segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O QUE GANHA UM ESCRITOR?



(Alguns autores para a infância e juventude têm feito nas escolas um papel algo semelhante ao que faziam em tempos idos as carrinhas da Gulbenkian que corriam o país até aos mais abandonados recantos. Falo de companheiros que com maior ou menor frequência "andam na estrada" de escola em escola como Luísa Ducla Soares,António Torrado, José Jorge Letria, António Mota, Margarida Fonseca Santos, Sílvia Alves, Margarida Botelho, eu próprio e uns quantos mais)

Tenho verificado em muitas escolas que há algum desconhecimento por parte de professores, alunos e pais quanto ao que ganha um escritor com os livros que publica.

Esse desconhecimento gera por vezes pequenos e grandes equívocos levando a que, na presunção de que os direitos do autor são vastos e farfalhudos, se espera que o escritor esteja disponível a colaborar com as escolas sem nenhum pagamento em troca, como se fosse sua obrigação dar esse apoio que seria suportado, na imaginação de muitos, pelas vendas de livros e fantásticos direitos daí ade-vindos.

Por isso venho esclarecer em nome meu e dos meus companheiros escritores para a infância e juventude que exercem uma função pedagógica importante, percorrendo as escolas de Norte a Sul do país a contar histórias, conversar com os meninos, colaborar com os professores, promover o livro e a leitura:

Direitos de Autor para livros de prosa: 10% da venda ao público

Direitos de Autor para livros ilustrados no meu caso:

1ª hipótese: 8% do preço de venda ao público até que se considerem pagas as ilustrações; 10% do preço de venda ao público depois de estarem vendidos 5 mil exemplares.

2ª hipótese, quando texto e ilustração se equivalem: 5% do preço de venda ao público.

Estes Direitos são pagos anualmente no mês de Abril a seguir a cada ano. Quer isto dizer que os direitos dos meus livros vendidos em 2012 ser-me-ão pagos na melhor das hipóteses em Abril de 2013.

Considerando que o valor médio de venda ao público de um livro para a infância anda entre os 7 e os 10 euros, será fácil fazer as contas e perceber de que valores se fala quando falamos de Direitos de Autor.

É claro que poderíamos vender milhares ou milhões de livros mas há que sublinhar o facto de que Portugal é um país pequeno e, apesar do muito que se está a fazer através do PNL, da Rede de Leite Pública e da Rede de Bibliotecas Escolares, continua a ser ainda o país da Europa onde menos se lê.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

EB1 PAREDE 4

Mais uma visita a uma escola do 1º Ciclo. Levado pela minha amiga Sofia Barros, mãe que colabora intensamente com a escola.

Aproveito para referir a importância da presença dos pais nas escolas. Não como contestantes. Mas também. Sobretudo como colaborantes críticos e cúmplices do processo global de educação dos filhos. Pais que não se demitam do seu papel de educadores e de parceiros da escola.

Noutra escola não muito longe de Lisboa, há uns 15 dias, tinha meninos a dormirem à minha frente enquanto eu contava histórias.

Diz-me a experiência que pode haver duas razões para isto: fome ou falta de sono. Era falta de sono. Havia pelo menos um menino que comprovadamente via televisão no seu quarto até às 4 horas da manhã!

É claro que meninos assim vão ter terríveis problemas no processo de crescimento e aprendizagem.

Todos nós precisamos de crescer e para isso é preciso pensar e questionar comportamentos mesmo aqueles que por vezes parecem maqis óbvios e certinhos e compostinhos.

Mas aqui, nesta escola, viva-se um ambiente saudável. E havia uma biblioteca e, como em muitas escolas, um professor bibliotecário a fazer um trabalho maqnífico.

E aqui vão as memórias visuais:



O Rúben.



O conjunto de meninos mais este menino grande que sou eu.



O Vasco.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O ESPAÇO E A MEMÓRIA

Há escolas que guardam memória de si próprias. Essa memória mostra-nos que aquele espaço, aqueles corredores e salas e recreios não estão fechados no presente. Trazem consigo uma história de outras pessoas que ali passaram, o que implica um reconhecimento nobre da sua existência no tempo, uma dignidade resultante dessa validação do espaço escolar.

