quinta-feira, 3 de outubro de 2013

ESTACIONAMENTO PROIBIDO


António Rebordão Navarro, poeta do Porto, homem amável e doce. Fomos companheiros numa direcção da SPA nos anos 90. Dava gosto a coversa com ele. Prometi visitá-lo um dia na Foz. Estou em falta. Mea Culpa.

António Rebordão Navarro pertence à geração que começou a escrever e dar a conhecer a sua poesia nos anos 50. Participou nesses tempos numa notável revista de poesia com o nome óbvio de "Notícias do bloqueio".

Pertence àqueles poetas que é bom recordar ou descobrir.

Este "Estacionamento proibido" é mais um caso de um poema escrito há 60 anos mais coisa menos coisa e que está tão actualizado...


ESTACIONAMENTO PROIBIDO


Circulem, senhores, circulem.
Não parem junto aos mortos,
não estacionem no silêncio,
não se detenham ante o sangue.
Circulem, senhores, circulem.
Não interrompam o tráfico,
não deixem de cumprir ordens,
não deixem de ser neutros
e desapiedados.
Circulem, senhores, circulem.
Há muita gente que tem horas,
há muita gente que tem pressa,
há muita gente que deve esquecer.
Circulem, senhores, circulem.
Façam de conta,
fechem os olhos,
tapem os ouvidos.
Circulem, senhores, circulem.
Deviam já estar habituados,
deviam não ter lágrimas,
nem espanto, nem irmãos.
Circulem, senhores, circulem.



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