domingo, 29 de setembro de 2013

QUEM NÃO CANTA

MIGUEL TORGA (1907 - 1995)

Miguel Torga não era muito dado a ligeirezas. Mas às vezes saía-lhe um poema em forma de sorriso. Mas sempre um sorriso com volta na ponta como convém a todos os sorrisos.

A formiga desta fábula é como a quase totalidade dos nossos políticos. Para eles não existe canto, não existe poesia, quer dizer, não existe cultura.

Netas autárquicas quantos candidatos terão falado de cultura? Quantos irão morrer de fartura?

FÁBULA DA FÁBULA

Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E, realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.


(Retrato de Miguel Torga por Artur Bual)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A HISTÓRIA DA MORAL


Pela eficácia da sua verrina, pelo notável talento, pela ternura disfarçada mas sempre à vista, pela oficina brilhante Alexandre O'Neill é seguramente um dos grandes poetas portugueses de sempre.

Este poema falava dos mandantes dos anos 50, talvez 60 E o azar é que se aplica tão bem aos mandantes de hoje..


A HISTÓRIA DA MORAL


Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.



quinta-feira, 26 de setembro de 2013

DAS CANÇÕES À POESIA

A comunicação anda a correr. Há poucos anos, um blog era uma forma nova de falar com os amigos mais próximos, os mais distantes e outros até quenm conhecemos e que por isto ou por aquilo vêm meter o nariz naquilo que resolvemos atirar ao mundo.

Apareceram depois os facebooks, Tweeters, etc. São formas de comunicação mais rapida e imediata, mais boca a boca, próprias para mnsagens cada vez mais curtas e menos elaboradas.

Tudo bem. O mundo muda e nós vamos procurando não perder os comboios diversos, os desafios mais inesperados trazidos pelas novas tecnologias.

Alguns vão tentando usar estas novidades para falar, ouvir, comunicar, estar com os outros. Alguns fazem-no das formas mais desinteressantes e superficiais. Outros tentam usar estas tecnologias para não se perderem de si próprios, nem das suas ideias, nem dos seus amigos e dos seus amores, sejam eles quais forem.

Através deste blog tenho-me sentido na obrigação de dar à estampa algumas coisas, imagens, música, ideias, notícias do mundo visto do lado deste poeta e contador de histórias do saltapocinhas que sou. Gosto de pensar que é uma partilha que me deixa mais próximo de amigos que conheço e outras que não mas que não dixam de ser amigos.

Há dias as QUERIDASBIBLIOTECAS fizeram 6 anos!

Durante coisa de mês e meio trouxe para aqui algumas das canções do rock/pop que fizeram parte do melhor da banda sonora da minha vida. Qualququer dia atiro-me às francesas, às espanholas,às brasileiras. Porque foi também através das canções e da sua poesia que eu e a minha geração construímos uma forma de estar, de sonhar, de pensar, de rir e de dançar.

Eu sou eu mais as canções que ouvi e que cantei, e os livros que li, e os filmes e as peças de teatro que que vi.

Vou passar a outra fase, de momento. ca canção para o poema vou partilhar poetas e poemas portugueses e não só Às vezes traduzo poesia. É um exercício de paixão que muito prezo. Também para aqui virão esses poemas de que me aproprio para os recriar na nossa língua.

E aqui fica uma frase do maravilhoso poeta brasileiro Manoel de Barros. Mas que não abre a porta a nenhum pessimismo mas a uma foma notável de mostrar como a poesia nos transporta para outros domínios do entendimento da vida. Aliás já a Luísa Neto Jorge dizia que "O poema ensina a cair"

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ANTÓNIO RAMOS ROSA

Tinha 89 anos. Hoje mudou de lugar. A vida foi complicada e enorme a obsessão pela poesia. Creio que foi em tempos candidato ao Prémio Nobel. Nunca pertenceu a capelinhas. Perante a ditadura mostrou uma dignidade invulgar mostrando que também escrevendo se resiste. Deixa uma obra imensa. Fica aqui um dos seus poemas mais antigos e também dos mais emblemáticos.

