quarta-feira, 3 de setembro de 2014

PEDRA





Emanuel Félix, poeta açoreano de Angra do Heroísmo, amigo da conversa e do convivio, do petisco e do copo, técnico de restauro de arte sacra, coração do tamanho de um boi.

Partiu ainda cedo, em 1004.

Estive com ele pela última vez numa noite gloriosa em Angra, à volta da mesa, com o Carlos Alberto Moniz, o Vasco Pereira da Costa, o Marcolino Candeias, o Zeca Medeiros.

A sua obra poética é discreta mas tem momentos deliciosos. É daqueles poetas que vale a pena visitar. Com tempo e coração aberto.


PEDRA - POEMA PARA HENRY MOORE

Um homem pode amar uma pedra
uma pedra amada por um homem não é uma pedra
mas uma pedra amada por um homem

O amor não pode modificar uma pedra
uma pedra é um objecto duro e inanimado
uma pedra é uma pedra e pronto

Um homem pode amar o espaço sagrado que vai de um
homem a uma pedra
uma pedra onde comece qualquer coisa ou acabe
onde pouse a cabeça por uma noite
ou sobre a qual edifique uma escada para o alto

Uma pedra é uma pedra
(não pode o amor modificá-la nem o ódio)

Mas se a um homem lhe der para amar uma pedra
não seja uma pedra e mais nada
mas uma pedra amada por um homem

ame o homem a pedra
e pronto


2 comentários:

Mar Arável disse...

De Atalaia

em festa

Sílvia Alves disse...

Um poema lindíssimo! E sólido como uma pedra. Um poeta amável.