A minha muito querida amiga Luísa Ducla Soares é uma consagrada autora de literatura para a infância. Coisa menos conhecida, escreve poesia desde jovem estudante.
O poema que aqui vem abaixo foi publicado numa Antologia de Poesia Universitária em 1963.
Ela pertence a uma geração de notáveis poetas, que começaram a fazer ouvir as suas vozes no início dos anos 60 e de que poderia relembrar Maria Teresa Horta, Gastão Cruz, Fiama, António Torrado, Casimiro de Brito, Luísa Neto Jorge, Rui Namorado.
Diz-me a Luisinha ue continua a escrever. Mas tem tudo guardado lá em casa Tenho um dia destes de meter os pés a caminho e ir ter com ela para que nos mostre o que anda pelas gavetas.
LUÍSA DUCLA SOARES (1939)
ESSES
O que trazem a tarde
a estrebuchar rosas,
pela trela,
como um cão,
e põem rosa nas janelas,
nos sorrisos que nos dão.
Os que amassam flores
no pão dos pobres
Os que mascaram de rosas
o não
Os que aos Domingos
dão às crianças
um tostão
Os que têm ninhos
de andorinhas
nos beirais
e chicotes
nos dedos,
sub-reptícias gestapos caiadas
do livor
dos degredos
Os que roubam estrelas
aos olhos da gente
para vendê-las
à socapa
Os que instalam
alto-falantes de riso
na mágoa salina
das costas curvada,
no grito preciso
das raivas sangradas
Os que nos matam de rosas
às punhaladas.
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2 comentários:
Lindo e quão atual!
Quem, muitas vezes, não parece consegue magoar-nos mais que aqueles que o mostram logo.Há homens que são um perigo para o pequeno grupo. Quando conseguem trepar um pouco mais já são um atentado contra um país.
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