MIGUEL TORGA (1907 - 1995)
Miguel Torga não era muito dado a ligeirezas. Mas às vezes saía-lhe um poema em forma de sorriso. Mas sempre um sorriso com volta na ponta como convém a todos os sorrisos.
A formiga desta fábula é como a quase totalidade dos nossos políticos. Para eles não existe canto, não existe poesia, quer dizer, não existe cultura.
Netas autárquicas quantos candidatos terão falado de cultura? Quantos irão morrer de fartura?
FÁBULA DA FÁBULA
Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E, realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
(Retrato de Miguel Torga por Artur Bual)
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