POEMA DUM FUNCIONÁRIO CANSADO


A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal
em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu
dever?
Porque me sinto irremediavelmete perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isso todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só



sábado, 21 de setembro de 2013

6 ANOS DE QUERIDASBIBLIOTECAS

Faz hoje 6 anos que iniciei as QUERIDASBIBLIOTECAS. E cá continuo. Não se trata de comunicação de massas. Mas já recebeu quase 160.000 visitas. Gente de bem, estou certo. Gente que partilha valores, paixões, e a grande importância que damos à leitura e à escrita.

Publico aqui mais abaixo o texto do primeiro dia há 6 anos. Está razoavelmente actualizado Eram 3 bibliotecas José Fanha que havia à data. Agora já são 8. Vários livros dei entretanto à estampa.

É claro que os anos foram dando sinal nas dobradiças do corpo. Mas, apesar das indispensáveis desilusões, as convicções, as paixões, a entrega à vida e à palavra dita e escrita, essas continuam com toda a força.

A todos os que por aqui passaram, um grande abraço, muita ternura e vão aparecendo mesmo em silêncio andamos à volta uns dos outros. E isso é muito bom




Cada vez mais as Bibliotecas fazem parte da minha vida.

Gosto de livros. Melhor, gosto de ler. Gosto tanto de ler que não sou capaz de passar um dia sem ler pelo menos uma história, uma página de um romance, um poema, qualquer coisa.

Gosto muito de ler para mim em silêncio e de ler em voz alta. De ler para os outros e de partilhar com todos as viagens, as aventuras, as emoções que a leitura me traz.

Gosto de passear pelas bibliotecas e reencontrar esses velhos amigos que são os livros já lidos. Olha “Os Três Mosqueteiros”! E “O velho que lia romances de amor”! E “O Principezinho”! E “As aventuras de João Sem Medo”!

Também gosto de conhecer novos livros. Deixam água a boca e uma vontade enorme de pegar neles e desatar a lê-los.

Adoro as Bibliotecas. Mas não é só por causa dos livros. É também pelas pessoas que lá trabalham. E as que entram para ler. E as que saem com os livros emprestados debaixo do braço. E as que lá vão contar histórias. E as que escrevem essas histórias.

Também eu gosto de escrever histórias e poemas. Por isso é que vou a muitas escolas e Bibliotecas para ler os meus livros e conhecer os meus leitores. É como se fossemos todos da mesma família. Uma família que encontra um bom bocado de felicidade em volta das palavras, dos livros e das leituras.

Por tudo isto é que, cada vez mais, as Bibliotecas fazem parte da minha vida.

E agora há ainda mais uma razão para estar tão ligado às Bibliotecas. Vai inaugurar-se a terceira Biblioteca com o meu nome! Primeiro foi o Centro de Recursos da Escola EB 23 da Venda do Pinheiro, depois a Biblioteca da EB 1 nº3 do Cacém e, finalmente, inaugura-se no dia 26 de Setembro a Biblioteca José Fanha da Escola EB 1, JI do Olival Basto

Imagine-se! Três Bibliotecas! É um mundo! Não sei se mereço tanto carinho. Não sei se consigo acrescentar-lhes alguma coisa ao muito que já fazem.

Por isso criei este blog para todos, alunos e professores destas e de todas as escolas e de todas as Bibliotecas. Para partilhar as histórias e poemas que vou escrevendo, coisas malucas que ás vezes me acontecem como acontecem a toda a gente, livros e filmes de que gosto muito especialmente, e mais as memórias antigas, algumas fotografias, enfim, bocados grandes e pequenos do que tem sido a minha vida à volta de palavras e livros e leituras.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE - 20

Guardei para última canção desta viagem pelos anos 60, "ALL YOU NEED" dos Beatles.

Creio que ouvi-la foi um momento único na minha vida, um momento em que voei a uma altura incomensurável.