Andei numa escola antiga de muitos anos. O Colégio Militar. Vai fazer 209 em breve. Por ali passaram nomes respeitabilíssimos. Militares, escritores, músicos. Nomes como Tomás Alcaide, Raúl Ferrão (Autor da famosa canção "Coimbra"), o Marechal Francisco Costa Gomes, Rão Kiao, António Sérgio, Eduardo Lourenço, Artur Semedo...

As paredes guardam secretas memórias que nos infectam quando somos pequenos e estamos a crescer e queremos ter raízes fortes e razões para crescer.


Tenho visitado várias vezes a EB23 Francisco de Arruda, no Alto de StºAmaro, em Lisboa. A minha mãe foi professora de música ali. O director, antes do 25 de Abril era Calvet de Magalhães, um homem do Estado Novo mas também um homem da modernidade das artes.

O espaço desta escola foi alargado e modernizado. Mas felizmente mantiveram uma memória viva dos muitos anos que esta escola já comemorou.

Entre essas memórias encontrei uma velha cabine telefónica onde a minha amiga Lurdes Caria, magnífica professora bibliotecária, me apanhou.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

E SE FOR A FELICIDADE?

Fico sempre muito incomodado quando pergunto: "Como é que isso vai?" e me respondem: "Devagarinho..."

É preciso andar atento. Não deixar a vida a esvair-se devagarinho como areia por entre os dedos. Há comboios que nos podem levar muito longe se não ficarmos a vê-los passar na gare das estações desta vida.

É disto, creio eu, que fala esta notável tirinha da Mafaldinha desenhada pelo Quino.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A ACEITAR, A CALAR, A CANTAR É QUE TE DEIXAS LEVAR

Deixo a notícia do jornal espanhol sem adjectivos. Porque muitas vezes o adjectivo esconde e limita a necessária indignação e a sua expressão numa acção para além das palavras.

Junto-lhe uma canção do José Mário Branco cantada pelo Camané. "A cantar é que te deixas levar".

Também podemos dizer que a cortar (os nossos salários, os cuidados de saúde, o apoio à 3ª idade, etc), e a aceitar esses cortes sem reacção, ou até pior, com compreensiva aceitação, é que nos deixamos levar.

E siga a dança. Até quando?

"España será la selección que menos pague por noche de hotel de cuantas participen en la Eurocopa que se celebrará en Polonia y Ucrania el verano que viene. La expedición española, que se hospedará en el Hotel Mistral de Gniewino, a pocos kilómetros de Gdansk -su sede en los primeros tres partidos- abonará 4.700 euros por noche en concepto de habitaciones. Este precio incluye el total de todas y cada una de las que se utilicen para hospedar a jugadores, técnicos, directivos y demás miembros de la expedición, es decir, unas 40. Dinamarca, que se alojará en Kolobrzeg, será el segundo con menos gasto (7.700) y Croacia, cuya sede estará en Warka, completa este particular podio con 8.300 euros al día.

En la parte contraria, la de selecciones que más paguen por su estadía, aparece Portugal. Los Cristiano, Pepe, Coentrao y compañía abonarán 33.174 euros por noche, es decir, siete veces más de lo que pagará España, en su hotel de Opalenica."

Do jornal desportivo AS

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

LEITURAS 2011 - ROMANCES ESTRANGEIROS

Sou um leitor muito viciado. Acredito que a leitura nos pode ajudar a conhecermo-nos melhor e a conhecermos melhor os outros, os que estão mais perto de nós e os que estão muito distantes.

Gosto de dizer que conheço de cor e salteado a cidade de Buenos Aires. Nunca lá fui. Mas li muitos livros passados em Buenos Aires (Borges, Puig, Eloy Martínez, Piglia...)

Muito mais podia dizer da leitura e da forma libertadora de que se pode revestir.

Mas hoje apenas pretendo passar o vício.

Cá vão alguns dos livros que mais gostei de ler este ano que acabou.



Os escritores russos do séc. XIX são como remédios para mim. De vez em quando... Lá vai um para me lembrar de como é escrever muito, muito bem. Gogol, Turgueniev, Tchekov... E Tolstoi, sempre sempre Tolstoi.

Este livro sobre a figura de um herói Uzbeque além de ser uma obra notável mostra-nos um pouco do que é a raiz histórica do conflito no Uzbequistão.

Esta novela, magnificamente trazida por Nina e Filipe Guerra, foi proibida pela forma como Tolstoi retratava a devassidão dos oficiais do exército russo e a pouca finura de inteligência do Tzar.

A literatura é por vezes perigosa. E ainda bem!



