O Rui Namorado, é um belo poeta tão discreto quando interveniente e certeiro. Coimbrão, da geração das lutas académicas de 62, companheiro de homens como Manuel Alegre e Fernando Assis Pacheco . Sobrinho do grande nome da poesia neo-realista portuguesa que foi Joaquim Namorado.
Acabou de publicar "Os dias imensos" na editora "Lápis de memórias" do meu amigo Adelino Castro. Ainda há quem ligue à poesia neste país! Obrigado Adelino. E obrigado Rui pela tua bela escrita.
FUGA
o quintal nos meus olhos como oferenda verde
a penumbra do fim da tarde deposita-se ao de leve
no repouso tranquilo do olhar
uma leve brisa de outono amarelece os minutos
se eu fosse navegador diria agora adeus
no cais mais íntimo do último porto
mas sou apenas um poeta perdendo-se na tarde
sem índias nem américas, gravado na europa
labirinto de povos e cidades, lugar de livros e de catedrais
sou apenas um bosque, alguém esquecido
das cóleras mais frias da esperança
um ligeiro arrepio do vento ao fim da tarde
se os violoncelos encontrassem ainda o segredo das lágrimas
e pudessem despi-los sem violência nem ternura
para que eu ouvisse os castanheiros fartarem-se do vento
se as guitarras subissem as largas avenidas do terror
como quem rasga as margens da tristeza
e vai ainda mais longe no coração das horas
talvez eu pudesse inventar sílabas de descanso
evitar cuidadosamente o poema como se me fosse embora
e colher a tarde como planície sem vícios nem marés
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1 comentário:
Boa partilha
Abraço
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