Durante algum tempo embirrei solenemente com a poesia de António Nobre e com os seus "inhos" todos. Achava-o kitsch, piroso, associava-o àqueles poemas que nos obrigavam a decorar na escola primária nos idos dos anos 50.
Mais tarde, talvez com outra maturidade, comecei a lê-lo de forma diferente e a perceber a emoção de um lirismo levado quase ao limite da lágrima. E creio que ganhei muito com esta mudança. À distância de 150 anos apesar de todas as diferenças, a poesia de Nobre fala-nos ainda de nós portugueses, de como, continuamos iguaizinhos a nós próprios e iguais na relação umbilical à terra, ao sol, ao mar, à humanidade multifacetada que nos fez e continua a fazer.
E veja-se se este soneto não podia quase ter sido escrito hoje ou ontem.
ANTÓNIO NOBRE (1867- 1900)
Quisera ser um grande marinheiro,
Um novo astro entre os milhões de sóis!
Ser de Albuquerque um filho aventureiro,
Pertencer à família dos Heróis!
Ou então ser um simples pegureiro,
Viver, ao Sol, no monte com os bois...
Ou, antes, ser um pescador trigueiro:
Nascer no Oceano e ficar, lá, depois!
Quisera ser “alguém”: para isso creio
Que vim ao mundo, a Humanidade veio,
E à Vida nos lançaram nossos Pais:
Mas o que faço eu, (e o tempo foge),
O que fazemos nós, rapazes d’hoje?
Bebemos e fumamos, nada mais!...
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