Modiano é um magnífico escritor que habita a literatura de uma forma delicada e discreta. A memória e o tempo são a mantinha de que faz a sua escrita que anda para a frente e para trás construindo a matéria de que é feita a vida de cada personagem, a vida de cada um de nós.




Gary fez uma malandrice. Usou um pseudónimo e ganhou duas vezes o famoso Prémio Goncourt que por regulamento só deveria ser concedido a cada autor por uma única vez.

Neste romance o narrador é num menino árabe que vive em casa de uma ama judia que vive de tomar conta dos filhos das mais pobres prostitutas de paris.

A narrativa, de uma imensa ternura, faz-nos acompanhar as iniciações de um rapazinho aos vários desafios da vida.

O humor é a nota dominante. Humor ingénuo, humor delirante, humor trágico.

Este é um daqueles livros de que não me vou esquecer na minha vida. Fica na mesa de cabeceira para o ler outra e outra vez,



O escritor napolitano Erri de Luca foi a minha grande descoberta deste ano. Escrita belíssima, poética, concisa, dura, daquela que nos faz sentir felizes por pertencermos a uma certa humanidade feita de bons sentimentos e muita dignidade.

A história é pouca, o velho gamo e o velho que se vigiam no alto da montanha preparados para a última caçada. As palavras e a maneira como de Luca as cruza acendem-nos emoções invulgares.

Ainda por cima, há várias novelas suas publicadas em português. Já li mais duas. Um mimo.



Nascido na Bósnia, prémio Nobel em 61, Andric é um escritor excepcional. Esta novela passa-se no pátio de uma prisão na Turquia onde se entretecem as histórias, as mentiras, os medos, os sonhos dos presos que ali se cruzam.

Andric leva-nos a um mundo estranho onde o seu talento de escritor nos faz mergulhar sobre na estranha matéria de que são feitos os homens.



A leitura dos romances policiais do sueco Henning Mankell é um vício. O seu detective Kurt Wallander é um ser humano que se torna nosso amigo, um investigador que se depara com um novo tipo de crimes que resultam da degradação da Suécia social-democrata e da miséria social resultante do avanço do neo-liberalismo que também por cá nos vai deixando completamente arrombados.

Mankell, um dos escritores que mais livros vende na Europa, vive parte do ano em Maputo onde criou um grupo de teatro e se dedica um trabalho intenso de animação socio-cultural.

Para quem gosta e para quem não gosta de policiais é do melhor que anda por aí.




Os livros do cubano Padura são uma paixão pessoal. Neste romance Padura pega nas desaparecidas memórias e papeis de uma figura real, um poeta do século XIX, independentista, lutador pela liberdade e maçon (coisa que está tão na moda), e cria uma espécie de romance policial em torno desse desaparecimento.

Mas faz ainda mais do que isso, traça o percurso de regresso a Cuba de um homem que procura encontrar esses documentos para completar a biografia do poeta maçon.

Por diversos equívocos o investigador deixou o país há muitos anos e regressa tentando reencontrar-se com a pátria e os amigos e procurando saber quem o traiu e o obrigou ao exílio.

A história do poeta do séc. XIX e a do seu historiador correm paralelas e o livro vai como um rio no tom de melancólico romantismo e amor pela ilha do belo escritor que é Leonardo Padura.



Tomás Eloy Martínez é um escritor argentino que tenho seguido nas traduções portuguesas e que já se tornou num nome entre os meus escritores preferidos.

Há pouco li uma entrevista com o escritor mexicano Carlos Fuentes que colocava o romance "Santa Evita" (ed. ASA) de Martínez entre os dez romances que melhor podem definir o cânone latino-americano.

Em "Purgatório" acompanhamos um romance portentoso que roda à volta do conceito do tempo e da ausência na Argentina, país de ausências, país onde as marcas do tempo se confundem. Ou talvez não tanto as marcas do tempo como as marcas das identidades de um país que nem sempre coincide consigo mesmo.

País onde uma ditadura apagava acontecimentos pessoas, ruas, cidades e afirmava que o que não se vê não existe.

Um romance que, de forma sinuosa, nos leva a percorrer o tampo para a frente e para trás, em torno do exílio de um escritor e da personagem real/irreal que ele persegue e que por sua vez persegue cegamente o marido assassinado. Deste exílio diz o autor que:

“Do exílio ninguém regressa. O que abandonamos, abandona-nos”

Esta é sobretudo a história de Emília, uma mulher que perdeu tudo. A confiança no pai que sabe cúmplice da ditadura ou mais ainda do que isso. A memória da mãe que enlouquece. O marido assassinado pela polícia.

