segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

LEITURAS 2011 - OS PORTUGUESES

A ficção portuguesa está bem e recomenda-se. Vale a pena visitar toda uma geração que se tem afirmado com grande força e impacto até a nível internacional.

É obrigatório ler escritores como João Tordo, Afonso Cruz, David Machado, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Paulo Moreirinhas, etc, etc.

Já para não falar dos mais velhos e mesmo dos que já não estão entre nós e que por vezes esquecemos imperdoavelmente como é o caso, por exemplo, de dois grandes escritores de que se comemorou este ano o centenário do nascimento, Manuel da Fonseca e Alves Redol, ou ainda de Raúl Brandão, Aquilo, Ferreira de Castro, José Cardoso Pires (que é preciso ler, reler e treler) Nuno Bragança, Carlos Oliveira, Sttau Monteiro, e etc, etc.

E aqui vão algumas das obras, escolhidas sem programa pré-definido, que fizeram mais ricas as minhas as minhas horas de leitura :




A Alexandra Lucas Coelho leva-nos pela mão neste livro através do México. E que bem nos ajuda ela a conhecer esse país mítico, convulso, divergente, diverso, explosivo, apaixonante. Depois de ler este livro quero ir ao México urgentemente. Não a Cancún ou qualquer dessas praias do roteiro turístico internacional que são todas iguais estejam onde estiverem. mas ao México mesmo, ao fundo do México.
Depois de ler este livro é o que nos acontece, esta inclinação à paixão pela viagem.

Obrigadinho, Alexandra.



A Filomena é uma amiga que eu gosto muito de visitar,ouvindo as suas palavras sábias e doces e deliciando-me com prosa a que a Filomena dá uma respiração muito particular e muito sua.
Estes contos são uma delícia e guardo especialmente memória do último, passado em Sintra, 1908, quando a Rainha vai à Matilde de queijadas para levar um cesto delas de que os príncipes tanto gostam. Matilde (que adivinhamos secreta prima dos dois jovens) despede-se desejando ironicamente muita saúde e muitos anos de vida a Suas Altezas...



Sou suspeito. O Afonso é ilustrador, romancista, músico, agricultor. A sua escrita é divertida, saudável, inteligente, culta, acessível, transbordante de invenção e criatividade, misturando mundos que aparentemente nada têm a ver uns com os outros.
Esta história é inspirada numa outra, verdadeira, de um pintor judeu escondido em casa dos seus avós na Figueira da Foz durante a 2ª Guerra Mundial.
Só que a partir dessa história, o Afonso voa muito, muito alto.



Os retornados foram um acontecimento incómodo durante e logo a seguir ao final da Revolução de Abril e ao Fim do Império Colonial.
Pouco ou nada existe na nossa ficção que fale da gesta desta gente que, em muitos casos, chegou a Portugal com uma mão à frente e outra atrás, e que o Estado Português teve muita dificuldade para ajudar eficaz e atempadamente.
Dulce Maria Cardoso cria uma ficção sem preconceitos sobre os retornados e os hotéis onde muitos foram aboletados, e onde conhecemos os seus problemas, os seus dramas, os seus desajustes e pecadilhos, as suas memórias verdadeiras e mentirosas, os seus sonhos, os seus naufrágios.
Já tinham surgido romances sobre a Guerra Colonial, nomeadamente esse fantástico "Cus de Judas" do António Lobo Antunes. Agora chegou a vez de se falar do retorno.
Também com a ficção se faz História e, também nesse sentido, este livro é importante.



Outro amigo grande. O Mário é quanto mim uma das pessoas que melhor utiliza a língua portuguesa. A sua ficção varia entre relatos e contos brilhantemente galhofeiros e com alguns toques de loucura, caso de livros seus como "Os casos do Beco das Sardinheiras" ou "A inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho", ou quando navega num mar de intensa melancolia como é o caso do romance "Um Deus passeando na brisa da tarde" que é, quanto a mim, um dos 3 ou 4 melhores romances portugueses depois do 25 de Abril.
Ler o Mário é indispensável para a nossa lusitana saúde. Ler esta história é cumprir uma viagem desopilante ao mundo da nossa pequena maneira de ser trafulhas, quer se seja um respeitável proprietário de drogarias, quer uma cabeleireira ou um bandideco de 3ª categoria.
Uma delícia para comer e chorar por mais.

1 comentário:

Paulo Freixinho disse...

Fiquei curioso em relação ao livro do Mário de Carvalho... abraço...