O José Jorge Letria é um querido amigo e companheiro de há muitos anos, antes e depois do 25 de Abril.
Foi vasta a sua actividade cívica, quer na resistência à ditadura salazarista, quer na construção desta democracia agora a tremeluzir demais para quem gosta da luz clara e da palavra limpa.
O Zé é um poeta amado por uns e mal querido por algumas das senhoras patroas que mandam nas literatices.
A sua obra é vasta e diversa, brilham nela momentos de poesia de rara qualidade.
Alguns dos seus livros são imprescindiveis, nomeadamente "O LIVRO BRANCO DA MELANCOLIA", um dos meus favoritos, de onde saiu este "QUANDO EU FOR PEQUENO".
QUANDO EU FOR PEQUENO
Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a ceteza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena
com um lenço branco com as iniciais bordadas
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
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2 comentários:
Amigo e grande poeta
Uma referência
viva
Um grande poema que aprendi contigo, creio. Anda esquecido o Poeta e é pena. Tantos Poetas esquecidos e tantos promovidos sem se perceber bem porquê. Enfim, a peneira do Tempo tratará de fazer a separação. Abraço, querido Amigo.
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