Há escritores que constituem um marco, um pólo,uma referência imprescindível. E são-no pela sua obra, pela sua vida, pela autoridade da sua palavra, pelo seu posicionamento de ético na sociedade. Foram-no José Afonso e José Saramago. São-no Lídia Jorge e Manuel Alegre.
É preciso ouvir Manuel Alegre quando levanta a voz e quando fala em nome de todos nós, do nosso passado e da possibilidade de termos um futuro. Quando fala em nome da PÁTRIA.
PÁTRIA MINHA
Entre nós e o futuro há arame farpado
levaram o que se via além de nós
não resta mais que a ponta do nariz
como esperar agora o inesperado?
Somos do Sul e o saldo somos nós
contra o bezerro de oiro o teu quadrado
o poema tem de ser o teu país.
Entre nós e amanhã há uma taxa de juro
uma empresa de rating Bruxelas Berlim
entre hoje e o futuro há outra vez um muro
resgate é a palavra que nos diz
tens de explodir o não dentro do sim
não te feches em torres de marfim
o poema tem de ser o teu país.
Toutinegras virão cantar contigo
e os melros que se escondem nas vogais
e o morse aflito e rouco da perdiz
nas sílabas que avisam do perigo
e as lanças das consoantes e os sinais
por dentro das palavras que mais
do que palavras são o teu país.
Oiço dizer Europa mas Europa
é uma nau a chegar ao nunca visto
Flor de la Mar: e o Mundo em tua boca.
Navegação: madre das cousas. Isto
é Europa. País no mar. E vento à popa.
Não este não arrisco logo existo
de cócoras à espera de uma sopa.
Um cheiro de jasmim a brisa nos salgueiros
entre nós e o futuro um silêncio nos diz.
O saldo somos nós: trinta dinheiros.
Pátria minha quem foi que te não quis?
Entre nós e o futuro a terra e a raiz
e a Flor de la Mar e os velhos marinheiros
e o poema onde respira o teu país.
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2 comentários:
Morrem os poetas
fica a poesia
Que beleza! Que força!
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