à mão são extraídas de:

'A Selection from the most Remarkable and Interesting of the Fishes Found on the Coast of Ceylon from Drawings made in the Southern Part of that Island from the Living Specimens by John Whitchurch Bennett, 2nd Ed. 1834'.

UM PEIXE DO SEIXAL




Este é um dos trabalhos que fizeram os alunos da EB1 do Alto dos Moinhos, Seixal, a propósito do meu livro "O DIA EM QUE O MAR DESAPARECEU".

Já aqui publiquei alguns destes peixes. Ficou este de reserva. Penso que agora fica muito bem ao lado dos peixes da BIBLIODISSEY.

O nome do autor é que desapareceu com o tempo. Se ele ou ela por aqui passarem, digam "Olá, O MEU NOME É..." e logo darei o seu a seu dono.

sábado, 24 de maio de 2008

LISBOA VISTA POR UM AMIGO DINAMARQUÊS

Lisbon, Portugal. Lisbon is the most underrated capital in Europe. Maybe it's because Portugal is a bit out of the way (travel directions: go to Spain and turn left) - but no matter what, this city is a gem. It's charming with old trams that remind you of Eastern Europe, except for the kinky Coca Cola ads.

When you walk around Baixa, the street vendors offer you sun glasses and cocaine - that's kinky, too.

Lisbon is the cheapest capital in Western Europe, but that's not what makes it special. It has gorgeous castles, corny cathedrals, and wonderful atmosphere in picturesque Alfama. Take a stroll and look through people's windows, kick a kid's soccer ball, fall in love with the wrinkled old timers. You can't go wrong in Lisbon, unless you visit one of the fado restaurants in Barrio Alto. These places are tourist traps - they're like Portuguese bierstuben with washed up fado singers, obnoxious waiters, and overpriced espetada.

The first and only time I went, the waiter started off by putting a huge book on our table: This is a complaints book, it said in poor English. An hour later we started writing ...

But don't let this fool you. Lisbon should be on any one's itinerary. It has the same atmosphere Rome used to have when I was a kid. But the Portuguese are more subdued than the Italians. And Lisbon still seems as if it has no intention of entering the 21st century.

That was meant as a compliment, by the way ...

O meu amigo PETER FOGTDAL, autor destas linhas, é um magnífico escritor dinamarquês com dois belos romances. Vale mesmo a pena lê-los.

"A ANÃ DO CZAR" de PETER FOGTDAL

"O PARAÍSO DE HITLER" de PETER FOGTDAL

sexta-feira, 23 de maio de 2008

POBREZA E DESIGUALDADE EM PORTUGAL

Pobreza e desigualdades sociais estão a agravar-se em Portugal

O relatório do Eurostat, o organismo estatístico da União Europeia, sobre a situação social nos Estados--membros confirma que Portugal é o país com mais desigualdade na distribuição de rendimentos entre os 25 e é o único que apresentava um desnível entre pobres e ricos superior ao dos Estados Unidos. De acordo com o relatório, há 957 mil pessoas a viverem com menos de dez euros por dia. Estas conclusões são confirmadas por um estudo liderado por Alfredo Bruto da Costa


In “O Público”, 23.05.08

FALTA DE FORMAÇÃO

FALTA DE FORMAÇÃO

Todos dizem que a economia portuguesa não pode continuar com salários baixos. O que se diz a seguir é que os salários não podem aumentar sem aumentar a produtividade. Uma das causas da baixa produtividade é a baixa qualificação dos trabalhadores, que só explica parte.

Há uns anos, se dissesse que também os empresários tinham baixas qualificações, seria um escândalo.

Alfredo Bruto da Costa

In “O Público”, 23.05.08

FALTA DE FORMAÇÃO E LEITURA

Estes dados passam impunemente na nossa imprensa porque também temos os hábitos de leitura mais baixos da Europa e sem leitura a cidadania reduz-se ao caciquismo, ao voto porque sim ou porque não.

Mas há mais.

Sem leitura o formação profissional não sai da cepa torta. E a economia continua a assentar na exploração de uma mão de obra mal preparada e,também por isso mesmo, mais barata.

Mas ainda há mais.

A nossa classe empresarial tem um déficite assentuadíssimo de cultura empresarial. Há muitos que ainda olham para a leitura como um coisa de intelectuais, gente que não faz nada, não produz.