A Wikipédia diz sobre esta canção:

"Em 1967, a equipe do canal londrino BBC convidou os Beatles a participarem do primeiro evento transmitido mundialmente via-satélite, ao vivo simultaneamente para 26 países: o programa Our World. Esse trabalho envolveu redes de TV das Américas, Europa, Escandinávia, África, Austrália e Japão.
Foi então solicitado que o grupo escrevesse uma música cuja mensagem pudesse ser entendida por todos os povos do planeta. John Lennon e Paul McCartney começaram a trabalhar separadamente em diferentes letras, até que Lennon acabou escrevendo esse clássico que se encaixou perfeitamente ao objetivo proposto, pois a mensagem de amor contida na canção poderia ser facilmente interpretada ao redor do mundo.
Os Beatles foram transmitidos ao vivo diretamente do Abbey Road Studios em 25 de junho de 1967. A canção foi gravada durante a apresentação, embora eles tivessem preparado antecipadamente – num período de cinco dias – as gravações e a mixagem antes da transmissão. A letra trazia uma mensagem de paz nos tempos da Guerra do Vietnã. Os Beatles convidaram vários amigos para participarem do evento, cantando o coro da canção, entre eles Mick Jagger, Eric Clapton, Marianne Faithfull, Keith Moon e Graham Nash. O programa foi visto por cerca de 350 milhões de pessoas e foi responsável por eternizar ainda mais o nome dos Beatles na História da Humanidade. A gravação desta apresentação pode ser encontrada no álbum Yellow Submarine."

A minha memória atraiçoa-me. Recordo-me de ver esta canção em directo na RTP, sim, mas associava-a à passagem de ano de 67 para 68. Ou Julho ou Dezembro, era 67, o ano de todos os sonhos. Foi para mim um momento de quase indiascritível emoção, um rasgão da negra comunicação no tristíssimo Portugal de então. Chorei a ouvi-la. Era uma cação de paz, de paz, DE PAZ! E nós, é bom que se lembre, estávamos em guerra.


THE BEATLES - ALL YOU NEED IS LOVE

domingo, 15 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE - 19

Paul Simon é um extraordinário compositor e poeta que tem sabido atravessar vários tempos mantendo públicos que atravessam décadas e gerações.

Com Art garfunkel constituiam uma harmonia cara na forma como conjugavam as vozes. Separaram-se e Paul partiu para outras e não menos entusiasmantes aventuras musicais.

As histórias que canta fazem parte da minha vida. E há nas suas canções qualquer coisa que me faz orgulhar-me de pertencer à raça humana e de desconfiar que ainda um dia esta raça vai viver em paz


PAUL AND SIMON - THE BOXER

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE - 18


Duas violas, 3 vozes, excelentes canções, era a recita imbatível deste grupo.

"If I Had a Hammer" é uma canção de música folk composta por Pete Seeger e Lee Hays em 1949. Foi gravada por diversos artistas e tornou-se, na década de 1960, num símbolo na luta do movimento pelos direitos civis

OETER PAUL AND MARY

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE - 17

Donovan foi nos seus inícios a versão inglesa de Bob Dylan. Próximo dos Beatles, desenvolveu um estilo eclético e bem-sucedido, que incorporava folk, jazz, pop, psicodelismo e world music, tendo composto e gravado algumas canções qu forem também grandes sucessos de vendas.

A sua música e poesia transmitia valores de paz, amor e amizade e, por isso, foi muito criticado e excluído dos circuitos musicais na altura do punk, tendo regressado em finais dos anos 90 para voltar a lançar várias canções notáveis.

Pessoalmente adoro "Unsleeping city" incluída no extraordinário álbum "POETAS EN NUEVA YORK" em que músicos de várias línguas cantam poemas de Garcia Lorca.


DONOVAN - ATLANTIS

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE - 16


os animals era um grupo britânico duro com grande influência do rithm and blues americano como vários dos primeiros grupos ingleses dos início dos anos 60. Eric Burdon, o seu fundador foi criando várias formações do grupo que continuou a tocar e a gravar até aos anos 80 e que teve grande influência sobre muitos outros grupos.

THE ANIMALS - THE HOUSE OF THE RISING SUN

sábado, 7 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE -15


Grupo de culto dos anos 60, os Kinks foram uma das mais fantásticas bandas inglesas dos anos 60, com uma sonoridade muito própria e um humor muito especial

TH KINKS - LOLA

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A BANDA SONORA DA MINHA JUVENTUDE - 14

A música de Cat Stevens continua a ter a frescura e a força com que espantou a juventude dos anos 60 em que vendeu mais de 40 milhões de discos.

Depois converteu-se ao islamismo e passou a dedicar-se a actividades espirituais e de beneficência.

É sempre bom vermos alguém entregar-se integralmente aos seus sonhos e ideais mesmo que não sejam os nossos.


CAT STEVES - FATHER AND SON