Emília não aceita que o marido tenha morrido e fica 30 anos à sua procura do Brasil à Venezuela até aos EUA. Uma cartógrafa que procura o mapa em que ela e Simón se possam reencontrar.

“O que fizeste com a tua vida, Emília?”, pergunta o autor. “Nada,” responde Emília, “…e isso é que é pior. Não fiz nada. A minha vida é que fez comigo.”

O rio redondo de buscas e equívocos que é este romance desenha um purgatório, uma espera sem ponto de chegada nem desespero, uma metáfora poderosa para a vida de todos nós.

No entanto, e sem tocar as patetices da literatura cor-de-rosa, o autor não deixa de visitar uma profunda fé no que de melhor a Humanidade tem, ou seja, na capacidade de amar.

Ao longo desta leitura cruzada com outras leituras e uma exposição de pintura, fui reflectindo sobre o mal e a sua expressão na palavra de alguns escritores e na representação de alguns pintores, sobre a perversidade como estética, sobre o convívio com os terríveis fantasmas da guerra ou, pior, da maldade absoluta.

E fico-me nesta afirmação de Tomás Eloy Martínez que me parece apontar para um percurso poética da escrita tão distante desse prazer mórbido que tem invadido muita arte e literatura contemporâneas, nomeadamente entre nós.

“Os romances escrevem-se para emendar no mundo a ausência perpétua daquilo que nunca existiu.”

domingo, 8 de janeiro de 2012

LEITURAS 2011 - POESIA

Para meu mal, a poesia não ocupou o lugar determinante que costumo reservar-lhe na minha vida.

A verdade é que a poesia portuguesa anda tristonha. Pouca alma e muita circunstância sem lírica.

É verdade que, ultimamente, não tenho acompanhado tudo o que se publica com a proximidade que gosto. Às vezes é difícil. As publicações de poesia são cada vez mais clandestinas. E isso é comum pela Europa fora com a talvez exceção de Espanha.

É particularmente triste que Portugal, país de poetas desde sempre, ande tão afastado dos Camões e tão dado aos inteligentes "Gaspares".

Já andámos de braço dado com os grandes. Agora... Isto é tudo da 3ª Divisão Regional. Sinais dos tempos...

De poesia vou folheando o que apanho. Tento deitar o olho aos poetas falados nas recensões literárias dos jornais. Apanho um poema aqui, um verso ali, mas nada que me deixe a tremer, a voar, a viver melhor. Nem pior. A coisa parece-me mesmo cinzenta. Talvez, redigo, talvez a culpa seja da minha falta de atenção. Ou talvez não.

Veremos. Porque em arte é o futuro que quase sempre serve de medida à qualidade. Os astros de falso brilho sucedem-se com frequência para logo um pouco mais à frente se apagarem.

E aqui vão algumas das excepções que apanhei na minha rede de apanhar poetas:



Luís Filipe Castro Mendes é um belo e discreto poeta que tem um magnífico domínio oficinal. Mestre no soneto, reconhece-se na sua poesia a influência da lírica camoneana praticada por outros poetas como Natália (mais barroca que camoneana, David Mourão-Ferreira, Manuel Alegre, o próprio Ary dos Santos, Vasco Graça Moura ou Joaquim Pessoa.

Neste livro surpreende-nos pelo abandono dessa lírica mais musical para abraçar um outro escrever,mais lento e tecido em torno de uma reflexão melancólica sobre a vida e o passar do tempo, sobre o mundo e os outros que com o poeta se cruzam, tendo sempre como pano de fundo uma espécie de maravilhosa e inquieta viagem através da Índia.

É um livro para ler e reler. para mastigar. para deixar que a sua beleza nos entre no peito e aí faça ninho.



Não é frequente grandes poetas terem reconhecimento em vida. As nossas elites são demasiado cegas e ingratas. Mas, por vezes, e inesperadamente,acertam.

O prémio Pessoa atribuído ao Pina, como carinmhosamente os amigos o tratam, é justíssimo. E este livro é o primeiro publicado depois desse prémio.

