sábado, 8 de novembro de 2014

VAGAS E LUMES

O livro saiu na semana passada. E é para ler e chorar por mais.

O meu muito amigo e companheiro de nuvens e sonhos, Mia Couto, feiticeiro das palavras, mostra-se cada vez mais poeta, apesar de não deixar de ser um maravilhoso contador de histórias.

Falávamos há uns dias. Perante este mundo estranho que não sabemos para onde vai e onde muitos dos nossos sonhos de humanidade parecem demasiado adiados, afogados no "tem que ser" das economias, o que nos resta a nós se não SER, apenas SER, continuar a SER, com o mesmo olhar em fogo e água e as mãos a moldar o barro das palavras para as oferecer a quem delas mais precisa?



ERRATA

Quem é mortal, mente.

Mentirosos,
ainda mais,
os tais
imortais.

Sem culpa uns e outros.

O verbo morrer
é que é sujeito falso
e de duvidosa acção.

Mais verdadeiro seria
se não fosse verbo.

Ou se conjugasse apenas
em forma passiva: ser morrido.

Como eu,
mais que as vezes que nasci,
fui morrido por ti.

E, assim, findo
num engano de rio:
simulando que morre
mas sendo água eterna.


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