Aliás, a história da renitência à leitura em Portugal, que é longa, resulta também de raramente termos tido uma classe dirigente informada, com sentido de serviço do povo e da nação e acetuada carência de modernidade.

Podíamos continuar mas este blog chama-se "Queridas Bibliotecas" e é às minhas queridas Bibliotecas e a todos os que aí fazem ninho, para lembrar a importância da nossa luta pelo incentivo à leitura que é também a luta contra a pobreza, pela cidadania, pela modernidade que parece tão distante.

Exige-se teimosia e cabeça erguida. Ler é entender, é crescer, é tomar as rédeas da ficção na nossa mão. Ler é reconstruir o romance da nossa vida de uma forma mais feliz.

terça-feira, 20 de maio de 2008

COM ÁFRICA NOS OLHOS

Passei o dia com África nos olhos. Esta África que continua a sofrer, a maltratar-se, a reproduzir as terríveis sementes do ódio.

Gostava de lhe enviar uma carta indignada. Uma carta que lembrasse que também lutei por ela. Contra a guerra. Contra a exploração. Contra a miséria estúpida do racismo.

E afinal de contas, parece que tudo volta ao de cima uma e outra vez. Ou sempre lá esteve?

Como é que pode esvair-se tudo o que fizemos, companheiros de cá e de lá? Homens e mulheres de todas as cores? Gente com mãos de dar as mãos. Gente que semeia madrugadas. Gente que não queria ver nada disto que os jornais nos mostram.

Passei o dia com África nos olhos e uma dor no coração. E lembrei-me desta carta de um contratado, um que queria escrever uma carta de amor, uma carta que não fosse escrita com sangue, umA carta apenas de amor, essa palavra que continua afogada nas raízes da exploração e que põe irmãos contra irmãos para satisfação dos grandes senhores deste mundo.

CARTA DE UM CONTRATADO

ANTÓNIO JACINTO (1924-1990)


Carta dum contratado

Eu queria escrever-te uma carta
Amor,
Uma carta que dissesse
Deste anseio
De te ver
Deste receio
De te perder
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mal indefinido que me persegue
Desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta
Amor,
Uma carta de confidências íntimas,
Uma carta de lembranças de ti,
De ti
Dos teus lábios vermelhos como tacula
Dos teus cabelos negros como diloa
Dos teus olhos doces como macongue
Dos teus seios duros como maboque
Do teu andar de onça
E dos teus carinhos
Que maiores não encontrei por ai...

Eu queria escrever-te uma carta
Amor,
Que recordasse nossos dias na capopa
Nossas noites perdidas no capim
Que recordasse a sombra que nos caia dos jambos
O luar que se coava das palmeiras sem fim
Que recordasse a loucura
Da nossa paixão
E a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
Amor,
Que a não lesses sem suspirar
Que a escondesses de papai Bombo
Que a sonegasses a mamãe Kiesa
Que a relesses sem a frieza
Do esquecimento
Uma carta que em todo o Kilombo
Outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
Amor,
Uma carta que ta levasse o vento que passa
Uma carta que os cajus e cafeeiros
Que as hienas e palancas que os jacarés e bagres
Pudessem entender
Para que se o vento a perdesse no caminho
Os bichos e plantas
Compadecidos de nosso pungente sofrer
De canto em canto
De lamento em lamento
De farfalhar em farfalhar
Te levassem puras e quentes
As palavras ardentes
As palavras magoadas da minha carta
Que eu queria escrever-te amor

Eu queria escrever-te uma carta...

Mas, ah, meu amor, eu não sei compreender
Por que é, por que é, por que é, meu bem
Que tu não sabes ler
E eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também!

domingo, 18 de maio de 2008

CARTAS AO MEU FILHO (4)

Meu querido filho,


No meio de tanto desvario a que assistimos nesta nossa sociedade de mastigar e deitar fora, às vezes dá-me vontade de dizer : “No meu tempo é que era bom!”

Sei que é um contra-senso Sempre estive convencido de que quem muitas vezes repete essa costumeira frasezinha, geralmente, é porque tem memória curta e guarda uma visão enganadora e dourada do tempo que em tempos viveu. Ou então, trata-se de alguém que teve a sorte de viver um tempo feliz, protegido das infelicidades desse seu tempo.

Eu cá, posso dizer com toda a certeza que “No meu tempo é que não era bom!”. No entanto, tenho saudades de algumas coisas. Saudades grandes. Sobretudo da amizade à prova de todas as balas, ou da força com que acreditava que havia um lugar e um tempo em que o amor puro, absoluto e perene era possível.

