domingo, 28 de dezembro de 2014

A NOSSA CASA

Na poesia moderna, e depois de um século XIX em que a poesia feminina pouco ou nada se tornou pública, foi Florbela a primeira poetisa a falar da mulher por inteiro, do amor, do desejo, do corpo.

Seguiram-se-lhe outras. As mais conhecidas são Natália e Maria Teresa Horta. Mas é ela que rompe a situação de marginalidade das vozes femininas, sofrendo na pele as dores dessa mesma marginalidade a que estava condenada a condição e a escrita das mulheres.



FLORBELA ESPANCA (1894-1930)


A NOSSA CASA


A nossa casa. Amor, a nossa casa!
Onde está ela. Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela. Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro – tão bom – dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...

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