sexta-feira, 20 de julho de 2012

FALAR DE LIVROS


Repetir o mesmo texto em dois blogs em que participo, parece um pouco pretensioso. No entanto, penso que os leitores de um e outro talvez não sejam coincidentes.

A Leitura é uma paixão minha. E a reflexão escrita sobre essa mesma Leitura constitui um exercício que muito prezo e me ajuda a melhor entender e absorver o lido. Esse exercício tenho-o trazido a público no blog "7leitores" em conjunto com vários outros leitores "obsessivos".

Escrevi este textinho a propósito desse mesmo exercício e tenho a esperança que possa interessar também a leitores que sejam frequentadores deste blog e não do outro.


(Com muita admiração e amizade a Helena Vasconcelos e Eugénio Lisboa)


Receio muito o exercício da opinião, sobretudo quando se torna "profissional" e de olho gordo posto na gorjeta; quando procura criar poder e influência sob a capa da reflexão e da especialização; quando vive das modas, ou seja, do negócio de circunstância; quando usa as cinco estrelas, quatro garfos, três parafusos e meio, uma qualquer tabela classificativa; quando intencionalmente magoa, exclui, ignora.

Exemplos destes lemos larga e regularmente nas páginas de crítica literária, musical, cinematográfica, teatral, de artes plásticas, etc,dos nossos jornais.

"O intelectual, o mandarim universitário, o rato de biblioteca não frequenta a escola da bravura.”, afirma Georges Steiner.

("Quatro entrevistas com Georges Steiner", Ramin Jahanbegloo, Ediçõs Fenda, Lisboa, 2006)


Quando falo de livros falo de uma leitura conduzida de dentro da minha vida. Um encontro humilde e apaixonado, sem outras preocupações que não as de permitir que essa leitura me acrescente. E há um rio que corre do livro lido ao meu encontro , um rio por onde circulam pequenas luzes que me vão iluminar hoje e amanhã e depois.

Citado por Harold Bloom ("Ler" Junho 2012), afirmava Oscar Wilde que: "A crítica literária é a única forma civilizada de autobiografia".



O problema será talvez quando não se tem biografia e só se tem opinião. Mas o pior ainda é quando a ausência de biografia implica a incapacidade de amar e faz com que o opinante se esconda por baixo da capa enganosa de um saber que se a si próprio como único critério de análise.

Eu leio com paixão. E quando a paixão não se solta e os livro nada me acrescenta ao acto de tactear a vida com os dedos, então nem falo desses livros. Secam à nascença. Ficam muito bem guardados na gaveta do esquecimento.

Voltando a Bloom: "Quando somos mais velhos, queremos que a crítica - como o ensino, a leitura, a escrita - não seja apenas humanista, seja também humana. Tem de ser amor à literatura antes de mais nada.

E acrescente-se de novo Georges Steiner:

“Ler não é sofrer mas, falando com propriedade, estarmos prontos a receber em nossa casa um convidado, ao cair da noite.”

Vale a pena ler os grandes leitores. Aprendemos muito com eles. Harold Bloom, Georges Steiner, Eduardo Lourenço.

E eu sei pouco. Mas tenho para a troca.

2 comentários:

anamarg disse...

“Ler não é sofrer mas, falando com propriedade, estarmos prontos a receber em nossa casa um convidado, ao cair da noite.” Partilho esta frase de um "Leitor" que muito admiro e que, simultaneamente, tem a humildade de se considerar um eterno aprendiz. Mais importante do que se ser um rato de biblioteca e um intelectual, é ser-se capaz de amar os livros como se ama as pessoas que nos são mais próximas. Esse é o valor mais importante que uma biblioteca pode ajudar a criar junto dos leitores. O resto pode vir ou não vir depois e por consequência. O amor aos livros deve ser uma manifestação da nossa capacidade de amar, sem necessidade de identificarmos os destinatários. Não devemos esquecer, igualmente, que esse amor pode não nos salvar das maiores atrocidades. O homem é um ser em permanente aperfeiçoamento e a literatura não salva ninguém. Apenas ajuda a ler o mundo e a ler um pouco melhor o ser que somos.Ana Cruz

JOSÉ FANHA disse...

Querida amiga,

Obrigado pelas palavras certeiras e doces.

É bem verdade que a literatura não salva ninguém.

Mas faz-nos conhecermo-nos melhor a nós próprios e estabelecer pontes diversas com os outros e com o mundo.

beijinho