Era talvez essa crença que nos mantinha de pé, intensamente de pé contra tanta porta fechada, tanta sombra ameaçadora, tanta estupidez instalada.

Quando eu tinha a tua idade, vivia num país muito triste. Já te contei vezes sem fim. O que é difícil não é contar. O difícil é fazer entender na pele a tristeza, o medo e o desespero. E mais: a vergonha que sentíamos quando íamos ao estrangeiro e tínhamos de dizer que éramos daquele pequeno país dominado por uma teimosa, violenta e rançosa ditadura fascista e que, ainda por cima, toda a gente julgava que fazia parte da Espanha.

De facto, posso garantir que no meu tempo é que não era mesmo nada bom. Por isso é que eu e alguns amigos íamos contra aquele tempo e fazíamos teatro, distribuíamos panfletos contra a guerra, enfrentávamos bufos, fazíamos greves, exigíamos um ensino decente, denunciávamos professores incompetentes, cantávamos, declamávamos poemas, acendíamos labaredas em nosso redor.

Não penses que éramos heróis. Outros deram muito mais de si para que tudo se mudasse. Nós só não conseguíamos ficar calados. É tudo. E por isso, havia alguns que pagavam pela medida grande e acabavam presos e torturados.

Presos e torturados... Ditas hoje em dia, estas palavras não doem, não deitam sangue, parecem apenas palavras, não é? Há gente que julga que são só palavras. Gente que passou ao lado disto tudo ou nasceu depois e olha para esse tempo do alto da sua sobranceria ou do seu desdém, sem saber a que é que cheira a palavra medo, a que é que sabe a palavra raiva, como é que queima a palavra revolta.

Um dia acordei com a notícia de que o Joaquim, a Célia e outros tinham sido presos. Não sabes quem é o Joaquim ou a Célia. Mas é bom que saibas que tinham nome esses amigos presos e torturados. Não eram números nas estatísticas dos livros de História. Eram pessoas concretas. Amigos lindos, doidos... Amigos! Eu tinha jantado ontem ou anteontem com cada um deles e naquela altura, passados dias ou horas, podia ouvir por dentro da minha aflição as pancadas a meio da noite, as ameaças buçais dos carrascos da PIDE, o terror que os assaltava entre paredes a escorrer humidade e gritos de dor de outros presos.

Não se podia ignorar os amigos que estavam em Caxias ou Peniche, nem os que vinham da guerra mutilados ou perdidos por dentro da cabeça, ou aqueles a quem dizíamos adeus para sempre quando partiam para o exílio. E um adeus dito assim é uma palavra que nos fica a doer por dentro das pálpebras em todos os dias da vida.

É por isso que volto a dizer que “No meu tempo é que não era bom!”. Não quer dizer que eu esteja satisfeito e que agora tudo seja maravilhoso. Nem pensar. Algumas coisas são melhores. Algumas dúvidas e angústias são maiores. Mas somos livres e a palavra liberdade é daquelas que tem um sabor maravilhoso quando a podemos dizer livremente.

Gostava de saber que os tempos vão mudar durante a tua vida, que a esperança se venha a instalar com mais força nos corações, que o mundo se torne melhor para todos os que o habitam e que tu contribuíste para isso nem que seja com um grãozinho da tua arte e da tua humanidade.

Gostava de estar contigo no dia em que, homem maduro, possas dizer aos teus filhos que o tempo do teu pai não era bom, que o teu tempo foi melhor, mas que o tempo deles pode ser o da verdadeira razão, o da mais intensa luz, o da mais profunda e fraterna amabilidade.

sábado, 17 de maio de 2008

TURN TURN TURN

A história da criação cultural tem pequenas histórias deliciosas.

"Turn turn Turn" é uma canção dos anos 60, criada por Pete Seeger, cantor folk e contestatário norte-americano.

Ele conta aqui em baixo como fez uma canção simples a partir de aluns versos da Bíblia.

Roger MacGuinn e David Crosby dos Byrds contam como descobriram esta canção que fala de um tempo para a paz. E era isso que eles queriam cantar e que muitos jovens queriam ouvir quando decorria a guerra do Vietname.

Os anos 60 eram feito também destas coisas, coisas que ainda são, ou voltam a ser, lições importantes.


To everything, turn, turn, turn,
There is a season, turn, turn, turn,
And a time for every purpose under heaven.

