sábado, 19 de setembro de 2015

MANUEL ALBERTO VALENTE


O Manuel Alberto Valente é um editor reconhecidíssimo pela qualidade do trabalho que tem feito na sua vida profissional. Devo-lhe ter-me dado a conhecer uma enorme quantidade de escritores.

No entanto será menos conhecido como poeta que teve uma produção mais intensa antes do 25 de Abril. Várias vezes lhe falei da sua poesia e encontrava nele uma timidez como se preferisse deixar a poesia no longe dos anos onde morava.

Felizmente é agora publicada. E algumas pessoas mais jovens ou menos recoirdadas terão por certo agradáveis surpresas ao lê-lo.



LADAÍNHA PARA O TEU ADORMECER


um velho muito velho a sonhar com a Soraya
um padre muito padre a dizer que é ateu
um prédio quase novo que se espera que caia
uma homenagem póstuma a alguém que não morreu

uma canária virgem que abandonou o ninho
uma fonte com água quase a morrer de sede
a dez tostões esticadores p’ró colarinho
um ginasta atrevido que trabalha sem rede

uma pomada mágica do próximo oriente
um macaco sem rabo que foi de foguetão
um bébé sem cabelo a chorar por um pente
uma tia doente a arder no fogão

uma cautela em branco na roda de amanhã
um nariz muito sujo sem ter onde se assoe
um ramo de camélias a estrelar na sertã
e que deus nosso senhor vos abençoe

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