A exigência da sua escrita, a música vigiada, o rigor com que aborda o acto de escrever, tornam a sua poesia e este livro em particular indispensáveis no registo do que de melhor se tem escrito na poesia portuguesa.



O Mia é um excelente amigo, um belo escritor, um homem que tem enriquecido a língua portuguesa.

Parece-me que está a cair fora das modas dos nossos opinistas de jornal. Por isso mesmo é preciso lê-lo. E relê-lo. Dá-lo a ler aos nossos jovens. Passá-lo de mão em mão. Infectar a vida com o seu olhar luminoso. E agradecer-lhe tudo aquilo que generosamente nos oferece na volta de cada poema.




Fora dos circuitos académicos e jornalísticos, aproveitando muitas vezes as possibilidades da blogosfera, vão aparecendo poetas a que é urgente dar atenção. Poetas que é preciso inscrever entre o que de melhor acontece na poesia portuguesa.

É o caso da Licínia Quitério que vai crescendo de poema para poema e de livro para livro. Vai no terceiro e nós agradecemos os livros e o blog (O SÍTIO DO POEMA) onde a sua poesia vai vendo a luz do dia em cada dia e conquistando uma roda de amigos, cúmplices e admiradores.



Não é frequente um primeiro livro ter a força deste livro de Mário Domingos. Experimentem lê-lo. Já não é um jovenzinho nos seus primeiros versos, este jurista, mas traz-nos a frescura de quem pega na matéria de que é feita a vida e a vai tornando em poesia.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PEDRO OSÓRIO

Morreu um artista. Um grande artista. Um daqueles que nos deixam mais ricos, ao contrário dos que andam a matar este país.

As lágrimas inevitáveis e as memórias que correm nas lágrimas por este grande amigo que se foi.

Fomos companheiros de sonhos, brincadeiras e lutas. Comemos à mesma mesa. Fizemos canções.

Há pouco mais de um mês publicou o seu último disco "CANTOS DE BABILÓNIA".

Até à última hora o Pedro foi um exemplo de paixão pela arte, de vida e de força a lutar contra o destino anunciado pela doença.

Adeus coompanheiro.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

LEITURAS 2011 - LIVRO INFANTIL

A grande produção do livro infantil não permite falar de todos os bons livros que saíram. O Plano Nacional de Leitura e a grande importância que se está a dar nas escolas à promoção da leitura está na origem desta verdadeira avalanche. Não os li a todos. Vejo que continuam a publicar autores como a Margarida Fonseca Santos, António Mota, David Machado,Sílvia Alves Rosário Alçada Araújo, Manuel António Pina, Álvaro Magalhães, Luísa Ducla Soares, Alice Vieira, José Jorge Letria e, à cabeça, o mestre de todos nós que é o António Torrado.

Escolhi estes. Poucos mas muito bons. Luzes muito fortes num mar de publicações onde o bom e muito bom se mistura num equívoco por vezes desastroso com o menos bom e aquilo que é apenas comércio e não tem nada a ver com a verdadeira literatura para a infância e juventude.



Começo por um belíssimo livro com texto e ilustrações de Afonso Cruz. Prémio SPA para o melhor Livro de literatura infantil. Uma delícia de humor e inteligência. Uma obra que ajuda a criança a reflectir sobre a sua vida e a crescer sem os rodriguinhos lambe botas da escrita troloró para criancinhas.




Sigo com uma colecção notável, a Gramofone, ilustrações de Afonso Cruz e textos de Margarida Fonseca Santos, Rosário Alçada Araújo, António Mota, Alice Vieira e mais eu próprio.

Livros com preocupação didáctica mas sobretudo muito divertidos. Objectos deliciosos. Literatura da boa. Infelizmente as boas referências não se traduziram num volume de vendas que permita para já que a colecção continue.

Vale a pena apostarmos nestes livros. São bons para nós adultos e para os nossos meninos.



"LULU E O BRONTOSSAURO", Judith Viorst e Lane Smith, ed. Gailivro, outro caso de insucesso de vendas para um livro absolutamente delicioso especialmente para meninos malcriados e respectivos pais. A Lulu tem tanto de insuportável como de divertida. E o brontossauro acaba opor fazer aquilo que seria obrigação dos pais. Uma pérola.