A time to be born, a time to die;
A time to plant, a time to reap;
A time to kill, a time to heal;
A time to laugh, a time to weep.


A time to build up, a time to break down;
A time to dance an time to mourn;
A time to cast away stones,
A time to gather stones together.


A time of love, a time of hate;
A time of war, a time of peace;
A time you may embrace,
A time to refrain from embracing.


A time to gain, a time to lose;
A time to rend a time to sew;
A time to love, a time to hate;
A time for peace, I swear it's not too late.

COMO NASCE E SE ESPALHA UMA CANÇÃO

THE BYRDS



Curioso como a própria própria música Pop se deixava invadir por um ambiente que falava de coisas muito sérias e de como ao som das coisas muito sérias também se pode dançar.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

VÍCTOR JARA

VÍCTOR JARA


Nascido numa familia de camponeses chilenos, tornou-se referência internacional da canção revolucionária.

O golpe de estado do general Augusto Pinochet contra o presidente legítimo, Salvador Allende, a 11 de Setembro desse ano, surpreende-o na universidade. É detido junto a outros alunos e professores, conduzido ao Estádio Chile, convertido em campo de concentração, e mantido lá durante vários dias. Há alguma controvérsia sobre as torturas que terá sofrido durante esses dias, antes do seu assassinato a tiro no dia 16 de Setembro. O certo é que lhe foram cortadas as mãos como parte do "castigo" dos militares ao labor artístico e de conscientização social de Víctor Jara naqueles anos de insubornável compromisso com os sectores mais desfavorecidos do povo chileno.


Um sujeito que escreve em jornais e costuma dizer barbaridades a vulso, acrescentou uma barbaridade particularmente ofensiva ao dar-se ao luxo de gozar com a morte trágica de Víctor Jara.

Quem quiser saber mais pode ir ao blog do Sérgio Ribeiro:

http://anonimosecxxi.blogspot.com/2008/05/carta-ao-provedor-do-dirio-de-notcias.html

Morre-se de uma bala. E morre-se de uma palavra. Qual o mais assassino? O que rouba a vida ou o que rouba a memória procurando emporcalhá-la para ter graça no jornal ou para fazer o papel de polícia às ordens?


Aqui vai uma canção de Jara para que ele viva. A poesia não se fica, o que é julgam?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

EL DERECHO DE VIVR EN PAZ



Víctor Jara

AQUI RESPIRÁMOS PAZ



“…o artista, mesmo inquieto, respira paz.”

“O retrato”, Nikolai Gogol


EB 1 da Cavalinha, Olhão

Aqui, respirámos paz.

OLHÃO



EB 1 da Cavalinha, Olhão

Há escolas onde os professores trabalham com orgulho, alegria e amor. Esta é uma dessas escolas.


Mas em geral, pelo país fora, os bons professores estão muito tristes. E revoltados. E humilhados. E não é por causa dessas miudezas das avaliações. É por serem maltratados, afogados em burocracia, por verem as suas escolas transformadas em armários de pendurar criancinhas, locais tão distantes do que é aprender e ensinar em festa.

Alguns dos mais novos encolhem os ombros e querem o ordenado ao fim do mês. Alguns dos mais velhos estão impacientemente à espera da reforma. Outros não conseguem deixar de dar o melhor que têm dentro de si. E o melhor que têm dentro de si são sentimentos, tristezas e alegrias, afectos,desejos, saberes, coisas de que os nossos gestores não sabem qual é a cotação no mercado.

terça-feira, 13 de maio de 2008

GUARDA



Aprende-se a gostar de ler ouvindo. Foi assim, pelo menos, que eu aprendi. A ouvir a minha avó. Mais tarde a ouvir o João Vilaret. E o Zé Carlos Ary dos Santos. E o David Mourão-Ferreira. E o Mário Viegas. E os actores. A Maria do Céu Guerra, o Rui de Carvalho, a Eunice, o João Perry... E tantos.

Pela minha voz, tento devolver aos que me ouvem o encanto pelos tesouros que tive a sorte de receber ao longo dos anos.

GUARDA



Numa das várias Bibliotecas de Escolas do 1º Ciclo que visitei na cidade da GUARDA. Aqui, com a Professora Mónica Martins. Ela dinamiza 3 destas bibliotecas escolares. A Professora Margarida dirige outras 3. Ambas desenvolvem um trabalho notável, alegre, empenhado, carregado de futuro.

