segunda-feira, 23 de junho de 2014

AS AVESTRUZES BAILARINAS

AS AVESTRUZES BAILARINAS

(Sobre uma pintura de Paula Rego)


Perderam no ovo
a memória do voar.

As avestruzes.

Têm desejos aerodinâmicos.

Dormem numa febre de sentir
encostado ao peito
o mecânico ruído de turbinas
hélices
motores.

Têm sonhos que nunca confessarão
nem sequer á própria sombra.

Aspiram soluçando à forma das fuselagens.

Perderam no ovo a inclinação
à travessia das nuvens.

Vão dançar a noite inteira
procurando tristemente a memória
de uma estrela de um cometa
ou de uma asa.

(de "Marinheiros de outras luas", a publicar)

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