domingo, 29 de dezembro de 2013
UM CAVALO DE VÁRIAS CORES
Reinaldo Ferreira, filho do famoso Repórter X, nasceu em Barcelona e morreu em Lourenço Marques antes dos 40 anos.
A sua poesia colorida e musical não chegou a ser publicada em vida. Muito referido nos anos 60/70, está agora de novo entregue ao esquecimento, tendo sido em tempos emparceirado, algo exageradamente, com Fernando Pessoa. Muitos dos seus poemas foram cantados por autores como Manuel Freire ou Fausto.
QUERO UM CAVALO DE VÁRIAS CORES
Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva – nimbos e cerros –
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?
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