ALGUMAS PALAVRAS A VOAR




Assinar um livro é muito mais que fazer o rabisco. É estabelecer um laço de amizade que se prolongará na leitura e lhe abrirá os caminhos da mémória e do afecto.

As palavras que se trocam à volta da assinatura são um contrato de leitura que fica a unir para sempre o que escreveu e que lê.

LER

Vou ás escolas para ler textos meus e de outros, mostrar a maravilha que mora dentro de um livro, partilhar emoções, devolver à voz o encantamento da palavra, mostrar como moramos numa grande festa de palavras que tantas vezes evitamos.

Recordo muito as palavras desswe mestre que é Georges Steiner.


“Uma leitura bem feita é uma forma de responder a um texto, à presença e à voz de outrem. E isso tornou-se difícil senão impossível numa cultura onde o ruído é constante, que não tem de reserva uma prata de silêncio ou sequer de paciência.”


“Ler não é sofrer mas, falando com propriedade, estarmos prontos a receber em nossa casa um convidado, ao cair da noite.”

“(Ler...) Trata-se de aprender com os outros a escutar melhor.”


GEORGES STEINER

MAGAZINE LITTÉRAIRE, JUNHO 2006-08-10

ENTREVISTA CONDUZIDA POR FRANÇOIS L’YVONNET

segunda-feira, 12 de maio de 2008

BOLEMBRE



EB 1 de Bolembre (Sintra)

BOLEMBRE



EB 1 de Bolembre (Sintra)

QUERIDAS BIBLIOTECAS

Faço agora um período de intervalo noutras memórias para trazer as de algumas visitas a Escolas e Bibliotecas.

A leitura está relacionada com a cidadania, com a formação profissional, com a saúde pessoal, comunitária e social. Portugal, também pelos baixíssimos índices de leiura está doente.

É bom dizer que há uma revolução silenciosa no nosso país levada a cabo pelas cerca de 160 Bibliotecas Municipais construídas nos últimos 16/17 anos e pela rede das Bibliotecas Escolares que está em plena expansão.

No entanto, apesar do Plano Nacional de Leitura e do crescimento das redes de Bibliotecas Públicas e Escolares, falta-nos uma política mais claramente empenhada e com muito mais capacidade de investimento (se compararmos com as políticas e os investimentos de todos os outros países da UE)para podermos sair do último lugar da Europa em hábitos de leitura.

O país ainda não vestiu a camisola da leitura. O silêncio é quase geral nos média que se pautam por uma quase total ignorância relativa às questões da cultura e do incentivo à leitura.

As grandes empresas ainda não aprenderam com exemplos vindos das grandes empresas francesas e espanholas que em muitos casos dão uma importância determinante ao incentivo à leitura para o aperfeiçoamento da formação profissional e a adaptação da mão de obra aos novos desafios tecnológicos.

As redes de Bibliotecas Públicas e Escolares e os que aí trabalham fazem-no em geral com um dinamismo excepcional. Das muitas sessões que tenho feito por esse país fora nos últimos anos aqui vão mais uns testemunhos. Levo poesia, histórias e contos,e a disponibilidade para partilhar o prazer das palavras e das extraordinárias viagens que elas proporcionam.

Recebo muito afecto e a certeza de que esta revolução silenciosa das bibliotecas dará magníficos frutos a seu tempo. Mas estou certo de que esse tempo seria encurtado com benefícios para todos se a instâncias políticas, mediáticas e empresariais assim o quisessem.

PEDRO POETA



Escola Básica Integrada de Boliqueime, Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva

Pedro Poeta de Boliqueime é um menino feliz e com um sorriso do tamanho do mundo porque descobriu a felicidade de tudo transformar em poesia.

BOLIQUEIME



Escola Básica Integrada de Boliqueime, Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva

domingo, 11 de maio de 2008

I HAVE A DREAM



"I HAVE A DREAM" foi a frase que sobreviveu a Marthin Luther King, assassinado a 4 de Abril de 1968 em Memphis, e que continua hoje a iluminar muitos dos que lutam pela paz, pela igualdade e pelo entendimento entre todos os homens.

No mundo ultra-liberal de hoje, ter um sonho, é absurdo para os que mandam, para os que dominam o jogo das finanças, para os senhores das guerras, para os politicos e os poderosos que nos vão encaixotando no silêncio e na miséria.

