quarta-feira, 16 de outubro de 2013

AINDA NÃO


Poeta ligado ao Movmento Surrealista e ao grupo do Café Gelo.

Foi funcionário das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian.Andava com as carrinhos a distribuir palavras e emoções pelo país fora.

Um dia, em 1969, suponho, um padre, julgo que armado, tentou impedi-lo pela força de entrar numa aldeia lá pelas Terras do Bouro. Livros eram as portas do conhecimento, do live pensamento, do diabo!

Fez um requerimento (já o li) à Administração da Fundação a pedir o destacamento de uma força da GNR que o acompanhasse e o defendesse do padre para que pudesse cumprir a sua missão de fazer chegar os livros à população.

Não sei se o requerimento terá sido atendido. Mas era giro. Na época teria sido muito giro.



ANTÓNIO JOSÉ FORTE (1931-1988)




AINDA NÃO


Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar

ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem

ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer

ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça

ainda não há camas para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração


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