segunda-feira, 6 de agosto de 2012
NUNO TEOTÓNIO PEREIRA
Tem 90 anos. Está cego. Estava cego de uma das vistas. Acordou há dias e percebeu que a outra vista apresentava sinais perturbadores. Tomou os transportes públicos para ir ao atelier conforme fazia todos os dias. Foi despedir-se de Lisboa. Ao jantar tinha cegado da segunda vista.
Esta história é contada pelo Público na edição de domingo 29.07.12, junto com uma biografia e uma entrevista. Todas de leitura obrigatória.
Nuno Teotónio Pereira é um dos arquitectos míticos para a minha geração, junto com Nuno Portas, Manuel Tainha e outros que não se preocupavam em fazer bolos de noiva pós-modernos para "enfeitar" a cidade e os bolsos dos empreendedores sem respeito pelos espaços colectivos.
Traduziu para português a "Carta de Atenas", bíblia dos arquitectos que procuravam nos anos 50 e 60 responder às necessidades sociais da cidade e da sua arquitectura.
Propunha uma arquitectura que permitisse uma vivência limpa, decente e comunitária.
Foi fundador do MRAR, Movimento para a renovação da arte religiosa. Nesse caminho é emblemática a igreja da Rua Camilo Castelo Branco em Lisboa (projecto conjunto com Nuno Portas, Vasco Lobo, Vitor Figueiredo, P.Vieira de Almeida).
O edifício que projectou para a R. Brancaamp, em Lisboa, conhecido pelo "Franjinhas", provocou uma tremenda discussão pública. mas isso era num tempo em que os animais falavam e apesar da censura e de tudo o mais, a coisa pública, a polis, era discutida na praça pública.
Nuno Teotónio Pereira foi um dos mais destacados membros dos "católicos progressistas", grupo que se levantou contra o Estado Novo, denunciando os crimes da Guerra Colonial, as condições dos presos políticos, os abusos da polícia política.
Integrando a vigília da Capela do Rato na passagem do ano de 72 para 73, contra a guerra e o regime vigente, foi preso e só libertado a 26 de Abril de 74.
Do Nuno Teotónio Pereira, amigo muito querido de quem fui companheiro em várias lutas posso dizer, não receando cair no lugar comum, que tendo perdido a vista continua aos 90 anos a ver muito mais do que muito boa gente este país.
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1 comentário:
Já sabia. E como lamento...
Abraço.
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