Ter um sonho talvez não caiba no Cartão Único porque sonhar levar-nos-ia a desejar que o mundo fosse muito diferente deste sem esperança nem justiça nem vergonha a que querem confinar os nossos filhos.

Resta-nos sonhar e falar alto desses nossos sonhos que só são sonhos porque felizmente não têm cotação na Bolsa. Resta-nos lembrar outra frase de Martin Luther King:

"O que me preocupa não é o grito dos violentos. É o silêncio dos bons."

sábado, 10 de maio de 2008

LES ANARCHISTES



"Les anarchistes" Léo Ferré

É PROIBIDO PROIBIR



Sempre estive de acordo. Mas é claro que há coisas que gostava de ver proibidas: a exploração, a corrupção, o compadrio, a política que ignora o mais fracos, a que poupa na saúde para dar lucros imensos às companhias de seguros, a que afunda a educação em burocracia e não deixa os professores ensinar nem os alunos aprender, a que mantém o nosso país no degrau debaixo da literacia na Europa, a que atira com os cães do fisco contra os pobres e poupa os bancos...

Há coisas que eu gostava de ver proibidas. A estupidez, a ignomínia, a mentira, a indignidade. Tudo aquilo que domina largos sectores do nosso país.

O resto que seja livre: a poesia, a alegria, o amor, a partilha, a solidariedade, a música, a fraternidade, tudo o que faz com que os homens se pareçam um pouco mais com o Homem.

terça-feira, 6 de maio de 2008

EL MAESTRO



"El Maestro" do Patxi Andión, companheiro de tantas jornadas e que ainda há poucos dias esteve connosco no Coliseu entre os Cantores de Abril.

Fica-me da canção o verso amargo que fala do "perigo" que é um professor. Parece que ser professor passou de novo a ser um perigo. É claro que alguns professores preferem a burocracia sossegada e manhosa ao perigo de quererem ensinar e ser professores a sério. Mas muitos sairam à rua. 100.000! Mas desde esse dia parece que deixaram de ter problemas... Já estará tudo resolvido? O problema era só a avaliação? Que é feito dos 100.000?

Alguns continuam a ser perigosos, a ser professores, a ensinar. Eu conheço meia dúzia deles e tenho muito orgulho no perigo que continuam a exercer com a sua inteligência, o seu saber, a sua raiva e o seu imenso coração

domingo, 4 de maio de 2008

SOMEBODY TO LOVE



"Somebody to Love" pelos Jefferson Airplane em Woodstock 1969

A LIBERDADE DE AMAR

Descobrir a liberdade de amar foi uma das grandes conquistas dos jovens nos anos de 67, 68, 69.

Nos EUA gritava-se "MAKE LOVE NOT WAR".

Não podíamos estar mais de acordo. Mas em Portugal era proibido dar um beijo na boca em público. Dava direito a prisão.

Os vícios escondidos dos senhores do regime vieram a lume com os Ballets Roses mas logo foram tão apagados quanto possível.

Mas a liberdade de amar com alegria e transparência, entrega e fervor, essa liberdade é que era o escândalo e a subversão para eles.

E eu lembro-me do orgulho com que andávamos de mão dada e nos abraçávamos na rua, nas paragens de autocarro, no metro, com que nos beijámos felizes de amar à luz do sol.

Tínhamos 17 ou 18 anos e o mundo estava a ser varrido por um grande vento.

IMPRENSA



Cartaz de Maio de 68

MEMÓRIAS DE ALGUMA IMPRENSA

A propósito dos desmandos da imprensa, de uma certa imprensa, e do efeito por vezes devastador com que os opinantes profissionais fazem da palavra impressa uma forma de poder imoral e discricionário.

Os anos têm a vantagem de trazer alguns pequenos destroços à praia da memória. Cá vão eles, sem comentários:

O PIOR DISCO DO ANO

Em 1976, o álbum “Com as minhas tamanquinhas” de José Afonso (que incluía, por exemplo, “Os índios da meia-praia”) foi considerado por um grupo de críticos da imprensa como o pior disco do ano.

AS MELHORES VOZES DA MUSICA PORTUGUESA

Na primeira metade dos anos 80, um crítico muito na moda então, afirmava do alto da sua sabedoria que as 3 melhores vozes de sempre da música portuguesa eram Amália Rodrigues, José Afonso e António Variações.