Finalmente uma ilustração de João Vaz de Carvalho para uma editora relativamente recente e de que pouco se dá por ela nas bancas das livrarias, a Bags of Books, que tem um catálogo de grande exigência plástica e em que quase todos os seus livros são uma festa para os olhos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

LEITURAS 2011 - OS PORTUGUESES

A ficção portuguesa está bem e recomenda-se. Vale a pena visitar toda uma geração que se tem afirmado com grande força e impacto até a nível internacional.

É obrigatório ler escritores como João Tordo, Afonso Cruz, David Machado, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Paulo Moreirinhas, etc, etc.

Já para não falar dos mais velhos e mesmo dos que já não estão entre nós e que por vezes esquecemos imperdoavelmente como é o caso, por exemplo, de dois grandes escritores de que se comemorou este ano o centenário do nascimento, Manuel da Fonseca e Alves Redol, ou ainda de Raúl Brandão, Aquilo, Ferreira de Castro, José Cardoso Pires (que é preciso ler, reler e treler) Nuno Bragança, Carlos Oliveira, Sttau Monteiro, e etc, etc.

E aqui vão algumas das obras, escolhidas sem programa pré-definido, que fizeram mais ricas as minhas as minhas horas de leitura :




A Alexandra Lucas Coelho leva-nos pela mão neste livro através do México. E que bem nos ajuda ela a conhecer esse país mítico, convulso, divergente, diverso, explosivo, apaixonante. Depois de ler este livro quero ir ao México urgentemente. Não a Cancún ou qualquer dessas praias do roteiro turístico internacional que são todas iguais estejam onde estiverem. mas ao México mesmo, ao fundo do México.
Depois de ler este livro é o que nos acontece, esta inclinação à paixão pela viagem.

Obrigadinho, Alexandra.



A Filomena é uma amiga que eu gosto muito de visitar,ouvindo as suas palavras sábias e doces e deliciando-me com prosa a que a Filomena dá uma respiração muito particular e muito sua.
Estes contos são uma delícia e guardo especialmente memória do último, passado em Sintra, 1908, quando a Rainha vai à Matilde de queijadas para levar um cesto delas de que os príncipes tanto gostam. Matilde (que adivinhamos secreta prima dos dois jovens) despede-se desejando ironicamente muita saúde e muitos anos de vida a Suas Altezas...



Sou suspeito. O Afonso é ilustrador, romancista, músico, agricultor. A sua escrita é divertida, saudável, inteligente, culta, acessível, transbordante de invenção e criatividade, misturando mundos que aparentemente nada têm a ver uns com os outros.
Esta história é inspirada numa outra, verdadeira, de um pintor judeu escondido em casa dos seus avós na Figueira da Foz durante a 2ª Guerra Mundial.
Só que a partir dessa história, o Afonso voa muito, muito alto.



Os retornados foram um acontecimento incómodo durante e logo a seguir ao final da Revolução de Abril e ao Fim do Império Colonial.
Pouco ou nada existe na nossa ficção que fale da gesta desta gente que, em muitos casos, chegou a Portugal com uma mão à frente e outra atrás, e que o Estado Português teve muita dificuldade para ajudar eficaz e atempadamente.
Dulce Maria Cardoso cria uma ficção sem preconceitos sobre os retornados e os hotéis onde muitos foram aboletados, e onde conhecemos os seus problemas, os seus dramas, os seus desajustes e pecadilhos, as suas memórias verdadeiras e mentirosas, os seus sonhos, os seus naufrágios.
Já tinham surgido romances sobre a Guerra Colonial, nomeadamente esse fantástico "Cus de Judas" do António Lobo Antunes. Agora chegou a vez de se falar do retorno.
Também com a ficção se faz História e, também nesse sentido, este livro é importante.



Outro amigo grande. O Mário é quanto mim uma das pessoas que melhor utiliza a língua portuguesa. A sua ficção varia entre relatos e contos brilhantemente galhofeiros e com alguns toques de loucura, caso de livros seus como "Os casos do Beco das Sardinheiras" ou "A inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho", ou quando navega num mar de intensa melancolia como é o caso do romance "Um Deus passeando na brisa da tarde" que é, quanto a mim, um dos 3 ou 4 melhores romances portugueses depois do 25 de Abril.
Ler o Mário é indispensável para a nossa lusitana saúde. Ler esta história é cumprir uma viagem desopilante ao mundo da nossa pequena maneira de ser trafulhas, quer se seja um respeitável proprietário de drogarias, quer uma cabeleireira ou um bandideco de 3ª categoria.
Uma delícia para comer e chorar por mais.