segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ECONOMIA E POESIA




O meu amigo Nicolau Santos deixou-me de boca aberta. E não é a primeira vez. A sua paixão pela poesia já me fez dizer-lhe entre sorrisos que "Quando vejo um homem da ária da economia que gosta de poesia eu acredito que o mundo ainda pode ter uma hipótese de salvação."

Telefonaram-me no domingo a dizer que eu vinha no suplemento de Economia do "Expresso". De boca aberta fui resgatá-lo ao lixo porque normalmente alimento-me pouco desse tema que sempre me pareceu um pouco esotérico. E se calhar faço mal, pensei. Porque há gente que escreve sobre economia e voa. É o caso do Nicolau Santos.

Inteligente, perspicaz, culto e sensível, costuma misturar coisas que habiualmente não andam de braço dado, para mostrar que, se por vezes os poetas andam afastados das coisas concretas da vida quotidiana, outras vezes são os agentes da economia que andam de olhos tão baixo que bem precisam de criatividade, invenção,capacidade de risco e asas para voar, ou seja, a matéria de que é feito o trabalho dos poetas.

Ao lado de uma prosa sobre a falta de inovação e criatividade de grande parte do nosso tecido empresarial, o meu amigo Nicolau Santos publicou uma fotografia minha a declamar poesia e um extracto do poema "ASAS".

Fiquei comovido, agradecido e apesar do tempo difícil que vivemos com a certeza de que "Quando a economia der o braço à asa da inovação, da criatividade, da poesia, talvez ainda haja uma hipótese de salvação para o mundo e para este nosso pequeno e às vezes tão triste país."



E aproveito para deixar o poema inteiro que, aliás vem publicado com vários outros em www.josefanha.com


ASAS

Nós nascemos para ter asas, meus amigos.
Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós
nascemos para ter asas.
No entanto, em épocas remotas, vieram com dedos
pesados de ferrugem para gastar as nossas asas como
se gastam tostões.
Cortaram-nos as asas para que fôssemos apenas
operários obedientes, estudantes atenciosos, leitores ingénuos
de notícias sensacionais, gente pouca, pouca e seca.
Apesar disso, sábios, estudiosos do arco-íris e de coisas
transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem
mesmo depois de cortadas, e, novamente cortadas,
de novo voltam a ser.
Aceitemos esta hipótese, apesar não termos dela
qualquer confirmação prática.
Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.

6 comentários:

Maria disse...

Que ideia boa teve o NS. Já tenho mais um post para publicar...

:))
Beijos.

zmsantos disse...

É urgente, esta ligação de mundos tão diferentes e (até à pouco) antagónicos.

Abraço.

viajantes disse...

A propósito...
Numa destas encruzilhadas encontrei um mestre. entre muitas coisas que vai fazendo na vida dirigidas aqui aos viajantes e que aprecio, gosto sobretudo dos temperos que usa nas coisas simples como a economia. sim, simples, porque ele fa-las simples, quando as trata, "tú cá, tú lá", se não, vejam como é que ele as tempera, e nos aguça o gosto a vivê-las.
«O zen e a gestão» 24.01.2007In Diário de Notícias By João Carvalho das Neves Professor catedrático, departamento de Gestão do ISEG

Abraço!

Mar Arável disse...

Por ti

vou atentar no sexta à noite

Abraço

Margarida Tomaz disse...

Que lindo poema
por dentro das asas
que linda viagem
a do Poeta
em palavras libertas
do fundo do coração!

Abraço com asas

Margarida

JOSÉ FANHA disse...

As vossas palavrasm«, caros amigos, são verdaeiramente inspiradoras. Bem hajam,