“POR ESTE RIO ACIMA”

O hoje considerado unanimemente excepcional “Por este rio acima” de Fausto, quando veio a público recolheu por parte de alguns dos nossos mais distintos críticos musicais um ramalhete de críticas negras que o arrasaram de alto a baixo. Era giro voltar a lê-las.


COITADO DO ZECA TÃO ABUSADO PELA ESQUERDA…

Por meio dos anos 90 surgiu um curioso artigo na nossa imprensa a fazer o elogio rasgado do Zeca como músico e compositor. Só lamentava o articulista que ele se tivesse deixado usar pela esquerda, o que só ensombrecia a a qualidade da sua obra...

OS AUTORES

Lembro-me dos nomes dos autores destas pérolas, mas não estou aqui para fazer ajustes de contas pessoais.

Podia trazer também, dos anos que levo de criador e leitor de jornais, uma longa lista de críticas de teatro imbecis e ignorantes, enterros públicos de filmes e programas de televisão respeitáveis, estendais de total incoerência na análise de livros de poesia e romances.

Não se pense que sou contra a crítica. Não! O pensamento e o exercício da inteligência trazem-me sempre um júbilo especial. A critica é uma atitude nobre quando vem do amor e da paixão pelo cinema, pelo teatro, pela música… Pela vida.

Mas a opinite, que é o que inunda as mais das vezes os nossos jornais, é prima da censura. A opinite usa o lápis azul do silêncio, da opinião avulsa e bacoca, da promoção da “faca sem lâmina a que lhe falta o cabo” como dizia Alexandre O’Neill.

Era engraçado trazer mais algumas destas escriturices a lume. Muitas pérolas podiam ser recordadas. Basta pedir ao Fausto, ao Carlos Mendes, ao Tordo, ao Carlos Alberto Moniz, ao João Lourenço, ao Zé Jorge Letria e a tantos outros, para abrirem o baú dos seus recortes de jornais. Dava para rir. Um riso amargo, é claro. Mas talvez servisse de lição para muitos.

sábado, 3 de maio de 2008

VIETNAME



FOTO DE EDWARD T. ADAMS

MISS AMÉRICA





Colagem de WOLF VOSTELL sobre a famosa fotografia de Edward T. Adams.


«Teoricamente», disse Vostell, «os meus quadros deviam ser vistos como um fogo cerrado, uma admoestação, uma ameaça, um protesto, uma advertência e um ponto de interrogação.»

BUFFALO SPRINGFIELD - FOR WHAT IT'S WORTH

FOR WHAT IT'S WORTH

There's somethin' happenin' here.
What it is ain't exactly clear.
There's a man with a gun over there
A-tellin' me I've got to beware.

I think it's time we stop.
Children, what's that sound?
Everybody look what's goin' down.

There's battle lines bein' drawn.
Nobody's right if everybody's wrong.
Young people speakin' their minds
A-gettin' so much resistance from behind.


I think it's time we stop.
Hey, what's that sound?
Everybody look what's goin' down.


What a field day for the heat.
A thousand people in the street
Singin' songs and a-carryin' signs
Mostly sayin' hooray for our side.


It's time we stop.
Hey, what's that sound?
Everybody look what's goin' down.


Paranoia strikes deep.
Into your life it will creep.
It starts when you're always afraid.
Step out of line, the men come and take you away.


You better stop.
Hey, what's that sound?
Everybody look what's goin'..



Canção de Stephen Stills, cantada pelos Buffalo Springfields

CONTRA A GUERRA DO VIETNAME



Manifestação pacifista no Illinois em 68. Foto de Raymond Depardon publicada na "Babélia", suplemento cultural do jornal "El Pís", 19 de Abril de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A MÁ REPUTAÇÃO



"La Mauvaise Réputation", Georges Brassens

LA MAUVAISE RÉPUTATION

Au village, sans prétention,
J'ai mauvaise réputation.
Qu'je m'démène ou qu'je reste coi
Je pass' pour un je-ne-sais-quoi!
Je ne fait pourtant de tort à personne
En suivant mon chemin de petit bonhomme.
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde médit de moi,
Sauf les muets, ça va de soi.

Le jour du Quatorze Juillet
Je reste dans mon lit douillet.
La musique qui marche au pas,
Cela ne me regarde pas.
Je ne fais pourtant de tort à personne,
En n'écoutant pas le clairon qui sonne.
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde me montre du doigt
Sauf les manchots, ça va de soi.

