BRANCO
(Sobre desenhos de Lagoa Henriques)
Branco é o oceano a beijar os pés da deusa.
Branco o meu olhar caminhando
por ruas onde o peixe vem dizer bom dia
ao meu país.
Branco o arrepio a concha
o búzio.
E a sombra branca do sol
E o fruto sumarento do amor.
Branco é o meu ofício
em frente à pedra ou à palavra,
branco o meu destino branco
entregue à brisa quente
das noites brancas de Junho.
No entanto
devo confessar
que muitas vezes me vesti
de ferro e grito
quando o céu se turvava
de adagas afiadas
e metais sombrios.
Respondi à chamada urgente
de lilases dolorosos
de escarlates abrasivos
de vermelhos palpitantes
de magentas arrancados ao choro dos vulcões.
Aprendi como é indispensável
esconder dentro do peito
os atavios da doçura
quando as botas cardadas
vêm esmagar as nuvens
e a fome acampa
sobre os ombros de esqueletos reduzidos
e o sangue de crianças se mistura
à brasa do fim do dia
Sei também
sei intensamente
que é preciso alguém
que em cada dia
levante o branco e diga o branco
e cante o branco e vista de branco o coração.
Alguém de terra.
Alguém de mar.
Alguém marinheiro de mistérios transparentes.
Alguém que derrame sobre o branco de uma pedra
a sua enorme e branca comoção.
(De "Marinheiro de outras luas" a sair em breve)
sábado, 7 de junho de 2014
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2 comentários:
~
~ Forte e emocionante...
Aguardo o teu branco
com palavras em relevo
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