Quand j'croise un voleur malchanceux,
Poursuivi par un cul-terreux;
J'lance la patte et pourquoi le taire,
Le cul-terreux s'retrouv' par terre
Je ne fait pourtant de tort à personne,
En laissant courir les voleurs de pommes.
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout le monde se rue sur moi,
Sauf les culs-de-jatte, ça va de soi.

Pas besoin d'être Jérémie,
Pour d'viner l'sort qui m'est promis,
S'ils trouv'nt une corde à leur goût,
Ils me la passeront au cou,
Je ne fait pourtant de tort à personne,
En suivant les ch'mins qui n'mènent pas à Rome,
Mais les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Non les brav's gens n'aiment pas que
L'on suive une autre route qu'eux,
Tout l'mond' viendra me voir pendu,
Sauf les aveugles, bien entendu.


Georges Brassens

PALAVRAS COMO PEDRAS

MAIO DE 68

(Sobre uma pintura de Júlio Pomar)


Todos os cavalos são jovens
quando o poder cai na rua.
É tudo o que posso dizer agora
olhando cuidadosamente
aquilo que a memória me diz ter sido
o terramoto da minha juventude.

Pergunto: primeira linha,
onde estão os companheiros
que há 30 anos lançavam
palavras duras como pedras de basalto?
E os que dançavam nus
na fonte da sua tão pura
e perversa idade?
E os que quebravam cadeias e tabus?
E os que habitavam o novelo inconsolável
da perfeita inquietação?

Pergunto por eles:
Joaquim, Zé Carlos, Isabel, Amélia, António, Violeta,
onde estão vocês agora
ó fios de prumo da raiva
ó pequenos deuses da minha juventude a galope?

Um casou-se bem e é presidente
de uma coisa difícil de soletrar.
Outro escreve no jornal
importantes banalidades de veludo.
Outro é director de uma fábrica
de tornar crianças parvas.
Outro é ministro de Assuntos Muito Oblíquos.
Alguns deixaram-se queimar
no seu próprio fogo
e ficaram tristes para sempre.
Uma outra que
encontro de vez em quando
é médica e diz que ainda se comove ao tropeçar
nas guelras do sofrimento alheio; luta
quase sempre sozinha
para trazer o arco-íris
para a sala escavacada
das urgências de um hospital de província.

Um outro
finalmente
diz quem sabe que é poeta
e guarda num canto da gaveta do seu quarto
uma palavra impossível
uma fome inconsolável
um sorriso
uma pedra
uma côdea de pão solene e grave
uma música nos olhos
que ninguém pode calar.

José Fanha ("Marinheiro de outras luas", a publicar)

WE SHALL OVERCOME



JOAN BAEZ

quinta-feira, 1 de maio de 2008

OUTRA VERSÃO

Participação

Participação

Participação

Participa cão!

(José Fanha, "Cantigas da dúvida e do perguntar", 1970)

MAIO de 68

VERSÃO 2008

EU SEI QUE ATRAVESSAMOS UMA CRISE E ESTOU DISPOSTO A FAZER SACRIFÍCIOS

TU SABES QUE ATRAVESSAMOS UMA CRISE E ESTÁS DISPOSTO A FAZER SACRIFÍCIOS

ELE SABE QUE ATRAVESSAMOS UMA CRISE E ESTÁ DISPOSTO A FAZER SACRIFÍCIOS

NÓS SABEMOS QUE ATRAVESSAMOS UMA CRISE E ESTAMOS DISPOSTOS A FAZER SACRIFÍCIOS

VÓS SABEIS QUE ATRAVESSAMOS UMA CRISE E ESTAIS DISPOSTOS A FAZER SACRIFÍCIOS

ELES SABEM QUE ESTAMOS A ATRAVESSAR UMA CRISE E FARTAM-SE DE GANHAR DINHEIRO COM ELA

NÓS SOMOS O PODER - PARIS MAIO

1974 - O 1º de MAIO DO NOSSO CONTENTAMENTO



Foto de Eduardo Gageiro

1º de MAIO

Em 1886 realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos da América.

Tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e teve a participação de milhares de pessoas.

Nesse dia teve início uma greve geral nos EUA. No dia 3 de Maio houve um pequeno levantamento que acabou com uma escaramuça com a polícia e com a morte de alguns manifestantes.

No dia seguinte, 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos policiais que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete agentes.

A polícia abriu então fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.

20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu por proposta de Raymond Lavigne convocar anualmente uma manifestação com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago.

Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.